O que é síndrome de Estocolmo, debatida em sequestro de Patrícia Abravanel
Resumo da notícia
- A síndrome de Estocolmo ocorre quando uma vítima começa a nutrir algum tipo de sentimento positivo pelo seu agressor
- Não se trata de uma doença, pois ela não é reconhecida como tal pelos órgãos de saúde competentes
- Por esse motivo, não há dados estatísticos a respeito, mas sabe-se que é um quadro raro
Há 20 anos, Silvio Santos e sua filha, Patrícia Abravanel, foram sequestrados. Na época, a reação de Patrícia após ser libertada causou estranheza: deu uma entrevista sorridente e disse que perdoava os criminosos. Ela contou que estava com a Bíblia e que um dos sequestradores escreveu: "Você é a melhor pessoa do mundo". "Eles falaram que Deus era poderoso, que eles não estavam entendendo como não conseguiam colocar a mão em mim", contou.
O discurso foi caracterizado como uma espécie de compaixão pelos criminosos e a síndrome de Estocolmo (quando a vítima se apega ao criminoso) virou debate. Posteriormente, entretanto, a filha de Silvio negou que tivesse sofrido o quadro.
Mas afinal, o que é essa síndrome?
Nomeada pelo psiquiatra e criminalista Nils Bejerot, o termo surgiu em 1973, em Estocolmo, capital da Suécia, quando um banco foi assaltado e algumas pessoas foram feitas de reféns. Ao examiná-las durante o sequestro e após serem libertas, o especialista percebeu que as vítimas haviam desenvolvido uma afeição pelos criminosos. Para se ter ideia, elas chegaram a protegê-los os com os próprios corpos frente à polícia.
De acordo com Vanusa Vaz, psiquiatra da Clínica Holiste (BA), a síndrome é caracterizada por um estado psicológico singular, em que uma pessoa que fora vítima de alguma situação crítica e perigosa (como um sequestro, assalto, entre outras) estabelece uma relação de afeto com o agressor/criminoso. "A vítima estabelece uma relação psicológica dependente", diz a especialista, além de ressaltar que isso acontece de maneira inconsciente, como uma forma de defesa.
Essa síndrome não é uma doença e nem um distúrbio, pois não se encontra na CID-10, que é a Classificação Internacional de Doenças, nem no DSM-5, que é o Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. "Mas com o aumento da divulgação de casos de violência doméstica, psicológica e até de relacionamento abusivo, tem se amplificado esse tema, gerando mais estudos sobre o assunto", diz Vaz.
Ainda assim, não há dados estatísticos sobre a prevalência do quadro, que ainda é considerado raro.
Por que ela surge?
A explicação para alguém sentir compaixão na hora de uma situação agressiva estaria na reação do criminoso. "Pequenos atos agradáveis ou de doçura da parte do bandido, faz com que a vítima comece a desenvolver essa espécie de gratidão primitiva, assim como uma criança dependente", diz Luiz Scocca, psiquiatra pelo Hospital das Clínicas da USP (Universidade de São Paulo), membro da APA (Associação Americana de Psiquiatria).
"É como se a vida da pessoa tivesse sido dada pelo agressor, que está permitindo que ela continue vivendo. Elas entram num estado de negação mesmo, e não percebem que estão naquela situação por causa do abusador", completa o especialista.
Após a situação, a vítima segue tendo sentimentos pelo agressor?
Isso vai depender da personalidade de cada um, mas há casos em que os sentimentos perduram por muitos anos. E vale lembrar que essa pessoa passou por um trauma ou estresse muito grande, mesmo que ela não identifique dessa forma.
"As pessoas não se identificam com a síndrome, não aceitam que passaram por um estado ilusório que a própria mente criou", explica Scocca. Por isso, é fundamental que haja acolhimento, bem como um tratamento psicológico, como a psicoterapia, que ajuda em quadros ansiosos ou depressivos.
Mas caso seja identificado uma intensificação do quadro (por exemplo, a pessoa insiste em ficar próxima de seus agressores), é preciso buscar ajuda psiquiatra para lidar com a síndrome.
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