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Projeto dá próteses faciais a quem sofreu deformações por câncer ou traumas

Victorio, paciente que perdeu parte do rosto devido a câncer de pele e recebeu prótese facial pelo Instituto Mais Identidade - Divulgação
Victorio, paciente que perdeu parte do rosto devido a câncer de pele e recebeu prótese facial pelo Instituto Mais Identidade Imagem: Divulgação

Giulia Granchi

Do VivaBem, em São Paulo

30/09/2021 04h00

Alguns casos de câncer de boca e de pele são capazes de causar severas desfigurações no rosto dos pacientes, deixando-os com sequelas permanentes.

O convívio social, a empregabilidade e as funções básicas do dia a dia são profundamente afetadas nessas condições, restringindo a qualidade de vida e impactando a autoestima dessas pessoas, que muitas vezes se isolam da sociedade.

Foi o caso do aposentado Victorio Gorzoni, hoje com 82 anos. Aos 59, no ano de 1998, ele descobriu um câncer de pele que gerou o aparecimento de cinco tumores na cabeça. Em pouco tempo, perdeu a visão. Depois, precisou retirar o olho esquerdo e uma parte da face, deixando um "buraco" do lado direito do rosto.

Cinco anos depois, Victorio conseguiu sua primeira prótese, mas ela era removível e causava desconforto. "Quando começava a suar, descolava. Uma vez, na fila no banco, a prótese caiu. Tive que gritar para ninguém pisar no meu olho. Imagina a cena? As pessoas se assustaram", conta.

"Ela também era um pouco grande para o meu rosto e com o tempo, foi se deteriorando. Me olhavam muito e faziam perguntas", diz.

Victorio, paciente que recebeu prótese facial - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

Há alguns anos, por indicação de enfermeiras do Hospital São Paulo, ele conheceu Luciano Dib, cirurgião dentista e bucomaxilofacial, diretor do Instituto Mais Identidade, que tem como missão justamente devolver, gratuitamente, a autoestima de pessoas que tiveram doenças como a de Victorio ou sofreram traumas.

O instituto hoje conta com o apoio da Unip (Universidade Paulista), e mantém, em uma das unidades de ensino, um laboratório moderno, que utiliza impressoras 3D para esculpir próteses a partir de modelos obtidos com fotografias feitas com smartphones. O processo possibilita que até pacientes em locais distantes de São Paulo possam ser atendidos.

O passo a passo para a criação da prótese

Gráfico do Victorio, paciente que recebeu prótese facial - Divulgação - Divulgação
Gráfico usado na criação da prótese de Victorio
Imagem: Divulgação

A técnica utiliza a câmera de um smartphone para tirar uma série de fotos padronizadas para captar a anatomia do paciente com a deformidade facial.

Depois, o rosto é digitalizado em 3D a partir de um software gratuito para que seja realizada a reconstituição digital da porção afetada, que servirá como base para a construção da prótese.

A modelagem geralmente se baseia em uma imagem espelhada do lado saudável da face ou a utilização de "doadores digitais" de regiões únicas, como nariz ou lábios —fotos de bancos de imagens, por exemplo.

Após essa reconstituição digital, a prótese é impressa em 3D. Esse protótipo impresso é transformado com materiais específicos, como silicone ou resina, para concluir a prótese facial com acabamento e estética próximos às características do paciente. No caso de Victorio, até mesmo a coloração das olheiras e pequenos traços das rugas foram copiados.

"Depois que o projeto me deu a prótese, já ninguém me olha com curiosidade, voltei a ser o que era antes. Não precisei pagar nada e agradeço demais a essa equipe, me devolveram um pedaço de mim", diz Victorio.

Victorio, prótese facial - Instituto Mais Identidade - Instituto Mais Identidade
Imagem: Instituto Mais Identidade

As próteses também são removíveis, mas fixadas no rosto por meio de implantes que são feitas por parafusos de titânio colocados no osso.

"É importantíssimo curar esses pacientes, mas sem reabilitação, é só metade do caminho. Tem a etapa cirúrgica para preparar o rosto para a prótese, os acertos e depois o implante. É muito técnico, individualizado e custoso, mas não dá para pensar em não fazer isso, é uma causa muito importante", diz o diretor do Instituto.

Como ser atendido pelo projeto?

O instituto disponibiliza um pré-cadastro em seu site. O usuário deve preencher as informações solicitadas, que passarão por uma avaliação prévia para verificar se o caso se enquadra no modelo de reabilitação oferecido. Em caso afirmativo, os protocolos de atendimento são iniciados em datas e horários a serem definidos com o futuro paciente.

"Os selecionados também são avaliados por grupo de psicólogos, para entender se aquela proposta seria adequada. Alguns têm expectativas que não se adequam à realidade", explica o pesquisador Luciano Dib.

O instituto também recebe doações de empresas ou pessoas que queiram apoiar a iniciativa. Atualmente, a equipe responsável angaria fundos para atender pacientes em Natal.