Dá para ouvir seus áudios no 2x? Quando falar rápido é um problema sério
Quando o WhatsApp começou a permitir que ouvíssemos os áudios em uma velocidade até duas vezes maior, virou uma febre: todo mundo começou a testar as vozes dos amigos e colegas em todas as velocidades. E, quase como efeito colateral, percebemos que era simplesmente impossível ouvir as falas de algumas pessoas (às vezes até as nossas mesmo!) na velocidade máxima.
Mas antes que você pense que está lendo um texto de Tilt e não de VivaBem, saiba que essa reportagem é sobre um questionamento: será que falar rápido demais, a ponto de não conseguir entender o que é dito em velocidade aumentada, pode ser patológico?
Se você consultar o CID-10 —código para classificar doenças—, dentro da categoria "Outros transtornos comportamentais e emocionais com início habitualmente durante a infância ou a adolescência" encontrará o F98.6 - Linguagem precipitada, também chamado de taquifemia.
Mas será que toda fala rápida é um problema?
De acordo com a fonoaudióloga Elisabeth Cavalcanti Coelho, do Hospital das Clínicas da UFPE (Universidade Federal do Pernambuco), unidade vinculada à Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares), as pessoas são singulares e existem diversas razões para uma pessoa falar muito rápido.
"Cada um é um e a fala expressa muito das características pessoais, e você pode ver que pessoas mais aceleradas tendem a apresentar uma fala mais acelerada também, e vice-versa. Mas isso não deve, por si só, constituir um problema", considera a especialista.
Na realidade, só será algo a se preocupar se há consequência no seu dia a dia. "Normalmente a pessoa se incomoda quando começa a ter dificuldades no trabalho ou em outros ambientes de convívio, com pedidos para ela falar devagar ou reclamações de que não é possível entender o que ela diz", pondera a fonoaudióloga Cristiane Romano, coordenadora do curso de oratória da PUC-MG (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais).
E mesmo que a pessoa nunca tenha recebido esse feedback, ela pode sozinha se incomodar com sua forma de falar e ir atrás disso.
Afinal, o que é taquifemia?
Aqui é importante fazermos uma pontuação importante: apenas falar rápido não é sinônimo de taquifemia. Para ser considerado taquifêmico é preciso apresentar mais sintomas: "dificuldades para entender o que se lê, vocabulário reduzido, alterações nas articulações da fala, entre outros", enumera a fonoaudióloga Mariana Hipolyto, coordenadora da equipe de fonoaudiologia no Iperba (Instituto de Perinatologia da Bahia).
Além disso, quem tem esse quadro pode apresentar também troca de letras ou fonemas e dificuldades sintáticas (na construção das frases).
Quem apresenta esse quadro normalmente não possui consciência dos problemas na sua fala e acaba percebendo isso ao longo da convivência em grupo, normalmente na vida adulta. "No entanto, hoje vemos mais professores e até pais preocupados e atentos à comunicação das crianças, o que pode resultar em um diagnóstico mais precoce", pondera Romano.
Ela pode ser confundida com outros dois problemas na fluência da fala:
- Taquilalia: que consiste na aceleração da fala, mas sem os outros sintomas já mencionados da taquifemia;
- Gagueira: distúrbio caraterizado por intenso sofrimento interno, acontecem hesitações, prolongamentos e bloqueios na fala.
"O sujeito com gagueira, muitas vezes, fala de forma acelerada para se ver livre do ato de fala, ou para camuflar a gagueira", frisa Coelho.
De qualquer forma, a melhor maneira de ter um diagnóstico correto é buscando a ajuda de um fonoaudiólogo que observará sua fala, ouvirá sua história e com isso conseguirá entender melhor o que pode estar levando a essas dificuldades na hora de se expressar.
Falar rápido demais tem tratamento?
Com tratamento adequado, normalmente feito com um fonoaudiólogo especializado em questões de oratória e fluência, o taquifêmico pode conquistar uma clareza maior do discurso e uma cadência melhor da fala, conseguindo chegar a 120 a 150 palavras por minuto, o ritmo da fala considerado normal, conforme explica Romano.
"O objetivo do tratamento fonoaudiológico será atingir melhor comunicação, aumentando a inteligibilidade da fala a partir da redução da velocidade e das hesitações/disfluências, com estratégias e ferramentas definidas para cada caso específico", explica Coelho.
Normalmente, o tratamento consiste em uma série de exercícios de fluência, fora ouvir gravações de você mesmo falando, para ter consciência dos possíveis problemas, e treinar a respiração e até mesmo relaxamento. E isso pode ser feito não só para o taquifêmico, como também para qualquer outra pessoa que está incomodada com seu ritmo de fala, mesmo sem um diagnóstico patológico.
"É interessante, inclusive, procurar algum profissional que tenha uma especialização nos fatores emocionais da fala e tentar entender se essa aceleração está ligada a alguma questão na infância, por exemplo", ressalta Romano.
Ela exemplifica que muitas vezes a criança pode começar a falar rápido por ver os pais com uma rotina acelerada ou com pouco tempo para ouvir o que ela tem a dizer. É comum também que o tratamento conte até com a ajuda de um psicólogo.
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