Menino de 10 anos morre por miocardiopatia hipertrófica; entenda a doença
Um menino de 10 anos morreu, no último fim de semana, após sofrer um mal súbito causado por uma doença silenciosa chamada miocardiopatia hipertrófica assimétrica.
Morador de Cubatão, no litoral paulista, Nicollas Rafael passou mal enquanto brincava com amigos. Ele ainda pediu água antes de desmaiar e, em seguida, foi socorrido pelos responsáveis. Pouco depois de chegar ao hospital, porém, a morte foi constatada.
O que é miocardiopatia hipertrófica assimétrica?
É uma doença cardíaca que atinge o septo, que fica localizado numa região do músculo que divide o coração em diferentes cavidades, por onde passam terminações elétricas, responsáveis pelo controle do ritmo cardíaco.
"Hipertrófica quer dizer que existe um espessamento do músculo cardíaco, responsável por aquela divisão em cavidades. Então essa região que a gente chama de septal ou septo tem uma tendência genética de crescer e ficar bem musculosa, por isso hipertrófica", esclarece Edmo Atique Gabriel, cardiologista e colunista de VivaBem.
O especialista explica que esse crescimento afeta as fibras musculares que passam exatamente nessa região do septo e faz com que a pessoa tenha risco de arritmias cardíacas muito graves, inclusive de morte súbita, como foi o caso da criança.
A miocardiopatia hipertrófica pode ser congênita, isto é, nasce com a pessoa, geralmente por fatores genéticos ou relacionados com a própria gestação, que causam algum tipo de má formação no órgão.
Mas também há casos em que a pessoa desenvolve a doença já na fase adulta, por uma série de fatores como utilização de hormônios ou o consumo de componentes proteicos em grandes quantidades, excesso de atividades físicas, entre outros.
A hipertrofia pode ser simétrica (uniforme), que atinge todas os segmentos do coração —ou assimétrica, que atinge um determinado segmento.
"Normalmente ocorre mais na região do septo muscular, e por ser assimétrica, causa um desequilíbrio na contração do coração, prejudica o fluxo sanguíneo das válvulas e pode causar arritmias também", descreve Gabriel. "Por isso que essa costuma ser mais fatal", acrescenta.
De acordo com o Ministério da Saúde são dez casos a cada mil nascidos vivos e não há como prevenir. Na apresentação grave da doença, após o nascimento, ela pode ser responsável por 30% dos óbitos no período neonatal.
Mas vale ressaltar que ela tende a se manifestar entre os 20 e 40 anos de idade e pode ser diagnosticada com exames de rotina, como o ecocardiograma.
De acordo com Gabriel, esportes ou atividades físicas, sobretudo as aeróbicas, podem ser um gatilho para o problema. Em adultos, a prevenção pode ser feita com mudança no estilo de vida e alimentação adequada.
Entre os sintomas mais comuns estão:
- Palpitação; coração constantemente acelerado;
- Sensação de batimento cardíaco desorganizado;
- Tontura;
- Visão turva;
- Cansaço excessivo;
- Desconforto no peito.
Se você está com esses sintomas, não deixe de procurar um médico, pois são claros sinais de problemas cardíacos.
Tratamento
Há duas maneiras de tratar o problema: a mais convencional é uma cirurgia complexa no septo do coração para tentar diminuir a hipertrofia. No entanto, há riscos no pós-operatório, como arritmias e insuficiência cardíaca.
Feita essa cirurgia, o paciente precisa ficar internado, no mínimo, entre sete a dez dias. A recuperação completa demora três meses.
A outra opção, que também é cirúrgica, porém, menos invasiva, é o implante de um tipo de marcapasso, que fica com uma parte encaixada no coração e a outra embaixo da pele. Esse aparelho regula o batimento cardíaco.
"No caso dessa doença específica, você tem que usar um desfibrilador, que é um marcapasso, só que mais sofisticado. Ele tem uma função complementar que consegue perceber que o coração está entrando em arritmias mais graves, e evita que elas se transformem numa parada cardíaca", explica o médico, complementando que trata-se de um aparelho caro.
No entanto, o paciente demora no máximo dois dias para voltar para casa, e 15 dias de repouso é o suficiente para a recuperação. Por outro lado, o desfibrilador funciona a base de uma bateria que, normalmente, precisa ser trocada, em média, entre oito e dez anos.
Além disso, visitas periódicas ao cardiologista são essenciais para confirmar o bom funcionamento do aparelho. O paciente também precisa ser mais cauteloso, e tomar cuidado para não machucar ou agredir a região.
"Também utilizamos esses métodos nas crianças, mas tentamos postergar a cirurgia ao máximo e otimizar medicamentos", diz o cardiologista. "Esse aparelho é a única possibilidade de salvar alguém com essa doença de um risco de morte súbita fazendo esporte", conclui.
*Com informações da reportagem publicada em 03/06/2021.
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