'Senti que fracassei': ganho de peso após bariátrica é comum; como evitar?
Após inúmeras tentativas de dietas e remédios para perder peso, a babá Andrea Ferreira de Almeida, 42, decidiu recorrer à cirurgia bariátrica para emagrecer e melhorar a saúde. Na época, ela pesava 146 kg (engordou 81 kg em 15 anos) e estava com pré-diabetes, dificuldades para dormir e sem disposição para nada.
"Não me sentia bem. Já tinha tentado praticamente tudo para emagrecer e não consegui. A bariátrica era minha única esperança para deixar a obesidade mórbida", diz Andrea.
Diferentemente do que muitas pessoas pensam, para tratar a obesidade não basta apenas força de vontade para deixar de comer alimentos pouco saudáveis e fazer exercícios. "O problema é complexo, causado por vários fatores que envolve componentes genéticos, psicológicos, metabólicos, endócrinos, comportamentais e sociais", explica Bianca de Godoy, psicóloga do Instituto de Medicina Sallet e Obesimed, especialista em transtornos alimentares pelo IPq (Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP) e membro da SBCBM (Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica). Por isso, os pacientes precisam de uma abordagem multidisciplinar (reeducação alimentar, atividade física, acompanhamento psicológico, uso de remédios, cirurgia), que é necessária inclusive para quem faz a bariátrica.
Acompanhada por uma equipe multidisciplinar (médico, psicólogo, nutricionista, treinador), Andrea se preparou por dois anos para a cirurgia e adotou hábitos saudáveis. Passou a ter uma alimentação regrada e a fazer caminhadas diárias e foi para o centro cirúrgico com 123 kg.
Nos dois primeiros anos após a operação, emagreceu 48 kg, chegando a 75 kg. Porém, a partir do terceiro ano, teve um reganho de peso gradativo —algo que acontece com muitos pacientes.
Estudos mostram que aproximadamente 15% das pessoas que fazem bariátrica voltam a ganhar peso, retornando à obesidade entre cinco e dez anos após a cirurgia
Segundo a Sbem, o esperado é um reganho médio de 10% do peso mínimo atingido, esse valor é considerado normal por ser uma estabilização do peso do indivíduo.
"Quando o reganho passa de 20%, já devemos considerar que há um problema. Precisamos entender o que está acontecendo e tratar o distúrbio que levou a pessoa a engordar além do esperado", diz André Maranhão, cirurgião plástico, ex-presidente da SBCP (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica), na regional Rio de Janeiro, e membro do CBC (Colégio Brasileiro de Cirurgiões).
O problema do reganho de peso não está só no aumento do número na balança. Junto com ele, é comum ocorrer o retorno de problemas de saúde que a pessoa tinha quando estava obesa, como diabetes, hipertensão arterial, esteatose hepática (gordura no fígado), além do aumento no risco de infarto do miocárdio, AVC e morte precoce.
Por que quem faz bariátrica volta a engordar?
Segundo Cintia Amorim, nutricionista do Centro de Tratamento de Obesidade Dr. Bruno Mota, em Maceió, e membro da Comissão das Especialidades Associadas da Sbem, as principais causas do reganho de peso são:
- Falta de adesão às orientações nutricionais (comer mais verduras, legumes, frutas, carnes magras e alimentos integrais);
- Consumo excessivo de carboidratos simples, como farinha branca (pão, macarrão etc.) e açúcar (nas suas diversas formas, incluindo doces e refrigerantes);
- Consumo excessivo de bebida alcoólica;
- Sedentarismo;
- Abandono das consultas com a equipe multidisciplinar;
- Transtornos psicológicos não tratados, como ansiedade.
Andrea, por exemplo, voltou a engordar por causa de problemas emocionais que surgiram após a descoberta de uma gravidez ectópica (quando o embrião se desenvolve fora da cavidade uterina) e o término de um relacionamento. "Meu mundo caiu, passei a não me importar com nada. Abandonei o tratamento por mais de um ano, não fui mais às consultas, parei a dieta, abri mão de tudo. Descontava toda a ansiedade na comida, era o meu consolo, o meu conforto."
Em seis anos, Andrea teve um reganho de 30 kg, atingindo 105 kg. "Sempre que estou no caminho certo, acontece alguma coisa que me joga para baixo e faz eu me sentir incapaz de seguir em frente, de subir o próximo degrau. O sentimento é de fracasso e de incompetência de ter engordado novamente", afirma.
Segundo a psicóloga Bianca de Godoy, é comum que pacientes com reganho expressem sentimentos de derrota, culpa e vergonha, que ativam crenças de incapacidade e afetam a autoestima e autoimagem da pessoa, podendo levar a um estado depressivo.
"O medo do reganho de peso é vivenciado pelo paciente desde o pós-operatório, mas costumo dizer que esse medo não é ruim, ele nos protege, é preciso estar vigilante e monitorando as mudanças de estilo de vida que serão para sempre."
Volta ao peso ideal
Obviamente, a melhor forma de não engordar após a bariátrica ou eliminar o peso recuperado é evitar os erros que levam ao reganho (que listamos acima). Foi o que Andrea fez recentemente. A babá voltou a fazer o tratamento com suporte de psiquiatra, psicóloga e nutricionista e já perdeu 3 kg. "Estou escrevendo um diário e aprendendo a administrar minhas emoções, a ansiedade e a relação com a comida, para não descontar mais nela quando surgir algum problema. Estou confiante de que vou conseguir, quero perder peso e voltar a me sentir bem", diz.
A nutricionista Cintia Amorim diz que, para não engordar acima do esperado após a cirurgia ou para perder o peso recuperado, o paciente precisa entender que a obesidade é uma doença crônica que não tem cura, apenas controle —e para isso acontecer é preciso manter os bons hábitos para sempre. Fazer uma reeducação alimentar, praticar atividades físicas aeróbicas e treino de força (musculação) regularmente e ter acompanhamento psicológico e nutricional periadicamente.
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