Sono de bebês pode impactar no risco de obesidade na infância, diz estudo
Recém-nascidos que dormem por mais tempo e acordam menos durante à noite teriam um risco menor de sobrepeso na infância, sugere estudo conduzido por pesquisadores do Hospital Geral de Massachusetts, nos Estados Unidos. Uma hora a mais de sono reduziu em 26% a probabilidade do excesso de peso, de acordo com os resultados publicados no periódico científico Sleep.
Para chegar a essa conclusão, o grupo de pesquisa monitorou os padrões de sono de 298 bebês, nascidos entre os anos de 2016 e 2018. Com a ajuda de um aparelho posto nos tornozelos dos recém-nascidos, as atividades e os repousos foram avaliados por meio do exame de actigrafia.
Os pesquisadores coletaram informações de três noites de cada bebê, em dois momentos do desenvolvimento: no primeiro e no sexto mês. Enquanto isso, os pais mantiveram diários do sono, com o registro das horas dormidas e de quantas vezes os filhos acordavam durante à noite.
Com relação aos dados de crescimento, foram medidos peso e altura dos bebês, a fim de determinar o Índice de Massa Corporal de cada um. Eram classificados com sobrepeso se atingissem o percentil de 95 ou acima nos gráficos de crescimento da OMS (Organização Mundial da Saúde).
Nos resultados, além da redução no risco de sobrepeso entre aqueles que dormiam por mais tempo, os pesquisadores perceberam que os bebês que acordavam menos vezes também tinham um risco menor de excesso de peso. O motivo, no entanto, não está claro.
Na opinião dos autores do estudo, dormir mais nesse período da vida ajudaria a controlar os excessos na alimentação, como manter uma rotina regrada e a autorregulação. "Estando mais tempo acordado, o corpo com mais necessidade de sono acaba compensando em uma ingesta elevada", explica Daniela Anderson, especialista em pediatria, neonatologia e doutora em saúde da criança e do adolescente pela USP de Ribeirão Preto.
Ciclo circadiano em definição
Embora o estudo tenha trazido descobertas importantes, a pediatra Maristela Estevão Barbosa, membro do departamento de Endocrinologia da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria), destaca que o trabalho apresenta falhas e nem todos os achados devem ser levados em consideração.
Um ponto importante, segundo a especialista, é que os recém-nascidos não têm um ciclo circadiano tão definido. "O estudo com bebês é muito diferente de uma criança. O recém-nascido tem padrões por si só. Ele não produz melatonina e o padrão de sono precisa ser bem avaliado. Falta ainda um aprofundamento", afirma.
Para ela, o trabalho científico deveria acompanhar as crianças até pelo menos os seis anos de idade, além de verificar os hábitos de vida de cada bebê até chegar na infância ou na adolescência. O estudo também não utilizou exames encefalogramas, que ajudam a detectar alterações cerebrais e comportamentos do sono durante à noite. Dessa forma, não é possível fazer uma avaliação criteriosa e mais robusta das mudanças no sono e ganho de peso.
Para Daniela Anderson, especialista em neonatologia, o estudo é válido, mas deixa em aberto a necessidade de investigar outros fatores para tentar descobrir a correlação verdadeira entre esses pontos. Ela explica que, mesmo já sendo confirmado que a obesidade está relacionada com a fragmentação do sono, o ganho de peso é normal em bebês até os dois anos de vida.
Barbosa diz também que ter noites mal dormidas não é o único fator que eleva o risco de sobrepeso. O estilo de vida, uso de eletrônicos antes de dormir e a condição socioeconômica de uma família influenciam na obesidade futura das crianças.
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