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Equilíbrio

Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


Dar risada ajuda na socialização e faz bem para a saúde; entenda

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Danielle Sanches

Do VivaBem, em São Paulo

27/09/2021 04h00

Dar risada até a barriga doer é uma das sensações mais prazerosas que o ser humano pode experimentar. E isso não é à toa: quando gargalhamos diante de uma piada bem contada ou uma situação que consideramos engraçada, nosso corpo libera serotonina e endorfina, substâncias responsáveis por promover uma sensação de bem-estar e relaxamento.

São justamente os efeitos dessas substâncias que nos ajudam a controlar o estresse, reduzem a sensação de dor e podem até atuar de forma benéfica no nosso sistema cardiovascular. De acordo com Paulo Chaccur, diretor da cirurgia cardiovascular no Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia e colunista de VivaBem, com menos tensão, reduz-se a produção de hormônios como o cortisol e a epinefrina, substâncias que levam a uma série de reações inflamatórias e podem prejudicar os vasos sanguíneos —aumentando, assim, os riscos de sofrermos um AVC ou um infarto.

O riso também é um forte medidor de como está a nossa saúde mental. "Pessoas que conseguem rir de si mesmas e dos problemas têm um alto nível de resiliência e costumam encarar a vida com mais leveza", explica Dorli Kamkhagi, psicóloga clínica e coordenadora de Grupos da Maturidade do IPq (Instituto de Psiquiatria) da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo). É o famoso "rir para não chorar".

Jovem sorrindo, gargalhada, risada - iStock - iStock
Nem os cientistas sabem ainda exatamente os motivos pelos quais nós somos capazes de rir
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Por que rimos?

Assim como o choro, a risada é uma resposta fisiológica diante de algo inesperado, mas positivo. "Nosso cérebro está o tempo todo percebendo padrões no mundo e aprendendo com eles. Por isso, algumas coisas acabam sendo previsíveis", explica o neurocientista André Souza, pós-doutorado em psicologia cognitiva pela Universidade do Texas em Austin (EUA) e colunista de VivaBem. "Quando algo imprevisível ocorre e não é necessariamente negativo, a risada é uma resposta possível", afirma.

É nesse momento que o nosso sistema límbico, responsável por nos fazer sentir bem, é acionado, juntamente com a área do cérebro responsável pelos movimentos dos músculos da face —ao todo, movimentamos até 80 músculos durante a risada. "É algo extremamente satisfatório para o cérebro", afirma Deborah Moss, neuropsicóloga especialista em comportamento infantil e mestre em psicologia do desenvolvimento pela USP (Universidade de São Paulo).

Curiosamente, nem os cientistas sabem ainda exatamente os motivos pelos quais nós somos capazes de rir, muito embora eles acreditem que exista um propósito real. "Nós não somos a única espécie que ri", afirma Rezende. "Primatas dão risada e até ratinhos têm uma forma própria de rir", afirma.

Rindo para socializar

Uma das suspeitas da ciência é que o riso seja uma forma de estreitar laços entre pessoas. "É uma reação bastante social, que demonstra um engajamento com outros indivíduos", avalia Rezende.

É justamente por isso que não rimos em um funeral, por exemplo —porque entendemos que essa não é a reação esperada para aquele momento. Por outro lado, em situações em que estamos mais à vontade e descontraídos, como uma reunião familiar ou na presença de amigos, é quando o riso acontece mais facilmente. "Quando estamos à vontade, nos sentimos relaxados e desarmados", diz Virgínia Serpa, psicóloga do Hospital Universitário Walter Cantídio, que faz parte da Rede Ebserh, no Ceará. "Fica mais fácil rir. Se, por outro lado, estamos mais ansiosos, tensos, mantemos a guarda alta e permanecemos mais sérios", explica.

Nesses momentos em que estamos mais comedidos, ou simplesmente não encontramos uma razão suficiente para rir, podemos ter outra reação: o sorriso, um processo fisiologicamente parecido, mas que guarda algumas diferenças. Enquanto a risada é mais barulhenta, o sorriso costuma ser silencioso. "É uma reação mais delicada e que pode expressar alegria, cordialidade e até gratidão", explica Kamkhagi.

No entanto, mesmo sendo mais sutil, o sorriso também tem seus benefícios. Um estudo da University of South Australia mostrou que pessoas que fingiam sorrir em frente ao espelho conseguiram desenvolver sentimentos positivos, levando-as a ter uma atitude mais positiva no dia.

Assim como a risada, o sorriso também é importante para a socialização, como se fosse um convite à interação positiva. "Todo mundo entende essa expressão, mesmo que falem idiomas diferentes, até bebês compreendem quando enxergam os pais sorrindo", afirma Moss. "É uma ferramenta importante para a nossa comunicação não-verbal", acredita.

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Ao todo, movimentamos até 80 músculos durante a risada
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Questão de interpretação

Como foi dito, o cérebro está sempre observando o ambiente ao redor e buscando padrões para memorizar. É justamente por isso que conseguimos "sentir" quando um sorriso está sendo falso. "Aquele sorriso amarelo aparece descolado do contexto", explica o psicólogo Yuri Busin, doutor em neurociência do comportamento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e diretor do Casme (Centro de Atenção à Saúde Mental - Equilíbrio). "Ele fica esquisito porque parece contraditório de alguma forma, e isso cria uma desconfiança", avalia.

E não são apenas as situações boas que nos fazem rir. Essa reação também é usada pelo cérebro para nos acalmar diante de situações estressantes ou assustadoras. "Rir libera substâncias calmantes no corpo que reduzem a pressão arterial", explica Rezende. Por isso, numa tentativa de aliviar para o nosso lado, o cérebro pode desencadear um ataque de riso diante de uma situação negativa —é o famoso "rindo de nervoso".

Por fim, tem quem não consiga rir ou sorrir facilmente, criando a imagem de alguém sério, fechado e inacessível. Os especialistas concordam que não há problema nenhum em ser assim, desde que não exista sofrimento ou prejuízos sociais. Nesse caso, é possível procurar a ajuda de um psicólogo para modelar a forma de reagir e aprender a ser mais descontraído.