Beijo mantém a chama acesa e outros vínculos; entenda como isso ocorre
Resumo da notícia
- A boca tem muitas terminações nervosas que tornam a região altamente sensível ao toque
- Um beijo sinaliza o cérebro, que, por sua vez, libera substâncias como a dopamina, ocitocina e serotonina
- Normalmente, o beijo cria e fortalece vínculos afetivos como a confiança, amor, carinho, cuidado. É uma forma de concretizar o que sentimos
- Ele também ajuda na identificação da compatibilidade em um relacionamento amoroso, já que a boca tem um maior potencial libidinoso
Prazer, carinho e cumplicidade são alguns dos sentimentos mais comuns quando o assunto é beijo. O ato de beijar é uma forma de concretizar e transformar em algo visível aquilo que sentimos.
O beijo sofreu várias modificações ao longo dos séculos. Hoje, a forma como o conhecemos faz parte da nossa cultura, mas há outras comunidades nas quais ele não têm as mesmas características —embora se faça presente por meio de outros gestos.
O beijo é tão importante que conta, inclusive, com uma ciência própria para estudá-lo, chamada de filematologia. Ela é responsável por investigar o ato em diversos aspectos, como comportamentais, sociais, neurológicos, fisiológicos, histórico.
No quesito fisiológico, o beijo ativa os sentidos como o olfato, paladar e tato, pois os lábios possuem uma série de terminações nervosas que tornam a região mais sensível ao toque.
Influenciado pelas experiências pessoais de cada um, o beijo é capaz de enviar diversos sinais para uma área específica do cérebro que causa a liberação de substâncias químicas importantes chamadas de neurotransmissores. Eles são os "mensageiros da informação" e influenciam diretamente na forma como nos sentimos e pensamos.
"Porém, os efeitos que sentimos e a intensidade dependem do tipo de neurotransmissor e dos neurônios sobre os quais atuam", diz Renata Ferreira Sgobbi, neurocientista e pesquisadora do LNN (Laboratório de Neuroanatomia & Neuropsicobiologi) da FMRP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto) da USP (Universidade de São Paulo).
A especialista destaca os principais neurotransmissores que são estimulados pelo beijo:
- Dopamina: responsável pela sensação de prazer, bem-estar, desejo, alegria. Ela ativa o sistema de recompensa, sendo importante para a formação de laços e, especialmente, por fazer do amor uma experiência gratificante;
- Serotonina: responsável pela excitação e otimismo;
- Epinefrina: responsável por aumentar a frequência cardíaca;
- Ocitocina: também conhecida como "hormônio do amor", tem propriedades calmantes, responsável pela sensação de afeto e confiança.
O amor, o carinho e a atração são validados por meio das ações, e o beijo é uma das representações de afeto. "A partir dele geramos uma cascata de substâncias neurais que nos promove sensações de prazer, cultivando sentimentos nobres como o amor", explica Lorena Bochenek, neurologista, psicóloga e psicanalista da AmorSaúde (GO), rede de clínicas parceira do Cartão de TODOS. "Freud já descreveu que somos feitos por zonas erógenas, e uma parte essencial da nossa construção da subjetividade é determinada por uma fase oral, na qual conhecemos o mundo pela boca", diz.
A neurologista da AmorSaúde destaca um dos trabalhos da neurocientista Wendy Hill, da Lafayette College (EUA). Nele, os especialistas avaliaram quinze casais, com idades entre 18 e 22 anos. Os voluntários foram divididos em dois grupos: no primeiro, o beijo era liberado e no segundo, apenas as mãos podiam ficar entrelaçadas.
Ao final do estudo, os especialistas avaliaram que o cortisol (hormônio do estresse) diminuiu no corpo dos participantes do primeiro grupo. Já a ocitocina aumentou na corrente sanguínea.
Li Li Min, pesquisador, professor titular e chefe de Departamento de Neurologia da FCM (Faculdade de Ciências Médicas) da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) ressalta ainda a importância do sistema límbico, localizado em regiões específicas do cérebro, como o hipotálamo, que está associado ao comportamento e às emoções. "Quando damos um beijo dentro de um contexto emocional, esse sistema ativa um circuito dentro do cérebro que é a via do prazer e recompensa", diz Min, acrescentando que o sistema límbico ajuda a reger o comportamento humano.
De acordo com Bochenek, o corpo todo tem um potencial erótico, mas algumas áreas (como a boca) são predestinadas a estimular melhor a libido. Por isso, o beijo pode provocar sensações como prazer, coração acelerado, calafrios, calor, entre outras.
Veja alguns estímulos provocados pelo beijo:
- Emocionais: ligados ao prazer, relaxamento, carinho, bem-estar, atenção, euforia, fortalecimento de vínculos, alívio da ansiedade e estresse;
- Orgânico: ocorre uma troca intensa de estímulos sensoriais associados à capacidade inconsciente de coletar informações importantes sobre a outra pessoa;
- Físico: beijar movimenta vários músculos do corpo, além de melhorar a pressão sanguínea.
"Por meio desse gesto, corpo e cérebro possibilitam à pessoa perceber a compatibilidade no relacionamento", avalia Leticia Andrade, psicóloga na clínica Affetos (PE).
Segundo um estudo realizado pelos pesquisadores Rafael Wlodarski e Robin Dunbar, da Universidade de Oxford, no Reino Unido, o beijo, de forma inconsciente, pode desempenhar um papel significativo no processo de avaliação do parceiro e na manutenção do relacionamento.
É importante diferenciar os tipos de beijo
Em todos os contextos, o beijo demonstra algum tipo de afeto. Mas existem diferenças importantes entre o beijo familiar, social, romântico e até mesmo erótico.
Normalmente, todos os tipos são carregados de significados e ligados a bons sentimentos. Por isso ele é muito importante para manter os laços afetivos entre as pessoas, não só em relações amorosas.
"O beijo traz conforto, confiança e sensação de plenitude. Portanto, é o meio ideal para estabelecer vínculos de união, amor e de desejo", conclui a neurologista e psicóloga da AmorSaúde.
Fontes: Fernando Gomes, neurocirurgião, neurocientista, especialista em comportamento e professor livre docente do Hospital das Clínicas de São Paulo; Leticia Andrade, psicóloga na clínica Affetos (PE); Li Li Min, pesquisador, professor titular e chefe de Departamento de Neurologia da FCM (Faculdade de Ciências Médicas) da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas); Lorena Bochenek, neurologista, psicóloga e psicanalista da AmorSaúde, rede de clínicas parceira do Cartão de TODOS (GO); Renata Ferreira Sgobbi, neurocientista e pesquisadora do LNN (Laboratório de Neuroanatomia & Neuropsicobiologia) da FMRP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto) da USP (Universidade de São Paulo).
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