Estudo: estresse pós-traumático é mais comum em sobreviventes de covid-19
Um estudo chinês publicado no periódico científico Neurobiology of Stress investigou o estado emocional e o cérebro de pacientes que tiveram covid-19 no passado.
Ao analisar os resultados, os pesquisadores observaram um aumento significativo de estresse pós-traumático e padrões anormais de conectividade cerebral, além de alterações nas funções sensoriais e motoras.
Para o trabalho, foram selecionados 50 indivíduos que contraíram o coronavírus entre fevereiro e março de 2020 em Wuhan, na China. Cerca de seis meses após saírem do hospital, eles passaram por exames de ressonância magnética cerebral e por uma análise do bem-estar emocional. E aí foram comparados com 43 voluntários que não tiveram covid-19.
De acordo com psiquiatra Michel Haddad, do Departamento de Psiquiatria da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), o trabalho é importante por mostrar que essa doença seria capaz de provocar estresse pós-traumático —e que isso teria a ver inclusive com mudanças cerebrais.
No entanto, ele destaca que a pesquisa possui um número pequeno de voluntários, e que todos vinham de um mesmo local.
Problemas graves de saúde realmente podem impactar o bem-estar mental. "Pessoas que permaneceram muito tempo em terapias intensivas ou que tiveram grande risco de morrer desenvolvem estresse pós-traumático com maior intensidade", afirma Rodrigo Leite, psiquiatra pelo Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo.
Como reconhecer o estresse pós-traumático
O estresse pós-traumático costuma aparecer semanas ou mesmo meses após o evento que causou o trauma. O indivíduo fica em um constante estado de alerta e revive na sua cabeça os fatos que o marcaram.
Sintomas como alterações do sono, irritabilidade, falta de apetite e consumos de drogas e bebidas alcoólicas costumam ser os primeiros a aparecer. Ansiedade, síndrome do pânico, depressão e outros transtornos psiquiátricos também podem surgir, principalmente em situações mais graves.
O estresse pós-traumático é subdividido em agudo, quando dura de um a três meses depois do evento; ou crônico, se persiste por mais de 3 meses.
"Em alguns casos, ele começa mais de seis meses após o trauma", informa Haddad, que também é presidente do Grupo de Estudos Psiquiátricos do Hospital do Servidor Público Estadual. Segundo ele, o quadro pode surgir de maneira isolada, ou — o que é mais comum —vir acompanhado de outros sintomas e transtornos psiquiátricos.
Diante da condição, o ideal é procurar ajuda de profissionais especializados. "É importante saber o que a pessoa está passando para lidar com a situação", afirma Haddad.
Medicamentos e sessões de psicoterapia podem ajudar a minimizar os efeitos do estresse pós-traumático, inclusive no contexto da covid-19. Também é fundamental valorizar as atividades físicas e uma alimentação equilibrada durante o tratamento.
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