Jorge emagreceu 80 kg e foi de obeso a 'garoto propaganda' da academia
Jorge Bentes, 39, começou a fazer dieta aos 10 anos. Como não conseguia manter-se magro, em um momento da vida ele aceitou que seria gordo para sempre e chegou a pesar 150 kg. Mas, quando foi morar perto de um parque, resolveu mudar o estilo de vida, mandou fazer roupas para treinar com uma costureira e deixou de ser obeso. Abaixo, ele conta como emagreceu:
"Com 1 ano de idade, comecei a ter problemas para comer e minha mãe passou a me encher de vitaminas e receitas para engordar. Aos 4 anos, eu me tornei uma criança com excesso de peso e iniciei minha luta contra a obesidade. Aos 10 anos, já fazia dieta restritiva: ia viajar e tinha que levar marmitas. Associei a palavra dieta à proibição e o que era para ser uma solução virou um trauma.
Hoje, vejo o quanto sofri bullying e fui excluído por ser obeso. Ninguém me escolhia para o futebol, não conseguia ter uma namoradinha... Sempre recebi olhares como se eu fosse um desleixado, como se fosse gordo porque queria. Fui tirado do padrão antes mesmo de saber que ele existia, e isso é muito cruel na infância.
Foi nessa época que achei que comer era algo proibido, o que só potencializou e piorou a minha compulsão alimentar. Fiz todas as dietas malucas que se possa imaginar. Emagreci várias vezes, mas depois engordei tudo novamente. Após muito sofrer com o efeito sanfona, resolvi que ia me assumir gordo e sedentário para sempre.
Acabei mudando de São Paulo para Cascavel, no Paraná, aos 31 anos, e fui morar na frente de um parque. Um dia, fui caminhar lá para conhecer o lugar e não consegui andar nem por 10 minutos. Isso me assustou e fez cair a ficha de que precisava ter um estilo de vida mais saudável.
Decidi me pesar e descobri que estava com 150 kg —tenho 1,70 m de altura. Desci da balança chorando, mas fui tomado pela certeza de que dessa vez conseguiria emagrecer. Comecei a mudar a alimentação e fazer caminhadas no parque. No início, não conseguia dar a volta no parque todo, mas fui evoluindo aos poucos.
Já no primeiro mês, eliminei 12 kg. Empolgado, resolvi entrar na academia. Porém, como vestia 60, não encontrava roupas que coubessem em mim. Claro que isso não foi obstáculo: mandei fazer algumas peças sob medida e fui malhar!
No primeiro dia, eu me senti um E.T. naquele lugar, mas sabia que precisava fazer a atividade por mim. Ignorei os olhares e as dores do começo e passei a treinar cinco vezes por semana. No entanto, não foi fácil. Cheguei a ir treinar chorando, de tanta vergonha que tinha de estar na academia.
Toda vez que pensava em desistir, eu me lembrava de todos os 'nãos' que recebi por ser obeso. Não ia treinar por ódio ao meu corpo, mas sim por amor a mim mesmo, pois sabia o quanto a obesidade impacta na saúde, principalmente a longo prazo
Temos que cuidar do nosso corpo porque ele é o nosso templo, não é uma questão de entrar em um padrão e sim de escolher um novo hábito mais saudável todos os dias.
Para emagrecer, também precisei associar a dieta a algo saudável e sem restrição. Aprendi novos sabores, receitas e ingredientes, como farinha de linhaça, farelo de aveia, farinha de coco. Hoje, faço até meu próprio pão.
Consegui fazer uma reeducação alimentar com muita calma, respeitando meu processo e sem cortar as coisas que amo comer, para não gerar episódios de compulsão.
Escuto muita gente dizendo que não tem tempo de organizar a alimentação, mas a verdade é que se você tem tempo para escolher o que vai vestir no dia, também tem 10 minutos para pensar no que vai comer.
Durante o meu processo, criei o Cansei de Ser Gordo. Já tinha secado 50 kg e estava me sentindo tão grato que queria dividir com o mundo essa conquista, além de mostrar que é possível transformar o dia a dia e conseguir emagrecer. Muitas vezes, a pessoa com obesidade não acredita mais nela mesma, já que o preconceito que sofre no mercado de trabalho, no transporte público etc. vai minando sua autoestima.
Conforme me superava e emagrecia, descobri uma força que nem sabia que tinha. E percebi que, se era capaz de fazer isso, também tinha capacidade para melhorar e transformar qualquer outra área da minha vida
Minha meta inicial era perder 70 kg, mas não ficava pensando constantemente nesse número durante o processo. Foquei em comemorar as pequenas vitórias e celebrar cada quilo perdido.
Ao todo, sequei 80 kg em 10 meses e trabalhei muito na terapia essa mudança, pois não me reconhecia no meu corpo, tive que reaprender a me vestir, pois antes era a roupa que me escolhia.
O resultado que obtive chamou tanto a atenção que os donos da academia onde eu treinava me chamaram para ser 'garoto propaganda' deles e servir de inspiração para outras pessoas.
A pandemia tem sido um período difícil para mim. Sempre respeitei muito o isolamento e evito ao máximo sair de casa. Logo no início, fiquei com muita ansiedade e tive crises de compulsão alimentar, acabei engordando 16 kg. Foi bem desgastante, pois quando parques e academias fecharam parei de praticar exercícios, uma das minhas válvulas de escape, e descontei na alimentação.
Mas me perdoei e recomecei com foco. Já consegui eliminar 12 kg. A compulsão alimentar é algo que sei que preciso controlar e trabalhar diariamente. Então, sempre vivo um dia de cada vez. Tem dias que ganho, tem dias que perco, mas nunca desisto.
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