Edentulismo: perda dos dentes atrapalha a saúde física e mental do idoso
Sorrir é um ato simples que demonstra felicidade e aproxima as pessoas. No entanto, a perda de alguns (ou todos) os dentes costuma envergonhar e inibir o sorriso. Infelizmente, a perda dentária é muito comum em idosos: cerca de 41% das pessoas com mais de 60 anos já perderam todos os dentes, de acordo com o IBGE. A perda total ou parcial dos dentes é chamada de edentulismo.
Além da questão estética, a perda dos dentes afeta o organismo como um todo. "Os dentes desempenham funções na mastigação, na digestão, na fonética (na pronúncia), na estética ao dar suporte aos lábios e compondo o sorriso e nas relações sociais ao facilitar a socialização das pessoas", explica Eduardo Hebling, coordenador do curso de especialização em odontogeriatria da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
Com isso, os idosos podem se alimentar de forma inadequada e consumir menos fibras, minerais, vitaminas e proteínas, que são importantes para evitar a desnutrição e a perda muscular.
Para Danila Nunes, responsável pela odontologia do HU-UFMA (Hospital Universitário da Universidade Federal do Maranhão), não ter mais os dentes impacta tanto na saúde física quanto na mental e compromete bastante a qualidade de vida.
"Em relação aos danos psicológicos, é comum que os idosos sem dentes diminuam o convívio social", explica.
Por que isso acontece?
Os principais fatores que levam à perda do dente são cárie e doença periodontal. A cárie está relacionada com a dieta (excesso de açúcar e carboidratos) e uma higiene bucal inadequada.
Já a doença periodontal ocorre devido à presença da placa bacteriana que se adere aos dentes, causando inflamação na gengiva, levando à perda dentária.
"No caso dos idosos, a diminuição do fluxo salivar é um dos fatores de risco, já que a saliva possui inúmeras funções, entre elas, proteger contra bactérias da boca", afirma Denise Tibério, presidente da Câmara Técnica de Odontogeriatria do Crosp (Conselho Regional de Odontologia de São Paulo).
Segundo a especialista, o idoso de hoje não se beneficiou da água fluoretada, que chegou ao país em meados de 1970. Pesquisas apontam que o flúor disponível na água reduz as chances do surgimento de cáries.
Além disso, muitos consideravam a perda do dente como um processo que fazia parte do envelhecimento. Por isso, não procuravam um cirurgião-dentista.
"Esses fatores mais a falta de consciência de prevenção faz com que os idosos de hoje, principalmente os com idade superior a 80 anos, na maioria das vezes, sejam desdentados", completa.
E à medida que a pessoa envelhece, há perda da massa muscular, assim fica mais difícil realizar uma higiene de forma correta ao limitar os movimentos. Isso compromete a qualidade da higiene bucal e traz consequências como cáries e perda dos dentes.
Tratamentos inacessíveis
Outra questão apontada pelos especialistas consultados por VivaBem é o custo elevado dos tratamentos dentários. Nem sempre os indivíduos tinham condições de visitar um cirurgião-dentista.
É o que conta a aposentada Ruth Clemente, 81. Quando era jovem, ela teve algumas cáries e não tinha condições de pagar pelo tratamento adequado.
"Visitei um dentista e fui aconselhada a extrair todos os dentes para não ter mais cáries, ou seja, evitar gastos. Antes dos 30 anos, já estava usando dentadura (prótese móvel). Perdi muitos dentes que estavam bons. Antigamente, não recebíamos informações de prevenção", conta.
Como afeta a saúde
Não ter mais dentes ou precisar usar próteses dentárias impacta diretamente na saúde do indivíduo. Diversos estudos realizados no mundo todo destacam quais são os efeitos do edentulismo na qualidade de vida.
Veja como a perda dentária afeta o organismo:
Alterações na dieta: a dentição prejudicada impõe algumas restrições na dieta, pois afeta a mastigação, o sabor dos alimentos e muda as escolhas alimentares. Com isso, há uma menor ingestão de frutas e vegetais, aumento do colesterol "ruim" e gorduras saturadas.
Obesidade e problemas no coração: também há estudos que apontam maior risco de obesidade, doenças cardiovasculares e distúrbios gastrointestinais. Isso ocorre, na maioria das vezes, devido a escolhas alimentares inadequadas.
Estomatite: quem usa próteses dentárias está mais propenso a machucar a boca e ter estomatite, ou seja, ter uma inflamação na mucosa oral.
Apneia: a perda dentária completa provoca alterações anatômicas que prejudicam a função das vias aéreas superiores, o que compromete a qualidade do sono. Com isso, a pessoa ronca demais ou engasga durante o sono.
Cuidados necessários
Durante toda a vida, é importante manter a higienização dos dentes, principalmente após as refeições. Para os idosos, as recomendações de prevenção são as mesmas.
"É imprescindível ir ao dentista regularmente. Esse profissional realiza o diagnóstico de alterações bucais de forma precoce e institui o tratamento adequado", diz Nunes.
Além disso, o cirurgião-dentista avalia e faz a manutenção das próteses e também verifica como está a quantidade de saliva. Vale destacar que o idoso possui características próprias da idade, como a pele que recobre a cavidade bucal mais fina, o que aumenta o risco de ferimentos.
De acordo com Tibério, esses machucados são a porta de entrada para bactérias na corrente sanguínea. "O manuseio da cavidade bucal deve ser criterioso. O especialista orienta a usar as escovas e pastas corretas, ensina técnicas de escovação e faz a limpeza dos dentes remanescentes, pois quanto mais lisos, menor a possibilidade de reter placa bacteriana. Prevenção é tudo", completa.
Dicas para manter a saúde bucal na terceira idade:
- Para evitar o ressecamento bucal, o idoso precisa se hidratar adequadamente. Por isso, precisa beber bastante água;
- A escovação deve ser realizada com uma escova macia e de forma firme, mas não com força excessiva. Isso causa um desgaste acentuado e provoca sensibilidade dentária;
- Realizar bochechos com antissépticos bucais, ao menos uma vez ao dia;
- Prevenir acidentes que possam levar ao trauma ou quebra dos dentes;
- Escolher um creme dental com flúor e usar fio dental com regularidade;
- Quem tem doenças preexistentes (diabetes, câncer ou doenças cardiovasculares) pode ter a saúde bucal mais comprometida. Por isso, é fundamental fazer um acompanhamento médico e com dentista para diagnosticar qualquer alteração de forma precoce;
- É importante cuidar adequadamente das próteses móveis. É fundamental fazer a higienização e retirar e inserir a prótese com bastante cuidado. E realizar consultas regulares com o cirurgião-dentista, principalmente se a prótese começar a incomodar.
Você já ouviu falar da odontogeriatria?
Com a população envelhecendo a cada dia, surgiu a especialidade odontogeriatria, ou seja, especialistas que focam o atendimento ao idoso e nas mudanças que ocorrem com o envelhecimento. Por isso, avaliam a saúde bucal dessas pessoas e ensinam formas de prevenção de doenças que atingem a região.
Além disso, esses profissionais têm conhecimentos específicos sobre anestésicos e antibióticos para que os procedimentos dentários sejam feitos com segurança. Muitos realizam atendimentos em domicílio, já que alguns pacientes estão acamados.
Segundo Hebling, o cirurgião-dentista identifica os estados de fragilidade e monitora as condições de saúde bucal em idosos, minimizando seus efeitos na saúde geral e na qualidade de vida dos pacientes.
"A diferença no atendimento para esse público em relação às outras faixas etárias da população está na forma de tratamento. Por apresentarem muitas alterações e doenças cronicodegenerativas, os idosos requerem cuidados especiais no atendimento."
Para o profissional, o envelhecimento não é sinônimo de perda dentária. "Atualmente, temos que ter como meta de vida envelhecer bem e com todos os dentes na boca", finaliza.
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