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'Falta de privilégios nos empurra para a depressão', diz psicanalista

Colaboração para VivaBem

14/10/2021 16h30

Transtornos de ansiedade e depressão são cada vez mais comuns. Apesar disso, esses dois problemas ainda estão cercados de mitos e preconceitos que prejudicam o diagnóstico e muitas vezes inibem a pessoa que precisa de tratamento a buscar ajuda médica ou até mesmo a procurar o apoio de pessoas de seu círculo social e familiar.

Para Manuela Xavier, psicanalista e doutora em psicologia clínica, essa visão acaba criando um estereótipo do indivíduo que tem sofre com essa doença. "É muito comum ouvir 'gente, fulano não tem motivo para ter depressão', como se a pessoa precisasse de uma razão para ficar assim", afirma ela, que participou do segundo painel da 2ª Semana da Saúde Mental VivaBem nesta quinta-feira (14).

A especialista afirmou ainda que ter uma vida com privilégios —ou seja, bens materiais e realização profissional, por exemplo— não impede que as pessoas sofram de transtornos mentais e depressão. "Mas a falta desses privilégios nos empurra para ela", acredita.

Contexto social é importante

Durante o painel, que ainda teve a participação do ex-jogador de futebol e comentarista do SBT Cicinho e foi mediado pelo psiquiatra e colunista de VivaBem, Jairo Bouer, a psicanalista ainda falou sobre a tentativa de algumas pessoas de desqualificar a pessoa depressiva. "Depressão não é tristeza, não é fraqueza e não é falta de Deus", disse. "Quando alguém diz isso, é como se a pessoa quisesse justificar que o problema é do outro, mas ela está livre disso", diz.

Ela ainda lembra que o contexto social é fundamental para entender as razões pelas quais os homens acabam sofrendo em silêncio e liderando o ranking de vícios (como em álcool) e suicídios. "A depressão também tem raízes machistas, os homens não vão ao médico, ao psicólogo, eles não são ensinados a trabalhar os próprios sentimentos", afirma. "É uma doença que tem interferência de questões sociais e políticas", acredita.

Julgamentos não ajudam a melhorar

Durante o bate-papo, os convidados ainda falaram sobre como ainda existe uma imagem sobre o que uma pessoa com depressão deve parecer. Mas isso pode inibir a pessoa em sofrimento de procurar ajuda. "As pessoas acham que alguém com depressão fica 24 horas na cama, sem tomar banho, se vai a uma festa já perguntam 'ué, foi na festa?', como se alguém depressivo não pudesse sair de casa", disse Manuela. "Isso é reforçar um estereótipo e não é sobre isso, existem respostas diferentes [de cada pessoa]", afirma.

Se, por um lado, esse julgamento acaba isolando ainda mais a pessoa depressiva, por outro, o excesso de empatia também não é benéfico. "Perdemos a noção", acredita a especialista. "Você não sabe o que a pessoa está passando [quando diz 'eu sei o que você está sentindo]", acredita.

Para ela, é fundamental lembrar que é necessário um trabalho enorme para devolver à pessoa depressiva o sentido das coisas, mas que ela não será salva. "Você vai caminhar junto, e essa pessoa precisa saber que será acolhida e não julgada ou culpabilizada [pela situação]."