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Equilíbrio

Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


Dormir depois de terminar um namoro pode ser um desafio; entenda por quê

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Luiza Ferraz

Colaboração para VivaBem

01/10/2021 04h00

Você já teve problemas para dormir após terminar um relacionamento? Mesmo quando feito de maneira amigável, o processo de lidar e superar essa ruptura pode ser desafiador para algumas pessoas, impactando a vida de diversas maneiras —e, em especial, o sono.

De maneira geral, a insônia pode ser definida como a dificuldade para iniciar ou manter o sono, o despertar precoce e/ou o sono interrompido ou não restaurador. E um dos fatores que pode interferir nessa equação é justamente nosso estado emocional: um levantamento feito por cientistas do Centro de Pesquisa de Distúrbios do Sono dos Estados Unidos mostrou que a probabilidade de uma pessoa desenvolver insônia aumenta 19% a cada exposição ao estresse —um quadro que pode ser provocado por diversos fatores, incluindo um trauma emocional como o fim de um namoro.

Nesses casos, a insônia é considerada aguda, ou seja, ela surge de forma pontual, desencadeada por um evento traumático, e costuma ser passageira. "Ela pode se manifestar de várias formas: quando demora para iniciar o sono ou se acorda de madrugada e não consegue voltar a dormir, precisando repor as horas perdidas com uma soneca durante o dia", explica o neurologista Gabriel Batistella, assistente do setor de Neuro-Oncologia da EPM/Unifesp (Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo).

Por que a insônia acontece?

Nesse caso específico, o maior responsável parece ser o cortisol, o hormônio produzido pelo corpo como resposta a uma situação de tensão. Quando passamos por um momento de medo ou ansiedade, ele é liberado, mas, em excesso, pode interferir na qualidade do sono.

"Depois de uma briga, por exemplo, temos uma elevação do cortisol e da adrenalina, ficando mais estressados e aumentando a nossa frequência cardíaca", explica Danielle Admoni, psiquiatra da EPM/Unifesp. "Todos esses sintomas são de uma descarga adrenérgica que nos deixa hiperalertas, vigilantes e, portanto, não relaxados para dormir", afirma.

De acordo com a especialista, alguns estudos também indicam que pessoas apaixonadas têm uma sensação de bem-estar e felicidade relacionada ao aumento de neurotransmissores como dopamina e serotonina —o que deixa de existir no caso de um rompimento.

Insônia, sono, sonolência - iStock - iStock
Um dos fatores que pode interferir na qualidade do sono é justamente nosso estado emocional
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Quando procurar ajuda e como tratar

A dificuldade para dormir após terminar um namoro, portanto, é uma reação esperada após uma situação tão desgastante como essa e pode durar, em média, entre uma semana e 15 dias. No entanto, se as dificuldades para descansar se mantiverem por ao menos três vezes por semana durante três meses ou mais, e a falta de sono estiver atrapalhando as atividades do dia a dia e o convívio social, o caso passa a ser considerado de insônia crônica, quando é necessário o acompanhamento médico, psicológico e, às vezes, medicamentoso.

"Esse problema pode gerar diversos sintomas, como fadiga, desinteresse sexual, déficit de aprendizado, concentração e até alterações hormonais", explica Batistella. Segundo o neurologista, o primeiro passo para iniciar o tratamento é identificar o que está por trás dessa insônia —fazer uma consulta sem pressa, entendendo a história e a rotina do paciente.

"Ele pode até trazer uma causa, mas não podemos nos contentar somente com isso. A insônia aguda pode ser o motivo de ele buscar ajuda, mas às vezes o sono que já era ruim, agora está pior e isso pode ser um 'crônico agudizado'", explica.

Para ele, é preciso experimentar outros tratamentos antes da intervenção medicamentosa, já que remédios podem levar à dependência física e psicológica —algumas pessoas têm certeza que não conseguem pegar no sono sem eles e acabam desenvolvendo uma ansiedade para dormir.

Nesse sentido, as principais indicações são as a terapias cognitiva-comportamental e analítico-comportamental, que buscam entender a forma como o ser humano interpreta os acontecimentos e como eles o afetam. "O terapeuta vai ajudar o paciente a identificar os elementos que levam ao que ele considera um problema, desenvolvendo estratégias para lidar com essas dificuldades. Não existe uma fórmula mágica, pois vai depender de cada pessoa, de sua história de vida e de como ela se relaciona com o mundo", explica Amanda Barroso, neuropsicóloga, professora e supervisora clínica de pós-graduação da Unichristus e Núcleo Tríplice em Fortaleza, no Ceará.

Os especialistas também indicam a adoção da "higiene do sono", processo que consiste em criar um ambiente relaxante para a hora de dormir. O recomendado é desligar os aparelhos eletrônicos pelo menos uma hora antes de se deitar, além de fazer uma alimentação leve e praticar atividades relaxantes como meditação, exercícios de respiração e até um banho morno.

Quanto ao tempo de tratamento, Barroso explica que ele é variável e depende do histórico de vida de cada paciente. "Não existem processos rápidos, portanto, promessas de que é possível resolver em um final de semana ou em algumas sessões são enganosas. O caso será analisado individualmente e um plano será montado junto com o paciente", afirma.