Pesquisa: pobreza menstrual afeta saúde física e mental de quem menstrua
A pobreza menstrual vai muito além da falta de dinheiro para comprar produtos de higiene menstrual adequados. Ela denuncia o problema da falta de acesso à água, saneamento básico, desigualdade social e como tudo isso afeta a saúde física e mental das pessoas que menstruam.
Uma pesquisa divulgada nesta terça-feira (14), realizada pela Johnson & Johnson Consumer Health em parceria com os Institutos Kyra e Mosaiclab, teve como objetivo levantar informações sobre o grau de conhecimento de um problema que afeta milhões de brasileiras, identificar seus hábitos e dar visibilidade ao tema.
O estudo foi feito com 814 mulheres brasileiras que menstruam regularmente, entre 14 e 45 anos, representantes das classes CD, via painel online com complemento telefônico para classes mais baixas, entre os dias 23 de abril e 10 de maio de 2021.
Os dados mostram que 28% das mulheres de baixa renda são afetadas diretamente pela pobreza menstrual (cerca de 11,3 milhões de brasileiras) e 30% conhecem alguém que é afetado pelo problema. Conheça os principais dados do levantamento:
- 4 em cada 10 mulheres convivem com o tema pobreza menstrual, pois ou são afetadas ou têm algum conhecido afetado.
- 94% de mulheres de baixa renda não sabem o que é pobreza menstrual. Ou seja, não conseguem identificar quando vivem uma realidade de vulnerabilidade. O desconhecimento é maior entre mulheres mais velhas, das regiões Centro-Oeste e Sul.
- 40% das mulheres de baixa renda que são afetadas pela pobreza menstrual têm entre 14-24 anos, o que mostra que esse é um problema que atinge, sobretudo, meninas jovens.
Questão de dignidade e saúde
O levantamento mostrou também que a pandemia piorou a situação: 29% tiveram dificuldades financeiras nos últimos 12 meses para comprar produtos para menstruação e 21% têm dificuldade todos os meses.
Muitas das mulheres afetadas pela pobreza menstrual fazem uso de produtos não indicados para absorver a menstruação durante o período: sacos plásticos, sacolinha de supermercado, roupas velhas, algodão, lencinho umedecido descartável, toalhas, panos, filtro de café, lenços de papel, papel higiênico e até mesmo jornal ou miolo de pão.
E é por isso que a pobreza menstrual tem reflexo direto na saúde física de pessoas que menstruam:
- Muitas destas mulheres foram afetadas por problemas vaginais nos últimos 12 meses: 28% tiveram infecção urinária ou cistite; 24% tiveram candidíase; 11% infecção vaginal por fungo e 7% infecção vaginal por bactéria.
- 73% têm vida sexual ativa e o método de proteção mais usado é o anticoncepcional.
- 77% afirmam nunca ter tomado pílula anticoncepcional direto para pular a menstruação, 7% admitem fazer isso algumas vezes quando estão sem dinheiro para comprar absorvente e 11% adotam esse procedimento com acompanhamento médico, pois se sentem muito mal durante a menstruação.
- Apesar do alto índice de informação sobre a primeira menstruação, 36% concordam não saber muito bem o que acontece com seu corpo durante o período menstrual.
É importante ressaltar que há também consequências psicológicas:
- 22% delas dizem se sentir muito frágeis ao menstruar, porque no local onde moram não tem condições adequadas para se higienizarem como gostariam nesse período. Várias não têm banheiro dentro de casa (9%).
- 24% concordam que, nos dias que menstruam, sentem que estão perdendo espaço na sociedade por serem mulheres, porque os homens não precisam passar por isso.
- 8% afirmam que sempre ou quase sempre faltaram ao trabalho quando estavam menstruadas porque o banheiro é muito sujo e não tem condições de uso (não tem água, descarga ou papel higiênico). Para 16% das mulheres entrevistadas, as mais afetadas pela pobreza menstrual, esse índice é de 23%.
- Da mesma maneira, 12% afirmam que sempre ou quase sempre já precisaram faltar ao trabalho por estarem com forte mal-estar menstrual e o chefe dizer que isso é "mimimi de mulherzinha".
- 52% acreditam que "menstruar dita um pouco a nossa dignidade, porque, além de ter algum mal-estar, parece que estamos sujas".
- 6% já sofreram violência doméstica por estarem menstruadas.
Parte justifica ausência escolar pela falta de absorvente adequado ou mesmo pela falta da estrutura para acolher as mulheres nos dias em que estão menstruadas:
- 16% afirmam que sempre ou quase sempre já deixaram de ir à escola quando estavam menstruadas porque o banheiro é muito sujo e não tem condições de uso.
- 12% afirmam que sempre ou quase sempre já deixaram de ir à escola quando estavam menstruadas por não estarem com absorvente ou com algum absorvente improvisado.
- 38% concordam: "Quando tenho que ir à escola menstruada fico péssima, porque na minha escola o banheiro não tem condições adequadas para esses períodos: nem sempre tem água ou papel higiênico".
O gasto médio mensal com produtos para menstruação é de R$ 21. De cada 10 entrevistadas, duas têm dificuldade para comprar produtos para menstruação.
Distribuição gratuita em pauta
A pesquisa foi divulgada no mesmo dia em que o Senado Federal aprovou um projeto que prevê a distribuição gratuita de absorventes higiênicos para estudantes dos ensinos fundamental e médio, mulheres em situação de vulnerabilidade e presidiárias.
O projeto da Câmara, relatado pela senadora Zenaide Maia (Pros-RN), foi aprovado sem mudanças e segue para a sanção presidencial.
O projeto de lei 4.968/2019, da deputada Marília Arraes (PT-PE), cria o Programa de Proteção e Promoção da Saúde Menstrual e o qualifica como estratégia para a promoção da saúde e da atenção à higiene.
A intenção é combater a precariedade menstrual, que significa a falta de acesso ou a falta de recursos para a compra de produtos de higiene e outros itens necessários ao período da menstruação feminina.
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