Covid: 3 semanas após sistema mudar, 10 estados têm problemas com registros
Um pouco mais de três semanas após o Ministério da Saúde realizar mudanças na plataforma de registro de casos da covid-19, ao menos dez estados ainda relatam problemas com os dados. O levantamento foi feito pelo consórcio de veículos de imprensa, do qual o UOL faz parte, junto das secretarias estaduais de saúde.
Acre, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Piauí, Paraná e São Paulo informaram sofrer algum tipo de instabilidade na inserção de dados na plataforma e-SUS, onde são inseridas as infecções leves da covid. Alguns estados enfrentaram problemas também com o Sivep-Gripe, onde são registrados casos graves e óbitos.
No dia 8 de setembro, o e-SUS passou por uma atualização, segundo informou o Ministério da Saúde. A alteração se deu na chamada API (sigla para Application Programming Interface) que é um padrão de programação que permite a comunicação entre sistemas. Por meio da API, os estados conseguem coletar os dados de casos de covid-19 inseridos pelos municípios e hospitais.
Porém, desde a mudança, ao menos 15 estados relataram problemas nas semanas seguintes. Desses, apenas cinco disseram que a situação foi normalizada nos últimos dias: Amazonas, Rio de Janeiro, Rondônia, Roraima e Rio Grande do Sul.
Entre as principais reclamações estão: instabilidade da plataforma, lentidão, acúmulo de dados, duplicidade, dificuldade para baixar ou visualizar a base de dados, entre outros.
Em 18 de setembro, dez dias depois da mudança, o estado do Rio de Janeiro "encontrou" mais de 92 mil casos não computados pelo sistema estadual. Desses, cerca de 38% ocorreram em 2020. Dias antes, em 9 de setembro, o estado já havia notificado outros 17.736 casos represados das semanas anteriores devido às mudanças no e-SUS.
A inserção desses números retroativos levou o país a registrar 125.053 diagnósticos naquele dia, o maior número de toda a pandemia. Até então, o recorde havia sido em 23 de junho, com 114.139.
Nos dias 11 e 21 de setembro, a Bahia relatou não ter conseguido extrair a base de dados do Ministério da Saúde, notificando o problema à pasta. Segundo a secretaria estadual de saúde, a resposta só veio no dia 24 de setembro.
"Até o momento, os estados não tiveram acesso à base de dados completa para o desenvolvimento de uma solução de integração", informou a secretaria. "Ou seja, o Ministério da Saúde vem disponibilizando bases diárias, sem histórico temporal suficiente para que a equipe de tecnologia tenha massa de dados suficientes.
E ressaltou: "Infelizmente, ainda nesta sexta-feira é observado instabilidade no ambiente da API ministerial".
O Ceará destacou ainda um erro de ausência de destino em suas consultas. "O principal problema é a lentidão e a indisponibilidade do sistema do Ministério da Saúde em determinados momentos. Muitas vezes fazemos requisições a API e a mesma retorna 'Erro 404', que significa caminho ou destino não encontrado."
O estado de São Paulo especificou que as "estatísticas posteriores à alteração deixaram de incluir parte dos casos leves de covid-19 notificados no decorrer da pandemia, e estatísticas retroativas não foram migradas para novos campos inseridos na base de dados".
E acrescenta que "a nova API e orientações do ministério não permitem a identificação destes dados". Segundo o estado, nenhuma dessas falhas ainda foi corrigida.
Como resposta aos problemas relatados, o Ministério da Saúde informou que o sistema e-SUS está estável e não há relatos de novas ocorrências.
O consórcio de veículos de imprensa é formado por UOL, O Estado de S. Paulo, Folha de S.Paulo, O Globo, g1 e Extra e todos os dias trabalham de forma colaborativa para coletar dados sobre a covid nas secretarias estaduais de saúde das 27 unidades da federação.
O governo federal, por meio do Ministério da Saúde, deveria ser a fonte natural desses números, mas atitudes de autoridades e do próprio presidente durante a pandemia colocam em dúvida a disponibilidade dos dados e sua precisão.
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