Após perder o filho, ela encontrou no exercício uma forma de lidar com luto
Flora Paulita, 28, atriz, dubladora e diretora de dublagem, sempre praticou atividade física desde pequena para gastar energia e, desde então, sentiu os benefícios da prática. Após perder seu filho, encontrou no exercício uma forma de lidar com o luto e suspender os remédios da depressão. Abaixo, ela conta como o exercício não precisa estar ligado a um corpo fitness.
"Desde muito pequena comecei a praticar atividade física. Minha mãe sempre dizia que eu precisava estar em movimento porque tinha muita energia para gastar. E, de fato, sempre senti os benefícios desde nova. Cheguei a jogar futebol, fazer ginástica olímpica e ballet. Adorava aprender novos esportes e era incrível o quanto me ajudava a ter mais atenção, foco e responsabilidade.
Conforme fui ficando mais velha, comecei a perceber o quanto a prática de exercícios também impactava na minha saúde mental. Na adolescência, desenvolvi um distúrbio alimentar e as fases mais difíceis para mim foram justamente as que não estava praticando nada.
Demorei anos para entender que tinha bulimia, pois associava esse comportamento a uma 'manobra mais fácil' para emagrecer. Foi só depois de começar a terapia que entendi mais sobre esse distúrbio.
Na época, tinham blogs que ensinavam a ser anoréxica e bulímica, mas com o passar do tempo eles sumiram e em compensação veio a onda das musas fitness no Instagram, que também começaram a me dar vários gatilhos.
Via as blogueiras que postavam às 6h da manhã que já tinham treinado e me sentia péssima. Aí ficava em jejum, sem comer, porque não tinha feito exercício naquele horário. Quando dei por mim, estava revivendo os anos 2010 sem perceber, já que essas postagens não eram tão explícitas quanto os blogs de distúrbios alimentares.
Bem nessa época fiquei parada um tempão. Minha irmã começou a buscar companhia para treinar em uma academia perto de onde morávamos e resolvi ir. Minha vida mudou. Virei amiga da coordenadora da academia e ela me mostrou como era legal fazer spinning e musculação, o prazer de praticar esses esportes que não são feitos em grupo.
Desde então, sempre mantive a prática de atividades físicas como uma forma de deixar a minha saúde física e mental em dia. Em 2018, engravidei e, quando entrei em trabalho de parto, fui para o hospital. Ao chegar lá, os exames mostraram que o Caetano não estava mais vivo. Como ele estava encaixado, consegui ter meu filho de parto humanizado, como tinha planejado, mesmo o hospital tentando empurrar uma cesárea.
Pude ficar com meu filho no colo o tempo que quis, me despedi dele fisicamente com todo o apoio, graças a equipe maravilhosa que estava comigo. A verdade é que se fala muito pouco de perda gestacional. As pessoas tratam esse luto como se fosse algo raro, mas não é. Por conta disso, as mulheres se sentem sozinhas. E aí começam a achar que são exceção, que falharam e tem culpa sobre isso.
Depois que comecei a falar abertamente sobre isso, descobri várias tias e amigas que perderam bebês, outras que estavam tentando engravidar há anos. Vi a importância de abordar o tema para que todas se sintam acolhidas.
Logo que perdi o Caetano, entrei na depressão mais profunda da minha vida. Tinha uma depressão que estava controlada, ansiedade e o distúrbio alimentar, mas foi um período ainda mais difícil para mim. Logo voltei para a terapia e também fui encaminhada para um psiquiatra.
Comecei a tomar remédios e senti muita dificuldade de me adaptar. O que regulava meu pânico, me deixava com sono. Já o da ansiedade me deixava deprimida ou tirava totalmente minha fome. Comecei a entrar em uma crise que ficaria dependente desses remédios para sempre.
Nisso, voltei a praticar atividade física e também retornei para o teatro. Enquanto pedalava ou fazia musculação, começou a cair várias fichas sobre o luto que estava passando. O teatro também me ajudou a movimentar o meu corpo e ajudou a transformar a exaustão física em palavras. Até participei de um espetáculo.
Foi quando vi que não fazia sentido seguir com a medicação e, com o apoio do meu médico, optamos por seguir com a terapia e outros tratamentos alternativos, sendo a atividade física uma delas.
Quando a pandemia começou, comecei a adaptar alguns treinos em casa. Não me sinto segura para ir treinar nem na academia do prédio. Então aluguei uma bike e gosto de pedalar logo que acordo, mas sem aquela obrigação de ser todo dia.
Todos os meus planos com meus amigos após o fim da pandemia estão conectados com esporte: jogar vôlei, futebol, ir em uma parede de escalada, andar de bicicleta e de skate. O mais legal é que nada disso é forçado. Não tenho um estilo de vida/corpo fitness para praticar exercício.
Como comida de verdade, mas fumo e não estou dentro do padrão de beleza da magreza. Mas mesmo assim o esporte salva o meu psicológico. Sinto menos angústias e ansiedades, e quando acabo ficando sem treinar, fico com a energia mais baixa, um sono ruim...
Hoje, estou 20 quilos acima do meu peso de quando postava fotos marombas na academia, mas minha cabeça está saudável e em paz. Hoje, entendo que o esporte é meu amigo e não um sabotador. Tenho consciência que a prática de exercício me ajuda para várias coisas e não para me deixar com um corpo x ou y.
Hoje, minha consciência é totalmente diferente. Meu corpo é único, ele abrigou meu filho e mantendo a saúde em dia eu o amo como ele é!"
Exercício é remédio
Essa reportagem faz parte da campanha de VivaBem Exercício É Remédio, que quer ressaltar a importância da atividade física para a saúde e dar dicas e ideias para combater o sedentarismo.
Os conteúdos abordam a importância da atividade física para prevenir e tratar doenças, os sinais que o seu corpo dá quando você não se mexe o suficiente, dicas para tornar o exercício um hábito, além de descobrir qual mais combina com você, cuidados essenciais para começar a se movimentar, inclusive na terceira idade e relatos inspiradores de pessoas que trataram questões sérias de saúde com atividade física. Mas tem muito mais. Confira todo o conteúdo da campanha aqui.
Essa é a terceira campanha de uma série de VivaBem que tem trazido conteúdos temáticos para auxiliar no combate a problemas que muitas pessoas enfrentam no dia a dia e contribuir para que você tenha mais saúde e bem-estar.
A primeira foi Supere a Depressão Pós-Parto, realizada em março; e a segunda foi Tenha Uma Boca Saudável, em junho.
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