Dor da ovulação pode confundir com outras doenças; saiba como identificá-la
Resumo da notícia
- Dor da ovulação pode aparecer em pessoas que menstruam, mas que não tomam pílula anticoncepcional, por exemplo
- Incômodo durante algumas horas é normal, porém dor aguda exige investigação médica
- Isso ocorre por causa do acúmulo de líquido na cavidade abdominal após rompimento de folículo
- Dor pode ser confundida com apendicite, cistos e outras doenças ginecológicas
Uma dor na região inferior do abdome, ou do lado esquerdo, ou do lado direito. Depende do mês. O incômodo pode lembrar a presença de gases e, quando é muito intenso, os sintomas de uma apendicite. No entanto, não estamos falando de nenhuma dessas condições e, sim, da dor durante o período de ovulação em pessoas que menstruam.
Essa dorzinha, que pode ser bem sutil ou mais intensa, ocorre apenas em quem não faz uso de hormônios, como as pílulas anticoncepcionais. E existe um motivo para isso ocorrer: a cada ciclo menstrual, há uma produção enorme de folículos —responsáveis por carregar os óvulos— nos ovários. No entanto, apenas um folículo irá amadurecer e se tornar o dominante.
O processo da ovulação acontece quando esse folículo rompe e o óvulo que estava ali dentro segue seu "caminho", pelas trompas, com objetivo de tentar encontrar o espermatozoide e fecundar. Neste processo todo, também são liberadas secreções que podem irritar a região da pelve, com acúmulo de líquido, causando a dor.
"Por isso que algumas pessoas até sentem que ovularam, que é quando esse líquido cai na cavidade abdominal. Quando o organismo demora mais para absorver esse líquido, pode doer mais em algumas mulheres que em outras. Depende da sensibilidade à dor. Há mulheres que nem sentem", explica Marcela Queiroz, ginecologista da MEJC (Maternidade Escola Januário Cicco), da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), da Rede Ebserh.
Dor do meio do ciclo
A dor da ovulação também é conhecida pelo nome de "Mittelschmerz", nome alemão para "dor do meio". Como o próprio nome diz, ela ocorre no meio do ciclo de quem menstrua, dividindo as duas fases do ciclo.
A primeira é a fase folicular, que começa a partir do primeiro dia da menstruação, com máxima produção de hormônios ao longo dos dias, como o estrogênio. Neste período, é comum sentir-se mais disposta, criativa e com a libido alta.
Depois vem a ovulação, que é a fase mais curta, durando em média de 24 a 48 horas. Na sequência, inicia-se a fase lútea, marcada pela queda abrupta de hormônios —quando a pessoa tende a ficar com menos libido e mais indisposta de uma forma geral.
Quais são as características dessa dor? Posso tomar algum remédio?
Para definir qual é o dia da ovulação, é preciso saber quanto tempo dura o seu ciclo —se 26, 28 ou 30, por exemplo. Isso porque, no geral, a ovulação ocorre 14 dias antes da menstruação. Desta forma, é possível calcular o próximo dia da menstruação e, com base nisso, contar 14 dias antes.
Sabendo quando será esse dia, você também fica mais calma e evita até que a dor seja confundida com outra doença. Mas uma característica dela é a região. A cada mês, a ovulação vai ocorrer em um dos ovários, esquerdo ou direito, então a dor é bem localizada na parte inferior do abdome, na região pélvica.
É possível que a ovulação aconteça dois meses seguidos no mesmo ovário, não tem uma regra, mas é importante saber que a dor é localizada em um dos lados.
Outra característica é que ela tende a durar no máximo um dia, por poucas horas, conforme explica Juliana Sperandio, ginecologista especializada em cirurgias minimamente invasivas pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
"Essa dor inicia-se de maneira mais abrupta e termina bem fraca. É uma dor também autolimitada que se resolve facilmente", diz.
Ainda de acordo com a médica, é possível aliviar os sintomas com analgésicos utilizados habitualmente pela paciente —em alguns casos, o especialista pode indicar um anti-inflamatório.
De acordo com Geraldo Caldeira, ginecologista e obstetra da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia) e médico do serviço de reprodução humana do Hospital e Maternidade Santa Joana (SP), dores que causem muito incômodo merecem atenção especial. "Toda dor da ovulação muito forte precisa ser investigada", diz.
Também é um bom termômetro para quem quer engravidar (ou não): "A paciente que quer engravidar pode ter relações sexuais nesses dias. Já quem não deseja a gravidez, deve evitar relação neste período", explica Caldeira.
Alerta vermelho: sua dor pode ser outra coisa
As dores pélvicas —como a dor da ovulação— podem ser sintoma de diversas doenças, segundo Sperandio. "Pode confundir com quadros de dor pélvica aguda, como apendicite [principalmente se a dor for do lado direito] e simular outras doenças ginecológicas, como cistos ovarianos, torção de ovário e gestação ectópica. Por isso, é importante destacar outras causas", diz.
Fique de olho, principalmente, se a dor vier acompanhada de febre, falta de apetite, diarreia ou outros sintomas que destoam do quadro. Neste caso, é preciso investigar com ajuda de um especialista. Um exame de ultrassom, por exemplo, é capaz de fechar o diagnóstico.
Segundo Cecilia Maria Roteli, ginecologista e obstetra consultora da AMB (Associação Médica Brasileira), é comum atender mulheres com esse tipo de queixa no consultório. "São queixas que, de repente, com mudanças de hábitos de vida, como mais estresse, tornam-se mais importantes", explica.
Ainda de acordo com a médica, é preciso ficar de olho no começo da fase de menstruação em crianças, quando os adultos não dão tanta importância para as queixas. "Essa dor pode ser algo mais sério e evoluir para problemas futuros, como cisto no ovário e endometriose. Quanto mais cedo a gente descobre, mais fácil é tratar e obter melhores resultados."
Autoconhecimento é a chave
Quando a pessoa conhece bem o ciclo menstrual, fica mais fácil entender o que deve acontecer cada dia. Com isso, já ter consciência de que a dor em questão é normal e passageira. Fugindo na normalidade, é importante buscar orientação médica.
Há ainda mais benefícios nesse autoconhecimento. "É importante perceber essas flutuações não só para evitar uma gravidez, por exemplo, mas organizar a vida também, principalmente quando estamos na primeira fase, com mais ânimo e criativas", explica Juliana Sperandio.
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