Cérebro de psicopatas é semelhante ao de pessoas saudáveis, sugere estudo
Será que o cérebro de um psicopata é parecido com o seu? De acordo com um novo estudo, a estrutura e funcionalidade do órgão de ambos são, sim, bem semelhantes. O resultado foi publicado em 9 de abril deste ano, no periódico Cerebral Cortex.
A psicopatia é considerada uma forma extrema do transtorno de personalidade antissocial, com falta de empatia e características egoístas e desinibidas do indivíduo. Entretanto, esses traços também são comuns, embora menos marcantes, em pessoas saudáveis, sem transtornos psicológicos, conforme concluiu o estudo observacional da Finlândia.
Como o estudo foi feito?
- Os cientistas analisaram o cérebro de 100 pessoas sem o transtorno, com bom funcionamento cerebral. Para comparação, incluíram 19 criminosos violentos, do sexo masculino, da Finlândia, e um grupo controle de 19 pessoas também psicopatas criminais.
- A estrutura do cérebro dos participantes foi medida com imagens de ressonância magnética.
- Eles assistiram a filmes violentos e não violentos, enquanto sua atividade cerebral era monitorada com imagens da ressonância.
Os principais resultados do estudo
Entre os criminosos, a densidade das áreas cerebrais envolvidas no controle cognitivo e na regulação da emoção foi comprometida. Ao assistir a filmes violentos, essas áreas mostraram reações mais fortes em psicopatas.
Em uma grande amostra de participantes saudáveis, traços relacionados à psicopatia foram associados a mudanças semelhantes na estrutura e função do cérebro. Ou seja, quanto mais características psicopáticas uma pessoa tinha, mais seu cérebro se assemelhava aos cérebros de criminosos psicopatas.
Mudanças estruturais e funcionais no cérebro foram focadas nas áreas envolvidas nas emoções e sua regulação. As mudanças na atividade e na estrutura dessas áreas, inclusive, podem explicar a insensibilidade e a impulsividade associadas à psicopatia.
O estudo também mostrou que o grau de características psicopáticas pode variar na população em geral. Ter "um pouco" desses traços não causa grandes problemas, mas, para cerca de 1% da população, a psicopatia é tão forte que pode levar a um comportamento criminoso e violento.
Os pesquisadores ressaltam que estudar criminosos é difícil, mas o resultado traz informações relevantes sobre a neurobiologia da violência e agressão, além de dados importantes sobre a psicopatia. No entanto, mais estudos, principalmente de causa e efeito são necessários.
É possível reconhecer um psicopata?
Não é tão simples assim. O diagnóstico de psicopatia não é fácil de ser alcançado. "Algumas características são bastante evidentes, mas outras são mascaradas", explica Antônio de Pádua Serafim*, coordenador de psicologia do Núcleo Forense do IPq do HC-FMUSP (Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).
"Eles são mestres em se adaptar à realidade do ambiente em que vivem para conseguir o que querem", diz. Por isso, estudos com biomarcadores podem ser um diferencial nesse diagnóstico.
De acordo com o especialista, algumas características, quando aparecem de forma constante, são indícios do transtorno. Ausência de remorso e empatia, tendência a manipular tudo e todos para benefício próprio, dificuldade de manter uma rotina, egocentrismo, impulsividade e gosto por comportamentos arriscados são indícios de que algo pode estar errado.
Isso quer dizer então que, se meu parceiro me manipula diariamente ou se meu chefe é frio e calculista com a equipe, então eles são psicopatas? Nem sempre.
"Algumas pessoas são mais frias, outras são menos empáticas, mas esses são traços de uma personalidade", explica Serafim. "A psicopatia só é constatada quando esses traços são constantes e, mesmo assim, o diagnóstico só pode ser feito por um médico especializado", reforça.
Também é importante ressaltar que a maioria dos psicopatas não se torna violento ao ponto de cometer crimes bárbaros.
* Informações de reportagem publicada no dia 05/09/2019.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.