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'Não é porque sou homem que eu sou mais forte', diz Cicinho sobre depressão

Bruna Alves

Do VivaBem, em São Paulo

14/10/2021 17h43

Ex-jogador de futebol e comentarista do SBT, Cicinho falou sobre o período em que teve depressão em um bate papo na 2ª Semana da Saúde Mental VivaBem nesta quinta-feira (14).

"Eu tentava esconder, maquiar a minha depressão, de que maneira? Com bebida, eu procurava ficar alcoolizado o maior número de horas possível, fumava, fazia compras gastando rios de dinheiro e sempre colocava o máximo de pessoas dentro da minha casa para ficar mais tempo sem pensar no meu quadro", recorda-se.

"E isso cada dia mais me levava para o fundo do poço. A vida não tinha sentido para mim", disse Cicinho durante o debate, que foi mediado pelo médico psiquiatra Jairo Bouer e ainda teve a participação da psicanalista e doutora em psicologia clínica Manuela Xavier.

Na época em que enfrentou a doença, ele estava no auge de sua carreira, jogando em um dos maiores times do mundo e pela seleção brasileira. Por isso, ele pensava que não poderia ficar doente. "Como que uma pessoa famosa assim vai ter depressão?", questionava-se.

Cicinho lembrou ainda que descobriu a doença "por acaso", durante uma entrevista com uma psicóloga no clube do São Paulo, onde jogava. "Mas antes disso, eu me fechava e vivia o meu mundo porque tinha medo do julgamento das pessoas", conta.

Ele então lembrou que a doença não acontece apenas com pessoas de determinada classe social ou contexto. "[a doença] não escolhe posição, não escolhe cor, não escolhe pessoas, ela pega aquela que está vulnerável", afirmou. "Eu sempre tracei planos para a minha vida profissional e quando eu atingi tudo aquilo que eu almejava, eu não via mais o que conquistar. Isso fez com que eu me entregasse ao alcoolismo, ao tabaco", contou.

Cicinho revelou ainda que chegou a ouvir que "aquilo" ia passar, que bastava "tomar uma e pronto". Por outro lado, o comentarista ressaltou que é extremamente importante buscar ajuda especializada, pois a depressão é uma doença que se não tratada pode, inclusive, levar ao suicídio.

Hoje estima-se que uma em cada cinco pessoas vai enfrentar uma fase de depressão durante a vida. "Eu sou fraco, limitado e forte também como qualquer outra pessoa. E eu preciso entender isso e reconhecer a minha limitação", diz.

Dias melhores e dias piores

O comentarista ainda explicou que, às vezes, a pessoa depressiva até acorda e tenta tirar forças de onde não tem para levantar. "Eu convivi num quadro de depressão de oito a 10 anos, mas somente após esses 10 anos descobri", relata.

De acordo com ele, um dos maiores erros é a pessoa querer mostrar para as outras que está tudo bem, sendo que, na verdade, há um completo vazio dentro dela.

"É preciso reconhecer que há um vazio dentro de você que precisa ser preenchido. Foi dessa maneira que eu procurei solucionar o problema que eu vivia", disse Cicinho, lembrando que depois que parou de jogar futebol, ainda ficou dois anos sem trabalhar.

Foi só ao levar um "puxão de orelha" da filha de sete anos que ele decidiu fazer alguma coisa da vida novamente. Hoje ele diz que o trabalho de comentarista o ajuda a preencher o seu tempo e a ter um propósito.

"Graças a Deus eu me sinto curado, mas sei que a depressão não é brincadeira, é uma luta constante e a todo o momento nós estamos sujeitos", conclui.