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Equilíbrio

Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


Andressa Urach alega ter borderline; como o transtorno afeta as pessoas?

A modelo atribuiu o fim conturbado do relacionamento com Thiago Lopes, no mês passado, ao transtorno de personalidade borderline - Imagem: Reprodução/Instagram@andressaurachoficial
A modelo atribuiu o fim conturbado do relacionamento com Thiago Lopes, no mês passado, ao transtorno de personalidade borderline Imagem: Imagem: Reprodução/Instagram@andressaurachoficial

Colaboração para VivaBem*

18/10/2021 11h07

A modelo Andressa Urach, 34, afirmou que passava por uma crise de borderline durante o término conturbado do casamento, no mês passado, e agradeceu ao marido Thiago Lopes por terem reatado no início do mês. Ela e o empresário trocaram acusações nas redes sociais até Lopes anunciar a volta, assumir o controle de Instagram de Urach e bloquear quem aconselhou a modelo a "seguir o pior caminho".

"Estamos em paz agora, voltamos para Jesus, a gente se batizou e se perdoou. Foi importante passar por essa fase difícil até para entender o que queremos da vida. Fiquei feliz de ele lutar por mim porque já tinha casado antes, não deu certo e não acreditava mais no amor. Todo primeiro ano é difícil e quando a gente terminou estava passando por aquelas crises de borderline. To fazendo tratamento com acompanhamento psiquiátrico, ajuda de psicólogos, tomando minhas medicações certinhas e a fé", disse a modelo.

Não há estatísticas sobre a prevalência do transtorno de personalidade borderline no Brasil. Na população mundial, é estimada em 2%, embora estudos mostrem que a proporção pode chegar a 5,9% —é que boa parte dos casos deve ficar sem diagnóstico adequado. Nos ambulatórios de psiquiatria, representa em torno de 20% dos pacientes. De 8 a 10% dos indivíduos com esse tipo de transtorno cometem suicídio, segundo a ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria).

O borderline, reconhecido como um dos transtornos mais lesivos, leva a episódios de automutilação, abuso de substâncias e agressões físicas. Além disso, cerca de 10% dos pacientes cometem suicídio. Além da montanha-russa emocional e da dificuldade em controlar os impulsos, o borderline tende a enxergar a si mesmo e aos outros na base do "tudo ou nada", o que torna as relações familiares, amorosas, de amizade e até mesmo a com o médico ou terapeuta extremamente desgastantes.

Muitos comportamentos do "border" (apelido usado pelos especialistas) lembram os de um jovem rebelde sem tolerância à frustração. Mas, enquanto um adolescente problemático pode melhorar com o tempo ou depois de uma boa terapia, o adulto com o transtorno parece alguém cujo lado afetivo não amadurece nunca.

O que é o borderline?

De forma resumida, um transtorno de personalidade pode ser descrito como um jeito de ser, de sentir, se perceber e se relacionar com os outros que foge do padrão considerado "normal" ou saudável. Ou seja, causa sofrimento para a própria pessoa e/ou para os outros. Enquadrar um indivíduo em uma categoria não é fácil —cada pessoa é um universo, com características próprias.

Os transtornos de personalidade costumam ser divididos em três principais grupos, ou espectros. Segundo essa classificação, o borderline está no espectro B, que reúne aqueles sujeitos que costumam ser chamados de "complicados", "difíceis", "dramáticos" ou "imprevisíveis".

Nesse grupo B estão, ainda, os narcisistas, os histriônicos e os antissociais. No grupo A estão os esquizoides, os esquizotípicos e os paranoides, muitas vezes taxados de "frios", "esquisitões" ou "com mania de perseguição". E no C estão os evitativos, os dependentes e os obsessivo-compulsivos (não confundir com o transtorno psiquiátrico), também vistos como "medrosos ou ansiosos", "frágeis" ou "certinhos demais", respectivamente.

O termo "borderline", que em inglês significa "fronteiriço", teve origem na psicanálise: esses pacientes não podiam ser classificados como neuróticos (ansiosos e exagerados),nem como psicóticos (que enxergam a realidade de forma distorcida), mas estariam em um estado intermediário entre esses dois espectros. O primeiro autor a usar o termo foi o psicanalista norte-americano Adolph Stern, em 1938, que descreveu o transtorno como um tipo de "hemorragia psíquica" diante das frustrações.

Diagnóstico mais frequente em mulheres

O diagnóstico é bem mais frequente entre as mulheres, mas estudos sugerem que a incidência seja igual em ambos os sexos. O que acontece é que elas tendem a pedir mais socorro, enquanto os homens são mais propensos a se meter em encrencas, ir para a cadeira ou até morrer mais precocemente por causa de comportamentos de risco. Quase sempre o transtorno é identificado em adultos jovens e os sintomas tendem a se tornar atenuados com o passar da idade.

Sintomas

Veja, a seguir, as principais características, também consideradas critérios de diagnóstico para o transtorno, e como eles se traduzem no dia a dia de um borderline:

  • Esforços desesperados para evitar o abandono (real ou imaginado): não é preciso dizer que o fim de um namoro ou casamento pode deflagrar uma crise. Mas mesmo situações corriqueiras, como o atraso do terapeuta ou o cancelamento de um encontro, podem ser interpretadas como sinal de rejeição.
  • Padrão de relacionamentos instáveis e intensos, caracterizados pela alternância entre extremos de idealização e desvalorização: é o típico "tudo ou nada", "amo ou odeio". O outro tem que ser perfeito e se errar, passa a ser depreciado. Assim, ao desmarcar uma consulta, o "melhor psiquiatra do mundo" se transforma em "lixo" e a mãe, que foi sempre um porto seguro, deixa de ser procurada, porque não atendeu a um capricho, só para citar alguns exemplos. Também é comum o "border" ficar íntimo rapidamente de alguém, alimentar um monte de expectativas e, logo depois, cair em frustração.
  • Perturbação da identidade ou instabilidade acentuada e persistente da autoimagem ou da percepção de si mesmo: a interpretação dos atos dos outros modela a imagem que o borderline constrói para si. "Ele não quis transar, porque devo ser feia"; "Tenho 'dedo podre' para relacionamentos"; "As pessoas se afastam de mim porque eu sou mau"... É frequente a pessoa se sentir um estrangeiro sem lugar no mundo. E a saída pode ser virar camaleão para tentar se adaptar a alguém ou à turma idealizada naquele momento: o borderline pode trocar de crenças, valores, carreira e até visual em curtos espaços de tempo.
  • Impulsividade em pelo menos duas áreas potencialmente autodestrutivas: para aplacar as sensações de vazio ou de rejeição, é comum recorrer a comportamentos que trazem alívio imediato. Eles podem se traduzir em compras compulsivas, abuso de álcool ou drogas, comportamentos sexuais de risco, direção perigosa, compulsão alimentar ou dietas restritivas demais. Os próprios relacionamentos (ou a sensação de ser amado e aceito que eles proporcionam) podem ser um vício, aliás.
  • Recorrência de comportamento, gestos ou ameaças suicidas ou de comportamento automutilante: uma maneira de extravasar esse turbilhão emocional é se machucar, cortar, furar ou queimar o próprio corpo. Ameaças de suicídio são frequentes e podem até ser feitas da boca para fora, mas o sofrimento, às vezes, é tanto que a ideia de acabar com a própria vida é concretizada, com o objetivo de "parar de sentir". Ao contrário das pessoas que planejam a própria morte e até deixam bilhete, é mais provável que no borderline a decisão seja tomada de impulso.
  • Instabilidade afetiva devida a uma acentuada reatividade do humor: em português claro, o borderline é como uma montanha-russa e a pessoa pode ir do céu ao inferno em algumas horas. Momentos de prazer e alegria podem dar lugar a sintomas depressivos ou ansiosos num mesmo dia. E a paixão intensa pode virar indiferença ou desprezo em uma semana.
  • Sentimentos crônicos de vazio: é comum estar sempre em busca de "algo diferente" para fazer na tentativa de aliviar o tédio e isso pode ser perigoso. O vazio existencial também pode ser manifestado como desinteresse ou falta de propósito e não é incomum a pessoa largar cursos, empregos e relacionamentos.
  • Raiva intensa e inapropriada ou dificuldade em controlá-la: a pessoa se irrita com muita facilidade, com reações desproporcionais ao estímulo, por isso é bem comum se envolver em agressões físicas com o parceiro amoroso, a mãe, o filho ou até um desconhecido. Depois, em geral, vem a culpa esmagadora, que só reforça a autoimagem negativa.
  • Ideação paranoide ou sintomas dissociativos transitórios: em situações de estresse intenso, pode acontecer de a pessoa achar que é alvo de conspirações (paranoia), ou então sair de si, perdendo contato com a realidade (distúrbio dissociativo). Mas esses sintomas são transitórios, diferente do observado em transtornos como a esquizofrenia, por exemplo.

Tratamento

Medicamentos ajudam a aliviar os sintomas depressivos, a agressividade e o perfeccionismo exagerado, e são ainda mais importantes quando existe um transtorno mental associado. Os fármacos mais utilizados são os antidepressivos (flluoxetina, escitalopram, venlafaxina etc), os estabilizadores de humor (lítio, lamotrigina, ácido valproico etc), os antipsicóticos (olanzapina, risperidona, quietiapina etc) e, em situações pontuais, sedativos ou remédios para dormir (clonazepan, diazepan, alprazolan etc). Esses últimos costumam ser até solicitados pelos pacientes, mas devem ser evitados ao máximo, porque podem afrouxar o controle dos impulsos, assim como o álcool, além de causarem dependência.

Nas crises, o paciente deve contar com uma equipe multidisciplinar, montada de acordo com cada caso e eventuais comorbidades. Ela pode incluir, além do terapeuta individual e/ou do psiquiatra, profissionais como acompanhante terapêutico, enfermeiro e até nutricionista.

* Com informações de matéria de 16/04/2018