Empresa deve investir no cuidado com saúde mental do funcionário
A pandemia mudou a vida das pessoas drasticamente, mas a saúde mental já vinha se deteriorando muito antes disso tudo acontecer, sobretudo no ambiente de trabalho. Isso ocorre porque muitas condições estabelecidas pela empresa impactam de forma negativa na produtividade, capacidade e até nas relações familiares e sociais da pessoa.
"As pessoas estão adoecidas e continuam trabalhando", disse Letícia Mameri, psiquiatra pela ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria) e médica do trabalho pela ANAMT (Associação Nacional de Medicina do Trabalho), durante o XXXVIII CBP (Congresso Brasileiro de Psiquiatria), em Porto Alegre (RS), nesta quarta-feira (6).
Os fatores psicossociais têm relação com o ambiente proporcionado, as condições de trabalho (no caso, a falta delas), a empresa em si, as funções, esforços individuais, entre outros. "A primeira coisa que temos que fazer é identificar o funcionário que está doente. Mas, para isso, nós precisamos ir aos locais de trabalho para fazer um rastreio de diagnóstico e, depois, se for o caso, encaminhá-lo para tratamento".
Sua empresa conta com profissionais da saúde mental?
De acordo com a especialista, o ideal seria trabalhar a prevenção, ou seja, tentar impedir de alguma forma que a pessoa fique doente. Avaliar se ela tem o perfil para estar ali, se ela se sente reconhecida, se é cobrada além do que consegue entregar, como é a relação com seus superiores diretos, tudo isso é importante para prevenir possíveis transtornos mentais e, consequentemente, doenças físicas.
Também é preciso entender as características pessoais, como a infância, relacionamento, se tem filhos, como é a rotina, se tem momentos de lazer, e o ambiente da empresa.
E vale dizer que, embora os riscos psicossociais não sejam reconhecidos pela legislação brasileira, eles existem —em outros países, muitas empresas já mapeiam e gerenciam a saúde mental dos funcionários.
Mameri ainda ressaltou o cuidado que os psiquiatras devem ter ao afirmar que o paciente tem uma doença ocupacional. No caso dos profissionais de saúde que estão no combate à pandemia, por exemplo, muitos deles estão ou já ficaram doentes no trabalho. Mas é preciso ficar atento.
"Não é possível fazer uma avaliação por causa do trabalho sem fazer exame nenhum. Porque a gente tem que ser justo. Não que a pessoa esteja simulando, mas pode ser uma coisa que não está relacionado ao trabalho", alerta. Para afirmar que um paciente ficou doente, exclusivamente, por causa do trabalho, são necessários, no mínimo, três atendimentos.
Veja sinais de que o funcionário pode sofrer de problemas emocionais:
- Diminuição de atenção e concentração
- Irritabilidade
- Tristeza
- Depressão e ansiedade
- Estresse e burnout
- Isolamento
- Falta ao trabalho
- Redução no desempenho
- Consumo de álcool e outras drogas
Cuidado com o "presenteísmo"
Esse termo usado pela psiquiatra refere-se à quando a pessoa está presente só fisicamente. "Ela vai, mas não vai. Depois começam a vir os afastamentos de curto prazo, e depois de longo prazo", diz a psiquiatra.
No entanto, primeiro vem a exposição assintomática, ou seja, a pessoa não está bem, mas ainda não sabe disso. Depois é a fase pré-clínica, seguida do "presenteísmo", afastamento a curto prazo, longo prazo e, por fim, incapacidade permanente.
É importante que o gestor tenha a sensibilidade para perceber possíveis sinais de que algo não vai bem e avaliar se realmente o funcionário tem o perfil para aquele trabalho. Às vezes, uma simples conversa pode evitar uma série de problemas: se uma pessoa não leva jeito para fazer algo específico, ela pode fazer outra.
"Para mim, o trabalho tem que ser sinônimo de cura e terapêutico. Se isso não está acontecendo, alguma coisa tem de errado. Eu tenho que entender do indivíduo qual a visão dele em relação ao que está acontecendo, porque, às vezes, um chefe sabe motivar, já outro desmotiva. Trabalho não é para adoecer", diz.
Mas não pense que só o funcionário sai perdendo em uma empresa que o enxerga apenas como um número. Entre tantos outros problemas, há diminuição na qualidade do serviço e na produtividade, aumento da rotatividade, afastamentos e até acidentes de trabalho.
*Repórter viajou a convite da ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria).
Vem aí a 2ª Semana da Saúde Mental VivaBem
Na pandemia, a saúde mental do brasileiro piorou. Incertezas e mudanças na rotina geradas pelo coronavírus, o isolamento social, o sedentarismo, entre outras situações, resultaram no aumento do estresse, da ansiedade e de outros transtornos.
O Brasil, que antes da pandemia já era o primeiro em casos de ansiedade do mundo, tornou-se o país com maior número de deprimidos na quarentena. Falar sobre o assunto é o primeiro passo para tratar esses problemas e encontrar equilíbrio mental.
É o que vamos fazer na 2ª Semana VivaBem da Saúde Mental, que será iniciada com um evento ao vivo, exibido no dia 14/10, a partir das 14h, no Youtube e no Canal UOL. Com apresentação da jornalista Mariana Ferrão, o evento terá cinco painéis, em que psicólogos, psiquiatras e convidados especiais vão falar sobre saúde mental sem tabu.
Confira aqui a programação completa do evento e fique de olho no Instagram do VivaBem para saber mais sobre a 2ª Semana VivaBem da Saúde Mental, que tem patrocínio de Libbs Farmacêutica.
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