Perde a fome quando está triste? Entenda como emoções interferem no apetite
Resumo da notícia
- Ligação direta entre estômago e cérebro é o principal motivo para algumas pessoas perderem o apetite em momentos de extrema felicidade ou tristeza
- Sentimentos momentâneos não têm grande impacto sobre o peso, mas é preciso ficar atento para a falta de apetite não se tornar uma atitude contínua
- Segundo especialistas, emoções e condições mais ligadas ao futuro (medo e ansiedade) dão mais fome do que as ligadas ao passado (tristeza, melancolia)
Quem já se esqueceu de uma refeição por estar feliz ou triste demais entende muito bem como os sentimentos podem interferir diretamente em nossa relação com a comida. Perder o apetite diante de certas emoções é comum e a explicação é uma só: a ligação direta entre o cérebro e o estômago.
De acordo com a psiquiatra Marta Ana Jezierski, da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo, o estômago está ligado diretamente com o cérebro pelo nervo vago e, juntamente com o intestino, tem muitas terminações nervosas. "Há uma complexa interação entre os nervos do estômago e do intestino com o cérebro, que comunicam quando estão cheios ou vazios", explica.
Do mesmo modo, o frio na barriga que sentimos diante de uma grande responsabilidade, por exemplo, também é explicado por meio dessas conexões nervosas entre cérebro e estômago, que formam verdadeiras pontes afetivo-cognitivas, como conta o neurocientista Álvaro Machado Dias, professor associado livre-docente da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
A relação entre cérebro e estômago
Segundo Dias, tanto porções do intestino quanto do estômago fazem parte do SNE (Sistema Nervoso Entérico), muitas vezes chamado de segundo cérebro. O SNE possui milhões de neurônios, responsáveis por funções gastrointestinais sofisticadas, conduzidas com independência em relação aos outros módulos do sistema nervoso. "Estas conexões possuem origem evolucionária, são essenciais para reações de ataque e fuga em situações de ameaça", diz.
Tarso Adoni, neurologista do Hospital Sírio-Libanês, explica que há uma íntima relação entre o hipotálamo (estrutura cerebral responsável pela regulação da fome e da sede, além de ativar a chamada "reação de estresse", "lutar ou fugir" diante de uma situação de risco) e a amígdala cerebral (estrutura que se ativa mais nas situações de medo, ansiedade e estresse). "Por esse motivo, indivíduos ansiosos ou deprimidos têm o apetite alterado. Na depressão, embora o mais comum seja a perda do apetite, pode também acontecer o contrário".
Fisiológico ou psicológico?
Para Dias, apesar de existir uma lógica fisiológica, a razão para a perda de apetite quando nossas emoções estão afloradas é principalmente psicológica. "Uma prática essencial para uma vida mentalmente saudável é a de prolongar as experiências em que nos sentimos bem e encurtar aquelas que nos causam desprazer. Emoções e condições mais ligadas ao futuro (como medo e ansiedade) levam mais à geladeira do que as ligadas ao passado (como tristeza, melancolia)".
Emília de Azevedo Oliveira, psicóloga da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo, lembra que os alimentos nos fazem sentir sensações de prazer. Neste caso, é preciso saber diferenciar o contexto para esse comportamento, pois em situações de felicidade e de socialização, essa relação pode ocasionar exageros na quantidade de comida e na escolha dos alimentos.
"A forma como vivenciamos nossas emoções é única. Podemos ter indivíduos que estavam tão felizes que 'esqueceram' de comer, pois estavam curtindo um bom momento, assim como pacientes que não comem, pois estão vivenciando um sentimento de muita tristeza", aponta Danielle Bismarchi, psicóloga do Hospital Sírio-Libanês.
Segundo ela, emoções tidas como positivas geralmente estão associadas ao bem-estar físico, psicológico e fisiológico, liberando serotonina e endorfina, os chamados hormônios do prazer. Já emoções negativas podem interferir em nosso corpo, contribuindo para a piora de algumas doenças ou proporcionando reações fisiológicas como dor de barriga, falta de ar, tensão muscular, aumento da pressão arterial e liberação de hormônios como o cortisol. "Cada indivíduo vivencia suas emoções de forma única e o mesmo acontece com o apetite. Seu aumento ou diminuição podem ou não acontecer quando os sentimentos estão aflorados".
Fique atendo se for uma atitude contínua
De casamentos, formaturas, nascimentos e promoções a términos de relacionamentos, reuniões tensas e luto, situações estressantes, sejam elas boas ou ruins, acontecem. O problema, segundo Jezierski, é o tempo que a pessoa leva para se recuperar.
"Existem variações individuais que são causadas pelo simbolismo que cada pessoa desenvolveu ao longo da vida. Alegria pode significar satisfação (menos apetite) ou comemoração (mais apetite), como a tristeza pode estar associada à carência e fome ou bloquear os mecanismos de prazer e tirar o apetite", diz. Emoções momentâneas não têm grande impacto sobre o peso de uma pessoa por serem passageiras. O problema ocorre quando é uma atitude contínua. Quando a pessoa fica triste por muito tempo, isto é, por mais e duas semanas, então as alterações passam a ser dignas de preocupação e é o caso de procurar ajuda.
Segundo Oliveira, estar atento aos sinais e saber reconhecer as próprias emoções é fundamental para evitar que a relação com a comida venha a causar problemas mais sérios, como transtornos.
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