No país mais ansioso do mundo, este transtorno ainda é tabu
Antes da pandemia, já eram quase 19 milhões de brasileiros convivendo com ansiedade e depressão, segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde). Os transtornos, que pioraram na pandemia, têm tratamento. Porém, ainda são encarados com desconfiança e julgamentos.
E este foi o tema debatido entre o psiquiatra Jairo Bouer, a psicanalista Manuela Xavier e o empresário e ex-jogador de futebol Cicinho, no bate-papo "Ansiedade e depressão sem tabu", parte da programação da 2ª Semana de Saúde Mental realizada por VivaBem na última semana. O evento foi apresentado por Mariana Ferrão, jornalista e CEO da Soul.me.
Frescura, fraqueza, mimimi, falta de fé. São muitos os adjetivos ainda usados para desqualificar quem se queixa de sintomas de depressão. "Porém, essa é uma questão séria que prejudica a vida social e que impede as pessoas de realizar atividades básicas e cotidianas que antes davam prazer", afirmou Jairo Bouer, que também é colunista de VivaBem e conduziu o papo. "E essas pessoas precisam de tratamento adequado, e não de julgamentos que só atrapalham mais."
Estima-se que uma em cada cinco pessoas no mundo ainda enfrentará episódios de depressão em algum momento da vida. Uma realidade que Cicinho conheceu de perto quando, no auge da carreira, em 2010, se viu imerso a uma angústia profunda, que o levou ainda a enfrentar problemas com alcoolismo. A descoberta de que o quadro tinha nome —e cura— veio durante uma entrevista com uma psicóloga do time em que atuava na época.
Depressão não escolhe estereótipos
Como alguém famoso poderia estar deprimido? A pergunta, que chegou a passar pela cabeça do próprio Cicinho, é comum. No entanto, não obstante ao maior acesso a tratamento que pessoas privilegiadas terão, o transtorno não escolhe classe social ou contextos específicos.
"Jogava em um dos maiores times brasileiros, tinha uma condição financeira tranquila. Então como poderia imaginar que alguém tão bem sucedido tinha depressão? Era algo muito pouco falado", lembrou o hoje empresário e comentarista.
Para Manuela Xavier, que é também doutora em psicologia clínica, é preciso esclarecer: "Nossos privilégios não nos imunizam de condições psíquicas que causam a depressão. Mas, claro, a falta deles nos leva a depressão."
Estar vulnerável talvez seja a única condição para ser acometido por esse e outros transtornos de humor e ansiedade. E justamente por essa situação de sensibilidade extrema, muitos acabam se fechando por medo de julgamentos e outros aspectos que contribuirão somente para a piora do quadro.
Influências culturais, um problema social
"Ao desqualificar os sentimentos da pessoa com depressão é como se aquele fosse um problema dela apenas, quando na realidade este é um problema social e uma questão de saúde pública", aponta Manuela, que atentou ainda para o fato de homens negligenciarem mais a saúde, sobretudo mental.
Homens são maioria no ranking do suicídio, do alcoolismo, de diversos vícios. E é preciso entender o porquê. Manuela Xavier
Em concordância com Manuela, Jairo completou que, em função da cultura em que vivemos, homens são desestimulados a externar sofrimento.
Com base na própria experiência, Cicinho reforça que entender esse contexto é importante para que as pessoas procurem tratamento especializado e não sejam levadas, em função da angústia, a atitudes extremas para aliviar o sofrimento. "Precisamos entender e reconhecer nossas limitações, procurar e aceitar ajuda especializada", aconselhou.
Saúde mental em foco
A 2ª Semana da Saúde Mental VivaBem tem como objetivo estimular que as pessoas falem abertamente sobre transtornos mentais, pois esse é o primeiro passo para tratar esses problemas e trilhar o caminho do equilíbrio. Ela começou no último dia 14 de outubro, com um evento ao vivo, que debateu em 5 painéis temas como o impacto da pandemia na saúde mental do brasileiro, luto, depressão, ansiedade, saúde mental dos jovens e como o preconceito aumenta o risco de transtornos.
O evento pode ser assistido na íntegra aqui. A 2ª Semana da Saúde Mental VivaBem tem o patrocínio de Libbs Farmacêutica.
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