'Lua de mel' pós-bariátrica? Acompanhamento psicológico é importante
Todas as cirurgias têm riscos e com a bariátrica não é diferente. Embora seja um procedimento de alta complexidade, há um consenso entre os especialistas sobre os diversos benefícios à saúde que ela traz —o que não significa que seja fácil de enfrentar, longe disso.
"A 'lua de mel' dura em torno de dois anos após a cirurgia bariátrica, quando é mais fácil perder peso, mesmo sem seguir uma dieta correta. Os pacientes ficam com isso porque podem comer de tudo, mas quando acaba esse período, o metabolismo desacelera e a pessoa volta a engordar", alertou Luiza Schmidt Heberle, preceptora da residência médica no Serviço de Psiquiatria do Hospital São Lucas da PUCRS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul), durante o XXXVIII CBP (Congresso Brasileiro de Psiquiatria), em Porto Alegre (RS), nesta quarta-feira (6).
Segundo ela, é muito importante mostrar para o paciente que não existe mágica e que ele precisa se preparar para fazer a bariátrica mentalmente.
Fátima Vasconcellos, presidente da APERJ (Associação Psiquiátrica do Rio de Janeiro), destaca que "pacientes obesos são deprimidos, e deprimidos podem ficar obesos".
Além disso, com o passar dos anos, o apetite vai aumentando, o peso estabiliza, os problemas podem retornar e, com eles, os velhos hábitos. Muitos podem ficar deprimidos, inclusive, já no pós-operatório, por não terem se preparado como deveriam.
Nesse sentido, vale a reflexão: eu estou preparado psicologicamente para tal mudança? Algumas pessoas não atingem a perda de peso esperada ou, pior, muitos ainda ganham os quilos perdidos de volta, entre dois e 10 anos após o procedimento. Por isso a saúde mental precisa estar preparada para a "nova fase".
Obesidade segue crescendo entre a população
A partir de 1970, segundo os especialistas, a obesidade tem aumentado continuamente. Além do acúmulo de gordura corporal, muitos pacientes têm outras comorbidades como diabetes tipo 2, hipertensão, síndrome metabólica e diversas outras doenças cardiovasculares.
De acordo com o Ministério da Saúde, em 2019, a prevalência da obesidade chegou a 24% nas pessoas entre 45 e 54 anos. Além disso, a doença se concentra na população com menor escolaridade: 0 a 8 anos, 24%; 9 a 11 anos, 19,9%; acima de 12, 17,2%.
Outras causas estão relacionadas a hábitos alimentares inadequados, sedentarismo, genética, entre outros. Estudos têm mostrado que a mortalidade em pessoas obesas é mais alta devido ao suicídio e comportamento impulsivo.
A presença de compulsão alimentar é vista por vários especialistas como o pior prognóstico para a cirurgia. Sabe aquela mania de beliscar só um pouquinho ou apenas "experimentar" algo mesmo sem estar com fome e que não havia planejado? Pois bem, quando não conseguimos parar com esse hábito, é um claro sinal de que não estamos prontos para ir para a mesa de cirurgia.
Cuidado: vício por comida pode ser trocado por álcool
Quando perdemos um hábito, como o de comer em excesso, é natural que o corpo busque outro. Nesse caso, segundo as especialistas, o mais comum é o abuso de álcool.
"Mesmo quem não tem o hábito corre o risco de desenvolver alcoolismo depois da cirurgia", explica Heberle. Começa com aquele famoso: "vou tomar só uma tacinha". "Depois a pessoa quer reduzir, mas não consegue", acrescenta a médica.
Como reconhecer um transtorno pelo excesso de álcool?
- Quando o consumo é elevado ou por um período mais longo que o programado;
- Existe um desejo persistente em parar de beber, mas é inevitável controlar ou mesmo reduzir;
- É preciso sair para comprar alguma coisa, mas não pode porque está de ressaca;
- Deixar de passar tempo com a família para beber;
- Irritabilidade, violência física ou verbal contra pessoas próximas;
- Abandono de atividades que gostava de fazer ou até do trabalho para ter "mais tempo" para beber;
- Ter consciência de que está doente;
- Achar que não está bêbado e pode dirigir;
"Dois desses fatores por, no mínimo, um ano, a gente já pode considerar que isso é problemático", ressalta Heberle. Um estudo realizado por diversos pesquisadores, cujo objetivo era investigar o aumento da sensibilidade ao álcool após a cirurgia bariátrica, apontou que 93,1% dos pacientes operados e 96% dos controles tiveram o consumo de álcool classificado como de baixo risco pela OMS (Organização Mundial da Saúde). No entanto, os que fizeram a bariátrica apresentaram um risco maior de diagnósticos de abuso de álcool em comparação aos controles.
Os especialistas reforçam que todo o vício precisa ser tratado por profissionais especializados, e que no caso da cirurgia bariátrica a atenção deve ser ainda maior quanto ao possível abuso de álcool.
Por isso, se você pensando em fazer uma cirurgia bariátrica, além dos médicos convencionais, procure também tratamento psiquiátrico especializado.
*Repórter viajou a convite da ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria).
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