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Equilíbrio

Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


Arranja confusão por pouco? Saiba por que alguns maximizam conflitos

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Imagem: iStock

Marcelo Testoni

Colaboração para o VivaBem

12/11/2021 04h00

Resumo da notícia

  • Reações intempestivas são mecanismos de defesa que têm relação com vários fatores
  • Temperamento, criação, esgotamento emocional e transtornos de personalidade são alguns
  • É preciso evitar confrontos, desfazer mal-entendidos e convencer sobre buscar ajuda médica

Basta uma única palavra, piada, ou até mesmo advertência de leve. Se não for bem recebida, pronto, saia da frente porque a pessoa arma aquela confusão. Pode ser com quem for e em qualquer hora e situação. Não leva em consideração se é criança, idoso, um amigo conhecido por ser bastante brincalhão, ou se está em uma festa de aniversário, confraternização do trabalho, viagem em grupo. Cria aquele climão e vai embora sentindo-se vitimizada, ofendida.

Por que algumas pessoas agem assim? Bem, a resposta não é tão simples. Situações desse tipo podem envolver diversos fatores, entre os quais genética, disfunção hormonal, experiências negativas, entre as quais rejeição, bullying, criação autoritária, relações abusivas. E no entendimento de quem maximiza o que considera "ofensa", a razão está sempre consigo, nunca com o outro, que é encarado como o errado, maldoso, provocador, assim vale se defender dele como bem quiser.

Para piorar, sobretudo se ele se sentir enfraquecido, esse sujeito pode cobrar apoio de quem estiver ao seu redor, que, pego de surpresa e querendo evitar um escândalo maior, uma briga e encerrar o assunto, pode acabar validando tudo o que ele disser, mesmo que, no fundo, discorde. Só que ao fazer isso, alguém leva a culpa injustamente, é mal compreendido, enquanto o "pavio curto" sai de cena ileso e pode agir exatamente igual numa próxima vez.

Reações tentam nos blindar

Atitudes amplificadas são mecanismos de defesa que o ego encontra diante de eventos que julga serem nocivos, mesmo não sendo. Visam externalizar e aliviar sentimentos com os quais o indivíduo não sabe lidar e que tenta devolver ou provocar no outro, que pode ser de dor, humilhação, vergonha, punição. De quebra, explicam a incapacidade de se fazer reflexões sensatas, no presente, e depois ainda cursam com culpa, arrependimento, vergonha.

Desde muito cedo, isso pode influenciar a formação da personalidade como se somar e acentuar um temperamento mais impulsivo, sensível, exagerado. "A pessoa também pode ser muito perfeccionista, responsável, exigente, e isso faz com que lide muito mal com críticas, ordens, opiniões", aponta Eduardo Perin, psiquiatra pelo HC-USP (Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo).

Estar em um momento difícil, de esgotamento emocional, cobranças, incertezas pode levar à perda fácil de paciência, mas é preciso cuidado para que fases agudas não se tornem crônicas. Existem ainda os chamados mecanismos de transferências, em que pessoas e situações novas remetem, inconscientemente, a outras que causaram algum trauma ou prejuízo e o cérebro, a fim de nos resguardar, antecipa respostas que nem sempre condizem com aquela realidade.

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Transtornos podem estar envolvidos

Para Anderson Weiber, professor da pós-graduação em psiquiatria da Faculdade IPEMED de Ciências Médicas, do grupo Afya Educacional, na Bahia, quem apresenta esse tipo de resposta exacerbada com frequência pode se encaixar ainda em um desses desvios de personalidade: paranoide, narcisista e borderline. "Ou ainda existe possibilidade de ter um quadro psicótico, com delírios de reivindicação, desinibição e autoavaliação prejudicada frente normas sociais".

Se for paranoide, desconfia constantemente das ações alheias, acha que pode ser prejudicado e por isso procura por evidências que comprovem suas suspeitas e más intenções em piadas, comentários, afirmações. A segunda possibilidade, narcisista, refere-se a uma pessoa que se sente especial, importante e superior, sendo que muitas vezes isso não é reconhecido pelos demais, então passa a acreditar que é invejado, preterido e isso alimenta reações tempestivas.

Agora, em se tratando de borderline, Weiber explica que o problema está na forma como se relaciona consigo mesmo, levando a acreditar que tem muitos defeitos. Aí, quando alguém fala alguma coisa, faz uma gracinha, acaba reforçando essa má percepção de si e reage mal. O que também pode acontecer ao se enganar sobre determinada pessoa, pois boderlines idealizam os outros, num extremo de perfeição ou de imperfeição, e em segundos.

Esteja preparado para o pior

Quando se lida no dia a dia com alguém que facilmente cria confusões, o que significa levantar a voz, chamar atenção, evadir ambientes, ou quem sabe até ofender, querer partir para agressão, é preciso tomar alguns cuidados. Violência nunca se justifica, é caso de denúncia, polícia, distanciamento e investigação médica, pois pode ter relação ainda com TEI (Transtorno Explosivo Intermitente), cuja agressividade costuma ser desproporcional ao fato desencadeante.

O que mais vale numa situação tensa é evitar o confronto direto e, caso se perceba que não existe chance de resolução e receptividade por parte do "ofendido" com um pedido de desculpas ou uma tentativa de sanar o desentendimento, é melhor se afastar do local. Quem está de fora pode intervir, mas sem tomar partido, para não gerar mais agitação e correr algum risco. Sem ironia e parecer falso, vale descontrair o ambiente e mudar o foco dos envolvidos.

Para que o episódio não se repita, quando os ânimos tiverem acalmado e com discrição, sem que percebam, proponha-se a conversar e ouvir a pessoa que se incomoda por bobagem, mas sem insistir, ela precisa querer. Também não vá diretamente ao problema e criticando. Tente falar sobre emoções, dificuldades, experiências e como com ajuda profissional vários aspectos pessoais podem melhorar. "É preciso que ela saia da posição de "a culpa é do outro" para o questionamento "o que há de meu nessa situação sobre a qual me queixo", aponta Lara Rocha, psicóloga da clínica Amar Mente e Corpo, parceira da Central Nacional Unimed, em Salvador.