A dose de reforço contra a covid-19 já é uma realidade. E a resposta para a pergunta do título, já adiantamos, está longe de ser conclusiva, já que os próprios especialistas consultados pela reportagem pensam diferente entre si: não há unanimidade.
No estado de São Paulo, idosos e imunossuprimidos já podem se vacinar novamente com os imunizantes que estiverem disponíveis, incluindo CoronaVac. Diferentemente do que recomenda o Ministério da Saúde, que recomendou AstraZeneca e Pfizer para esse público.
Alguns pesquisadores criticam o uso da CoronaVac como uma das opções, como Gonzalo Vecina Neto, médico sanitarista e ex-presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
Na opinião do médico, o público selecionado deveria receber dose de reforço de um imunizante diferente ao que já recebeu nas primeiras aplicações. "Acho ruim usar a CoronaVac como dose de reforço (...) É uma vacina boa, adequada e que protege, mas não provou a eficácia acima de 60 anos", comentou em entrevista ao UOL em 6 de setembro.
De fato, dados já mostraram que após seis meses, a imunidade induzida pela CoronaVac diminui em idosos.
Para o infectologista Alberto Chebabo, diretor da divisão médica do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), não há pesquisas suficientes para que a vacina seja indicada para o reforço.
"Dados mostram que para idosos têm uma resposta pior —o que não é surpresa. Com a vacina de vírus inativado já se sabe que idosos têm pior resposta, como é com a vacina da gripe. Só que a da gripe é feita de forma sazonal, então essa perda de efetividade não é um problema. O vírus para de circular, o que não acontece com o Sars-CoV-2."
Isso não quer dizer, reforça o médico, que ela é mais fraca do que as outras. "Tem efetividade boa, se mostrou bastante útil. No início do ano, não tínhamos outras e ela salvou muitas vidas, especialmente de idosos."
Atualmente, o Ministério da Saúde está conduzindo um estudo que deve trazer respostas sobre a eficácia da CoronaVac na terceira aplicação e possibilitar uma comparação com os outros imunizantes aprovados no Brasil, que também serão testados ao longo da pesquisa.
Não recomendação não é consenso
No entanto, outros especialistas apontam justamente o contrário —sem estudos robustos, "falar que a CoronaVac não tem funcionalidade para dose de reforço não seria prudente", diz o imunologista Gustavo Cabral, pesquisador da USP (Universidade de São Paulo)/Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e colunista de VivaBem.
"Ainda não temos resposta definitiva", aponta Celso Granato, infectologista e diretor clínico do Grupo Fleury. "O Brasil é um dos poucos países do mundo que usa em uma escala gigantesca a CoronaVac e tem uma possibilidade de usar outras."
Um estudo feito no Chile, país que também usou amplamente a vacina, embora em proporção menor que o Brasil, recomenda o imunizante como "terceira dose".
Outro ponto positivo, indica Cabral, é que a CoronaVac usa a tecnologia de vírus inativado. "É a mais conhecida por nós e, por isso, considerada extremamente segura, com baixos índices de efeitos colaterais. É algo a se pensar quando estamos falando justamente de grupos mais vulneráveis."
Misturar vacinas aumenta a resposta imune
Em sua coluna, Cabral reforça que existem trabalhos publicados que mostram excelentes dados sobre o intercâmbio de vacinas contra a covid-19 —mas que não são necessariamente totalmente conclusivos, pois quando se trata de ciência há sempre a busca por dados robustos para garantir a segurança social e científica.
"Na CoronaVac, temos o vírus inativado, ou seja, o imunizado recebe um pedacinho do vírus que não se multiplica. Isso vai servir para estimular uma determinada resposta imunológica. Já AstraZeneca e Janssen usam adenovírus. Os anticorpos, nesse caso, são criados contra esse pedacinho específico do vírus", diz Celso Granato, explicando que contra a covid-19, tecnologias diferentes, em teoria, criam uma imunidade mais forte.
Vale lembrar que a medicina não é uma ciência exata, principalmente no que diz respeito à covid-19, uma doença nova cujo conhecimento vem sendo gerado ao mesmo tempo em que o vírus continua circulando.
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