Vidro, plástico, metal: tem alguma embalagem que protege melhor o alimento?
Resumo da notícia
- Embalagens ajudam na retenção ou manutenção do sabor dos alimentos, além de evitar a absorção de aromas ou sabores indesejáveis
- Embalagem não deve influenciar no sabor do alimento, mas tintas de impressão, materiais de limpeza têm odores que podem penetrá-la
- O vidro possibilita manter os alimentos distantes de outros elementos que poderiam oxidar ou danificar o produto para o consumo
"Em cada 10 compras, sete compras de alimentos são influenciadas pelas embalagens", garante Michele Rigon Spier, professora associada do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Alimentos, no Departamento de Engenharia Química da UFPR (Universidade Federal do Paraná). Ela explica que, tecnicamente, as embalagens dos alimentos apresentam quatro funções: proteção, comunicação, conveniência e contenção.
Portanto, elas têm importante função na proteção e conservação dos alimentos armazenados. "Elas ajudam na retenção ou manutenção do sabor dos alimentos, além de evitar a absorção de aromas ou sabores indesejáveis", diz Spier. Portanto, a embalagem não deve influenciar no sabor do alimento, mas tintas de impressão, materiais de limpeza, combustível do transporte, ambiente de estocagem, entre outros, têm odores que podem penetrar a embalagem e atingir os alimentos, prejudicando não apenas sua qualidade, mas também sua vida útil.
Qual o papel da embalagem?
Cada embalagem possui uma estrutura e composição específica que possibilitam uma diversidade de funções que a indústria de alimentos deseja que o produto contenha até chegar nas prateleiras dos supermercados e ao momento do consumo.
Na prática, elas devem ser planejadas para proteger o produto e, um de seus principais requisitos, é a não interação com o alimento acondicionado, funcionando assim como uma barreira inerte entre o alimento e o ambiente.
"Isso aumenta a segurança do alimento de acordo com os seguintes mecanismos: barreiras a contaminações (microbiológicas e químicas) e prevenção de migração de seus próprios componentes para o alimento", detalha o nutricionista Georgi Wayne, com formação em engenharia de alimentos pela UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) e especialização em gestão em segurança dos alimentos.
Por meio das embalagens, os alimentos ficam protegidos contra microrganismos deteriorantes, tais como fungos e bactérias que estão naturalmente presentes no meio ambiente. "Sem as embalagens esses microrganismos encontram no alimento nutrientes necessários para a sua multiplicação", alerta Spier.
Vidro protege mais?
De acordo com Wayne, a embalagem de vidro é uma excelente barreira contra formação de gases e odores, além de garantir a estabilidade de pigmentos e vitaminas.
"O vidro começou a ser amplamente utilizado para guardar alimentos, por ser impermeável e ao mesmo tempo transparente", diz o médico nutrólogo Edson Credidio, pós-doutor em ciências de Alimentos pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
O vidro apresenta maior durabilidade, resistência e impermeabilidade. "Ele possibilita manter os alimentos distantes de outros elementos que poderiam oxidar ou danificar o produto para o consumo", acrescenta Credidio. E é mais indicado para armazenar alimentos perecíveis como conservas e molhos. Wayne explica que tais alimentos, ao serem acondicionados no vidro, necessitam de menos conservantes e estabilizantes.
Além disso, o vidro esverdeado ou de cor âmbar, por exemplo, funciona como uma ótima proteção contra a luz, "preservando eventuais compostos antioxidantes presentes em alguns produtos, como o azeite, vinho e cerveja", informa o nutricionista potiguar. Dessa forma, o vidro tem grande aceitabilidade porque oferece um grau de sofisticação demonstrando que o produto apresenta boa qualidade, preservando as características do alimento e causando menos impacto ambiental.
Plástico é realmente um vilão?
O plástico pode apresentar problema de migração de componentes quando é aquecido (em micro-ondas) ou quando é produzido com aditivo para oxibiodegradar. Spier explica que isso gera microplásticos, ocasionando migração dessas micropartículas ou nanopartículas aos alimentos ou bebidas em que se encontram acondicionadas. "Estudos demonstram que microplásticos e nanoplásticos podem acumular-se no organismo e estar associado a alguns distúrbios ou doenças", enfatiza.
Além disso, é um material com menor durabilidade, que tende a impregnar-se com o cheiro, a cor e o gosto dos alimentos que foram armazenados. "Pode ser indicado para o acondicionamento de alimentos secos, que não precisam ser aquecidos, como alimentos em pó, grãos e sementes", indica Wayne. Ainda assim, ele diz que se estiverem em embalagens plásticas bem conservadas e acondicionadas de maneira correta não vão impactar na saudabilidade.
A indústria de embalagens para alimentos tem tido cuidado especial, além de seguir normas e legislações específicas para uso de tipos de embalagens para os alimentos. E mesmo o uso do plástico deve respeitar vários critérios/requisitos sanitários e apresentar isenção de migração de componentes aos alimentos.
De olho em outras embalagens
Já as embalagens metálicas de alimentos industrializados (tais como latas de sardinha e atum) são fabricadas com camadas que protegem a composição metálica do alimento e, segundo Spier, são consideradas seguras para os consumidores. A dica é apenas observar se as latas não apresentam oxidação, amassamento ou fissuras que podem comprometer a qualidade do produto final.
Em contrapartida, Thais Fagury, engenheira de alimentos e presidente da Abeaço (Associação Brasileira de Embalagens de Aço), ressalta que mesmo os alimentos preservados em latas de aço amassadas não representam risco à saúde. "As latas de aço atualmente colocadas no mercado têm uma película interna elástica que não se rompe e que se molda à embalagem sem prejudicar a qualidade dos alimentos", confirma.
Fagury explica que essa mudança na película, que antes era rígida e agora se tornou flexível, garantiu que o alimento não entrasse em contato com o aço, mesmo quando a lata está amassada, não desprendendo resíduo da liga metálica. No entanto, é comum o consumidor confundir lata amassada e lata que apresenta estufamento. E é essencial destacar que a lata estufada indica que o alimento não foi processado adequadamente, sendo que neste caso a contaminação não é causada pela lata, mas por falha no processamento.
E o valor nutricional, pode ser alterado?
Existem vitaminas que são sensíveis quando expostas à luz, ao oxigênio, à umidade ou ao calor. E alguns componentes dos alimentos podem sofrer oxidação, se a embalagem não contiver barreira ao oxigênio, ou sofrer fotoxidação (se a embalagem não apresentar barreira contra a luz).
"Um dos fatores que o consumidor deve ter atenção é a uma embalagem rompida. No momento em que ela foi aberta, seu processo de degradação foi iniciado, estando atrelado à preservação da qualidade nutricional dos alimentos", alerta Wayne.
Por isso, no momento da escolha, verifique a integridade da embalagem, se o lacre e a tampa estão firmes, se não há vazamentos e sem evidências de violação, sem indícios de ferrugens, sem sujeira aparente e possíveis abaulamento da embalagem, pois todos esses aspectos aceleram a degradação do alimento.
E o cuidado se estende ao vidro também. Alguns vidros trincam se congelados ou não são temperados para serem aquecidos. Por isso, se notar alguma trinca ou risco profundo na hora da abertura da tampa, não reutilize para armazenar os alimentos.
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