Câncer de mama: 'Decidi seguir com gestação e fiz quimioterapia grávida'
Um dia, Karina Goto, 37, estava amarrando o cabelo em frente ao espelho quando notou uma saliência na mama esquerda. Fez o autoexame, encostou na região e sentiu uma "bolinha". Como estava desmamando o filho de 2 anos, pensou que a alteração tinha alguma relação com isso e poderia ser leite empedrado. Mesmo assim, ficou preocupada e marcou uma consulta com a ginecologista.
Em outubro de 2020, depois de realizar ultrassom, mamografia e uma biópsia, o resultado dos exames confirmaram o câncer de mama —um tumor ainda inicial e localizado.
Na semana seguinte, Karina passou pela cirurgia de mastectomia, com reconstrução de mama, além do esvaziamento axilar (retirada de linfonodos, estruturas que integram o sistema linfático, da região).
Na época, Karina e o marido resolveram congelar os óvulos para esperar o tratamento e, depois, engravidar novamente. A fisioterapeuta de Maringá (PR) tomou os medicamentos e, na semana que iria fazer o ultrassom, o exame apontou uma suspeita de gravidez, com a presença de um saco gestacional —região que abriga o embrião.
Levei um susto, pensei: 'Meu Deus, estou grávida'. Tinha acabado de fazer a cirurgia, aí o médico que fez o ultrassom falou para eu realizar o exame de beta HCG [que detecta gravidez] e avisar meus médicos sobre isso.
A gravidez foi, então, confirmada. No entanto, logo após a cirurgia, Karina precisava iniciar a quimioterapia para continuar o tratamento contra o câncer de mama. Um dos médicos explicou que ela poderia interromper a gestação por causa dos riscos envolvidos se, para ela, isso fosse uma opção.
Mas a fisioterapeuta decidiu ouvir outros especialistas sobre o tema. "Resolvi correr os riscos de o bebê, por exemplo, não se desenvolver ou de perdê-lo", diz. O outro médico consultado informou que interromper a gravidez não era necessário. Um alívio e tanto para Karina.
Segundo Raphael Brandão, coordenador do serviço de oncologia do Hospital Moriah (SP), a gestação em pessoas diagnosticadas com câncer de mama só é interrompida quando há "risco iminente de morte para a mãe."
"Quando o paciente está no primeiro trimestre, também não podemos fazer quimioterapia porque o quimioterápico é teratogênico, o que pode causar má formação do feto", explica o médico. A amamentação também não pode ser realizada se a paciente estiver fazendo quimioterapia, por conta da forte medicação presente no tratamento.
Karina precisou interromper de vez a amamentação de Henrique, filho mais velho que hoje está com 3 anos. Também necessitou de um acompanhamento mais próximo dos médicos e estratégias específicas para a gravidez ocorrer de forma segura.
Ela esperou 12 semanas de gestação, por orientação do médico, para iniciar a quimioterapia. No dia 28 de dezembro de 2020, Karina começou com as quatro sessões vermelhas, consideradas mais agressivas e, só depois, fez nove sessões brancas, mais "leves".
Da quimioterapia ao parto
"Passei a gestação inteira fazendo quimioterapia. Tive medo de ter enjoo, como todo mundo fala dessas reações nas sessões, mas só por Deus mesmo, não tive nada. A única coisa que senti, nas primeiras semanas, foi o intestino preso e um pouco de dor nas articulações", conta.
Karina também resolveu raspar o cabelo quando os primeiros fios começaram a cair: "Fui uma grávida barriguda e carequinha", brinca. Quando estava finalizando as sessões brancas, entrou em trabalho de parto antes da hora. Nesta época, chegou a fazer dois ultrassons por semana.
"Terminei uma sessão de quimioterapia e, depois de duas semanas, ele nasceu porque começou a ficar com riscos à saúde, de entrar em sofrimento", explicou.
Karina deu à luz Heitor, com 34 semanas, no dia 31 de maio deste ano. Ele passou dois dias na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) por causa de dificuldades respiratórias e, depois, deixou o hospital saudável, sem nenhum risco à saúde.
"Olha, só por Deus mesmo que ele não teve nenhum problema, uma inflamação e que eu não perdi o bebê na gestação. Quando eu fiz a mastectomia, já estava grávida e não sabia", lembra.
A importância dos exames em dia
Agora, Karina seguirá com o tratamento medicamentoso por mais cinco anos para evitar que o tumor volte. "Não tenho mais câncer, mas ainda estou na luta para não ter recidiva", diz.
A fisioterapeuta usa do exemplo para trazer um alerta importante às pessoas. "Meu último ultrassom tinha sido em 2017 e meu filho nasceu em 2018. Em 2019, pelo processo de amamentação, não fiz os exames e, em 2020, já estava com câncer. A gente não pode esquecer de se cuidar", lembra.
De acordo com o oncologista do Hospital Moriah, a recomendação para fazer mamografia é a partir dos 40 anos —caso essa pessoa tenha histórico na família, esse exame pode ser realizado antes. "Já o ultrassom é utilizado em mamas mais densas, de mulheres mais jovens. A ressonância também pode auxiliar de forma complementar em ambos métodos citados."
"Eu tinha 36 anos, era jovem e sem histórico de câncer de mama na família. Não é só porque está grávida ou amamentando, que não há risco de ter câncer. Precisamos ir ao médico, fazer os exames de rotina, se cuidar e se olhar", afirma Karina.
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