'Gordo ativo' ou magro sedentário: por que a comparação não faz sentido?
Responda rápido: é melhor estar acima do peso e praticar exercícios físicos de forma regular ou estar em dia com a balança, mas ser um assíduo frequentador do sofá da casa?
Se você respondeu a segunda opção, saiba que não está sozinho: por questões culturais, estamos acostumados a associar magreza com saúde, o que nem sempre é verdade. Mas, por outro lado, se você acha que fazer exercícios regularmente deixa quem está acima do peso livre para comer besteiras à vontade, sem se preocupar com a saúde e a gordura corporal, está enganado também.
Por incrível que pareça, não há escolha boa nessa comparação. "É como pedir para escolher entre ser diabético ou hipertenso", afirma Inês Remígio, cardiologista do Hospital das Clínicas da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), que faz parte da Rede Ebserh. "É uma comparação ruim, pois nenhuma das duas opções é boa e ambas apresentam riscos reais para a saúde", alerta.
Obviamente, se alguém com quilos a mais decide se exercitar, isso é positivo e deve ser mantido. "Mas não é suficiente", explica Eudes Godoy, cirurgião bariátrico e metabólico do Hospital Universitário Onofre Lopes, da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), que também faz parte da Rede Ebserh. "É preciso controlar outros fatores de risco, como alimentação, estresse e herança familiar", diz ele, que completa: "O melhor mesmo é ser alguém sem excesso de peso e ativo."
Riscos para ambos
A associação entre magreza e saúde não é nova e ainda é bastante perpetuada. É comum encontrarmos pessoas que acreditam que um corpo dentro dos padrões estéticos atualmente aceitos está automaticamente saudável e sem riscos de desenvolver doenças ligadas à obesidade, como problemas cardiovasculares, diabetes e hipertensão. Mas isso não é verdade.
"Um indivíduo magro pode ter pouca massa magra e mais gordura no corpo, uma herança hereditária problemática, uma alimentação ruim e se estressar muito, por exemplo", avalia Godoy. "Tudo isso o coloca em risco", alerta.
Por outro lado, é importante dizer que uma pessoa com sobrepeso ou obesa e que pratique atividade física também não está livre de ter problemas —mesmo que indicadores clínicos como nível de colesterol, triglicérides e pressão arterial estejam satisfatórios.
"Esses números podem mudar ao longo da vida", avalia o especialista. "Hoje sabemos que o excesso de peso coloca o indivíduo dentro do grupo de risco para doenças cardiovasculares e diabetes, sendo ele ativo ou não", afirma.
E esses não são os únicos problemas. A obesidade também pode causar apneia do sono e problemas de mobilidade. "O sobrepeso por si só já afeta as articulações do corpo, sobrecarregando essas áreas e aumentando o risco de doenças ortopédicas", afirma a endocrinologista Lorena Lima Amato, professora de Clínica Médica/Endocrinologia da Faculdade de Medicina da Universidade Nove de Julho, em São Paulo.
Busca por saúde, não forma física
Uma ressalva importante precisa ser feita. Por questões também culturais, estamos acostumados a pensar que são gordas pessoas que estejam fora do tal padrão magro —como quem tem o quadril largo ou coxas grossas. Isso é um erro, pois o que define a obesidade e o excesso de gordura corporal não é a forma do corpo ou o peso na balança, mas sim a composição corporal (percentual de massa magra e massa gorda).
"Uma pessoa pode ser esteticamente magra, mas ter uma porcentagem de gordura muito alta, o que é péssimo", explica Diego Leite de Barros, fisiologista do Hospital do Coração - HCor e diretor executivo da DLB Assessoria Esportiva. "Por outro lado, outro indivíduo pode ter um peso alto, mas ter majoritariamente massa magra (músculos), o que não é ruim", diz.
Há ainda outro fator importante a ser analisado: a localização da gordura. Pessoas consideradas magras, mas com uma "barriga de chopp" —ou seja, o "falso magro", com excesso de gordura visceral —apresentam risco aumentado para desenvolver doenças como diabetes tipo 2, pressão alta e até alguns tipos de câncer, como de mama e cólon.
Por isso, na avaliação, os médicos também levam em conta a medição da circunferência abdominal para saber a quantas anda a saúde do paciente. No Brasil, estabelece-se, no máximo, 80 cm para mulheres e 94 cm para homens.
"Uma coisa não compensa a outra", diz Godoy. "É o conjunto de atitudes que vai nos trazer mais qualidade de vida ao longo dos anos", afirma.
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