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Saúde mental: jovens foram os mais afetados pela pandemia, mostra estudo

martin-dm/iStock
Imagem: martin-dm/iStock

De VivaBem, em São Paulo

01/09/2021 12h00Atualizada em 01/09/2021 19h04

Com a chegada da pandemia, sintomas de ansiedade, tristeza e quadros relacionados à saúde mental foram intensificados. Após um ano e meio, pesquisas começam a mensurar o impacto dos acontecimentos, como o levantamento inédito do Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria), feito a pedido da Pfizer Brasil, divulgado hoje (1º), que mostra que entre os brasileiros, a saúde mental dos jovens entre 18 e 24 anos foi mais afetada.

E não à toa a pesquisa foi divulgada hoje, setembro é o mês de combate e prevenção ao suicídio no Brasil, chamada de Setembro Amarelo —o sofrimento mental está profundamente ligado aos casos de suicídio. O mês foi escolhido para a campanha porque, desde 2003, o dia 10 de setembro é o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio.

Metade dos respondentes de 18 a 24 anos classificou sua saúde mental durante a pandemia como ruim (39%) ou muito ruim (11%). Esse percentual ficou acima da média geral, de 5% e 25%, respectivamente.

O levantamento "Saúde Mental na Pandemia", que foi realizado online em agosto deste ano, entrevistou 2.000 homens e mulheres (de 18 anos ou mais) na cidade de São Paulo e nas regiões metropolitanas de Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba e Salvador.

Em geral, os cinco sintomas mais relatados pelos participantes (de todas as idades), foram: tristeza (42%), insônia (38%), irritação (38%), angústia e/ou medo (36%), além de crises de choro (21%).

"Este é um cenário que vem sendo apontado desde março de 2020 e, por isso, merece acompanhamento diário de todos nós, já que continuamos no enfrentamento da pandemia. Obtivemos muitos avanços com o desenvolvimento e com a aplicação da vacina, mas sabemos que precisamos olhar para o corpo e para a mente já que a covid-19 causou e causa marcas em todos nós", explica Márjori Dulcine, diretora médica da Pfizer Brasil.

Diagnóstico e tratamento

Dos entrevistados, 21% chegaram a procurar ajuda profissional no período, sendo que 11% estão em acompanhamento especializado. Ansiedade e depressão lideram a relação das condições diagnosticadas de forma mais recorrente, em que também aparecem doenças como a síndrome do pânico e a fobia social.

Além do relato dos próprios respondentes, questionados se conheciam alguém que foi diagnosticado com algum problema relacionado à saúde mental durante a pandemia, 46% disseram que sim, mostrando que os quadros se repetem nos círculos sociais.

"Esses dados, infelizmente, representam a escalada assustadora dos agravos à saúde mental que vêm ocorrendo nas últimas décadas em nosso país, e que foi alavancada pela pandemia. Nesse sentido, esses índices colocam as estratégias para ampliação dos cuidados em saúde mental como prioridade inegável. Devemos concentrar esforços para oferecer diagnósticos mais precoces e tratamentos adequados. Mais do que isso, devemos desenvolver e implementar ações efetivas de prevenção. Essas ações são de responsabilidade não só do poder público e das entidades dos profissionais ligados a saúde mental, mas também de toda a comunidade, começando pela diminuição do estigma relacionado aos transtornos mentais", diz Michel Haddad, psiquiatra do HSPE/Iamspe (Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual de SP) e pesquisador do departamento de psiquiatria da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

Dos entrevistados que foram diagnosticados ou fizeram algum tratamento desde o início da pandemia causada pelo novo coronavírus, 31% têm seguido tratamento com profissional de forma presencial e 17% por consultas online, além disso, 29% afirmam estar com medicação de prescrição.

Alguns dos participantes também compartilharam formas não medicamentosas de atenuar o impacto psicológico: 56% responderam que fazem algum tipo de atividade para melhorar sua saúde mental, sendo a prática de exercícios físicos regulamente ao ar livre (19%) ou em casa (18%) e a leitura de livros (17%), as mais citadas.

Entre os canais informativos sobre o tema, as redes sociais foram apontadas como o principal por 22%, enquanto veículos de comunicação (rádio, TV, revista, jornal e internet) e profissionais de saúde foram por 17%, cada um.

O que causou os sintomas?

Quatro em cada cinco respondentes (79%) declaram que a pandemia impactou sua saúde mental de alguma forma, e se engana quem pensa que apenas fatores relacionados diretamente à covid-19 foram os responsáveis. A situação financeira difícil ou o acúmulo de dívidas preocupou a maioria (23%) das pessoas ouvidas durante a pesquisa.

Esse receio é equilibrado entre as cinco regiões pesquisadas. Curitiba teve o índice de 26%, seguida por São Paulo e Rio de Janeiro com 23%, Salvador com 22% e Belo Horizonte com 21%. Porém, é possível observar que essa preocupação foi maior entre os mais jovens, sendo citado por 26% daqueles que têm de 18 a 24 anos, 24% entre os de 25 e 44 anos, por 22% na faixa de 45 a 54, chegando a 19% entre os respondentes com 55 anos ou mais. Na sequência, apareceram o medo de pegar covid-19 (18%) e a morte de alguém próximo (12%).

Assim como a apreensão com a situação financeira, esses últimos também foram relatados majoritariamente pelas mulheres. Duas condições relacionadas ao suicídio —ansiedade (16%) e depressão (8%)— lideraram os relatos dos entrevistados sobre os diagnósticos mais recorrentes na pesquisa.

De acordo com a ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), transtornos mentais como esses estão relacionados a aproximadamente 96,8% dos cerca de 12 mil casos anuais de suicídio no Brasil.

No levantamento, 35% dos respondentes afirmaram conhecer alguém que tirou a própria vida, independentemente do diagnóstico de uma condição associação à saúde mental. E são 73% aqueles que reconhecem as campanhas informativas e de conscientização como uma das formas de reduzir o preconceito em relação aos transtornos mentais, bem como a criação de programas escolares que discutam o assunto desde cedo com as crianças, apontado por 63%.

Não às fake news

A pesquisa "Saúde Mental na Pandemia" também demonstrou que a maioria dos brasileiros tem clareza do que é verdadeiro e falso sobre saúde mental:

  • 97% afirmaram que problema de saúde mental não é frescura
  • 79% acreditam que as doenças relacionadas à saúde mental são silenciosas e de difícil identificação sem ajuda médica
  • 86% reconhecem não ser possível resolver sozinho um problema de saúde mental
  • 84% entendem que as doenças relacionadas à saúde mental não atingem necessariamente mais idosos do que adultos e jovens
  • 90% discordam da crença de que suicídio só acontece com pessoas de personalidade fraca

Caso você esteja pensando em cometer suicídio, procure ajuda especializada como o CVV e os CAPS (Centros de Atenção Psicossocial) da sua cidade.

O CVV (https://www.cvv.org.br/) funciona 24 horas por dia (inclusive aos feriados) pelo telefone 188, e também atende por e-mail, chat e pessoalmente. São mais de 120 postos de atendimento em todo o Brasil.