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Equilíbrio

Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


Sem expectativas, sem desapontamentos: como se preparar para a decepção

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Imagem: Getty Images

Isabella Abreu

Colaboração para o VivaBem

26/08/2021 04h00

Você já ficou esperando por alguma notícia, mas não parou de pensar que as coisas poderiam dar errado? Ou até mesmo o contrário: esperava que algo fosse seguir determinado rumo, mas os planos foram por água abaixo? Saiba que ambas as situações são completamente normais, o problema é como a gente lida com elas.

Nosso cérebro odeia incerteza, segundo Flávia Ávila, especialista em ciências comportamentais e fundadora da consultoria InBehavior Lab. "Isso acontece porque não temos capacidade cognitiva de prever o futuro e, muitas vezes, esse futuro escapa do nosso controle", diz.

Quando esse futuro é "ruim", ou seja, decepciona, ele não deixa de ser uma forma de aprendizado. A decepção diz que nem tudo irá atender ao nosso desejo e à nossa expectativa, diz a psicóloga Alessandra Silva Xavier, fundadora do curso de psicologia da UECE (Universidade Estadual do Ceará). De acordo com ela, decepcionar-se faz parte do processo de desenvolvimento humano, pois nos permite compreender a existência da realidade, dos outros, e da diferença de que o mundo não se submete à nossa vontade onipotente.

Ainda que possamos aprender a lidar com as tensões, frustrações e encontrar formas mais saudáveis de lidar com a dor e o sofrimento, não temos como evitar sofrer. "Essa seria a manutenção de uma ilusão de controle sobre o mundo, a realidade e as pessoas. A pandemia mostrou que isso não é possível. A vida e o mundo não irão obedecer ao nosso 'planner', por mais bem organizado e planejado que ele possa ser. Existe uma contingência da vida que é o inesperado, o imponderável e que tentamos produzir uma série de estratégias para nos sentirmos protegidos, mas não teremos domínio sobre tudo", enfatiza.

Segundo Xavier, as consequências de não superarmos uma decepção irão depender de como cada um lida com a situação. Em casos mais complexos, pode interferir na dificuldade de confiar, de estabelecer vínculos, na diminuição da autoestima, na manutenção de pensamentos repetitivos e constantes, e na cobrança e culpa de ter feito ou agido de forma diferente. Além disso, pode gerar apatia, dificuldade em enfrentar uma situação semelhante, em elaborar um luto e aceitar a perda, uso abusivo de álcool ou outras drogas para anestesiar ou deslocar a dor, condutas mais intolerantes e agressivas nas relações interpessoais.

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É importante encarar o fracasso como algo natural da vida
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Como não podemos evitar a preocupação, devemos aprender a manipulá-la e utilizar técnicas que diminuam seus efeitos. A seguir, Flávia Ávila lista algumas dicas de como podemos nos preparar para enfrentar decepções da melhor maneira possível.

Pergunte-se se a preocupação ajuda

Às vezes, ficar preocupado ajuda, porque pode deixá-lo mais preparado, diminuindo a ansiedade no longo prazo. Porém, se você já fez tudo o que era possível para influenciar o resultado (a entrevista de emprego já passou, já defendeu seu TCC etc.), ficar angustiado não fará nada bem a você.

Pense em tudo que fará no pior cenário possível

Reúna os recursos necessários para sobreviver à decepção. Pensar com clareza sobre a sua sobrevivência no pior cenário possível pode ajudar. Diga a si mesmo: "Existirão outras oportunidades. Tenho as competências e a experiência necessárias para ser considerado para o trabalho. Portanto, se não conseguir, continuarei tentando".

Modere seu nível de confiança

Não fique superconfiante também. Desconsiderar completamente a possibilidade de falhar pode ser arrasador.

Não fique ensaiando sua desgraça

Sofrer antes de receber a notícia não ajuda, porque não somos muito bons em predizer emoções futuras. Temos a tendência a superestimar a intensidade de sentimentos negativos, imaginando que vamos vivenciar essas emoções por mais tempo do que elas acontecem. Isso é chamado de previsão afetiva. Eventos negativos geralmente acabam sendo menos intensos emocionalmente e os sentimentos ruins duram menos tempo do que imaginamos.

Compense a preocupação com esperança

Há uma frase da autora Maya Angelou, no livro "Eu sei por que o pássaro canta na gaiola", que diz: "Esperar pelo melhor, se preparar para o pior e não se surpreender com nada entre os dois". A tática de se preparar para o pior funciona melhor quando equilibrada com um pouco de positividade, e habilidade de aproveitar e viver o momento presente.

Reavalie o sofrimento previsto

O objetivo da vida não é evitar todos os sentimentos negativos. Encare o fracasso como algo natural, porque ele possibilita reavaliação e aproximação dos objetivos. Mesmo assim, dê a você o direito de ficar triste caso as coisas não funcionem.

Procure se distrair

A dica final é procurar qualquer atividade que faça "diminuir a energia", como correr, meditar, assistir a um filme. Uma das melhores táticas para se preparar enquanto espera é se distrair!

Fontes: Adriana Fóz, mestre em ciências pelo Departamento de Psiquiatria e Psicologia Médica da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo); Alessandra Silva Xavier, psicóloga e fundadora do curso de psicologia da Universidade Estadual do Ceará; Flávia Ávila, especialista em ciências comportamentais e mestre pelo CeDEx (Center for Decision Research) da University of Nottingham na Inglaterra; Yuri Busin, psicólogo, mestre e doutor em neurociência do comportamento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.