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ANÁLISE

3ª dose com e sem CoronaVac e passaporte da vacina: a semana da pandemia

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Imagem: iStock

Bruna Alves

De VivaBem, em São Paulo

27/08/2021 15h53

Queda de braço entre Ministério da Saúde e São Paulo sobre 3ª dose, mortes em queda, variante delta, de novo, e o novo "passaporte da vacina": fique por dentro das notícias mais relevantes da semana sobre a pandemia do coronavírus.

3ª dose vira "ringue" entre Ministério da Saúde e SP

A aplicação da 3ª dose em idosos e imunossuprimidos já tem data para começar: a partir do dia 15 de setembro. O anúncio foi feito essa semana pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. Também a partir desse dia, o ministério diz que vai reduzir o intervalo da aplicação da segunda dose dos imunizantes de Pfizer e AstraZeneca das atuais 12 semanas para 8.

Em entrevista ao UOL News, a secretária extraordinária de enfrentamento à covid-19 do Ministério da Saúde, Rosana Leite, anunciou que a aplicação da dose de reforço no Brasil será feita "preferencialmente" com a vacina da Pfizer.

Ela acrescentou que também poderão ser usadas outras vacinas de vetor viral, como Janssen e AstraZeneca, excluindo completamente a CoronaVac, que é um imunizante de vírus inativado.

Já em terras paulistas, o secretário estadual de Saúde de São Paulo, Jean Gorinchteyn, classificou a decisão como "abominável". O governador João Doria afirma que, nos paulistas, será aplicada a dose de reforço com a vacina que "estiver disponível no momento", inclusive a CoronaVac.

Pesquisadores se mostram temerosos com a decisão de dar a 3ª dose de CoronaVac para idosos. Julio Croda, infectologista da Fiocruz e professor da UFMS (Universidade Federal do Mato Grosso do Sul), citou, no Twitter, um estudo recente que mostra como a eficácia do imunizante chinês é menor para maiores de 50 anos para criticar a decisão de SP.

"Concordo com o Ministério da Saúde no que diz respeito a utilização de Pfizer nos idosos e imunossuprimidos. Essa população apresenta menor resposta em termos de anticorpos neutralizantes e precisamos de uma vacina que possa induzir uma maior resposta", escreveu.

Doria ainda desafiou o órgão federal e disse que a 3ª dose em SP será para os maiores de 60 anos e começa no dia 6 de setembro, ou seja, antes da data federal. Briga política ou verdadeira e genuína preocupação sanitária? Talvez um pouco dos dois.

Discussões à parte, o fato é que alguns estudos têm apontado a necessidade de uma dose de reforço, mas com essa queda de braço entre o Ministério e o governador de São Paulo, os paulistas terão que aguardar um pouco mais para saber qual imunizante irão receber.

No UOL Debate de segunda-feira (23), Margareth Dalcomo, pesquisadora da Fiocruz, ressaltou que a 3ª dose precisa ser aplicada em paralelo com a vacinação atual e em detrimento da vacinação de adolescentes e crianças.

"Ainda colocaria um outro grupo, lembrem-se dos profissionais de saúde, os primeiros que foram vacinados, e hoje nós temos visto muito medo, muita insegurança. As pessoas estão expostas a cargas virais altas dentro de hospitais o tempo inteiro. A imunidade conferida de 6 meses atrás para esse grupo está caindo", alerta Dalcomo. Ninguém falou nada ainda sobre 3ª dose nos profissionais de saúde. Vamos aguardar.

Mortes estão caindo, mas momento requer cautela

Variante continua preocupando autoridades - Pixabay - Pixabay
Variante continua preocupando autoridades
Imagem: Pixabay

O Boletim do Observatório Covid-19, da Fiocruz, do dia 25 de agosto, mostra que a incidência diária de novas mortes por covid-19 no país teve queda de 1,5% ao dia na última semana e chegou a 770 vítimas diárias.

Mas não dá para comemorar, tampouco relaxar as medidas sanitárias básicas, já que, por outro lado, o número de casos de SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave) no Brasil parou de cair, mostra o último Boletim InfoGripe, de ontem (26). A incidência da síndrome é um parâmetro de monitoramento da pandemia de covid-19, uma vez que o Sars-CoV-2 é responsável por 96,6% dos casos virais de SRAG registrados desde 2020.

Inclusive há que se manter alerta porque a variante delta segue em circulação: um novo estudo coreano mostrou que pessoas infectadas com a delta têm uma carga viral 300 vezes maior do que aquelas com a versão original do vírus. Proteja-se e cuide-se.

Pfizer será produzida no Brasil

Em meio ao caos, uma boa notícia: a farmacêutica norte-americana Pfizer anunciou que vai produzir sua vacina contra a covid-19 no Brasil em parceria com o laboratório Eurofarma, que produz medicamentos genéricos.

O imunizante produzido no Brasil será distribuído em toda a América Latina. Será que já vemos uma luz no fim do túnel? Especialistas avaliam que sim.

A expectativa é que o laboratório brasileiro tenha capacidade para produzir mais de 100 milhões de doses por ano, que devem começar a ser entregues em 2022.

E como anda o passaporte da vacina?

Cartão de vacina covid-19 - iStock - iStock
Cartão de vacina covid-19
Imagem: iStock

Essa foi uma novidade que surgiu nos últimos dias. Inicialmente, a Prefeitura de São Paulo disse que seria obrigatório tomar vacina contra a covid-19 para entrar nos estabelecimentos da cidade. A pasta informou que iria lançar um passaporte de vacinação que deveria ser exigido no comércio, serviços e eventos em geral a partir das próximas semanas.

Mas isso não durou muito tempo, nem mesmo um único dia, já que a prefeitura recuou e disse que a exigência só será direcionada a eventos com grande público. Para o comércio em geral, a solicitação da vacinação completa para entrar no local será opcional. Essa ação passará a valer a partir do dia 30 deste mês.

Já a cidade do Rio de Janeiro afirmou que exigirá a comprovação obrigatória da vacinação contra a covid-19 para o acesso e permanência do público no interior de alguns estabelecimentos, realização de cirurgias eletivas e inclusão ou manutenção no programa Família Carioca, de transferência de renda.

A prefeitura já chegou, inclusive, a publicar dois decretos hoje estabelecendo os critérios do "passaporte", que começa a valer em 1º de setembro. O comprovante de imunização pode ser da primeira dose, segunda dose ou de dose única, dependendo do cronograma oficial de vacinação no município. A exigência exclui bares e restaurantes.

Nessa sexta-feira (27), o ministro da Saúde se manifestou contra a medida. Segundo ele, o povo brasileiro "é livre" para poder escolher os métodos de combate ao coronavírus.

"Não ajuda em nada. Somos contra isso. O povo brasileiro é livre, queremos que as pessoas exerçam de acordo com sua consciência", opina.

No UOL Debate de segunda, as especialistas entrevistadas se mostraram totalmente a favor de tal medida: "A gente sempre tenta conscientizar as pessoas através da ciência, dos dados, das coisas mais transparentes possíveis, mas a gente vê que muitas vezes o que realmente funciona é quando você faz medidas restritivas, daí, sim, mexe no dia a dia das pessoas, que se veem quase que obrigadas a ir atrás da vacinação para poder frequentar os lugares", disse Rosana Richtmann, infectologista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo, e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia.

"Coronavírus: o que você precisa saber" é um boletim produzido pela equipe de VivaBem com uma análise rápida das notícias mais relevantes dos últimos dias sobre a pandemia de uma forma simples e prática para todo mundo entender.