Crianças e adolescentes também se beneficiam da ginástica para o cérebro
Será que você exercita o seu cérebro como deveria? Ao sair de casa para ir ao trabalho, faz o mesmo caminho todos os dias ou varia a rota? Escolhe sempre o mesmo prato na hora de jantar em seu restaurante preferido? Já se desafiou a cortar a carne com a mão que não está acostumado?
Algumas atividades repetitivas podem desfavorecer a sua capacidade de adaptação a novas situações. Por outro lado, existe uma série de exercícios que estimulam os neurônios e ativam áreas distintas do seu cérebro, o que potencializa as habilidades cognitivas, como atenção, concentração, memória e raciocínio. É a chamada ginástica cerebral.
De acordo com Lia Sanders, professora de psiquiatria pela UFC (Universidade Federal do Ceará), o ser humano perde neurônios ao longo de toda a vida e a ginástica cerebral ajuda a criar novas conexões cerebrais para a resolução de problemas.
"Os estudos mostram que o risco de demência é modificável pelos nossos hábitos, e o simples hábito de ler ou aprender atividades novas é capaz de criar reservas cognitivas", ou seja, as habilidades adquiridas e armazenadas pelo cérebro ao longo da vida.
O resultado? Quanto mais você aprende e se expõe a estímulos, mais ativa as conexões neurais e melhora a sua capacidade adaptativa. Lívia Ciacci, neurocientista do método Supera - Ginástica para o Cérebro, afirma algo semelhante: quanto mais se exercita o cérebro, mais se obtêm dele.
É por isso que o seu sobrinho pula de um vídeo para outro no YouTube em alta velocidade, enquanto você ainda se surpreende com isso. O fato é que o grau de estímulo das crianças nos últimos anos foi tão grande que ela se desenvolveu muito mais precocemente do ponto de vista neuropsicomotor, conforme explica o professor Wilson Jacob, titular de geriatria da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) e diretor do serviço de geriatria do Hospital das Clínicas da USP.
O que nos leva à pergunta: com que idade preciso começar a exercitar o cérebro? Qual é a diferença e os benefícios para cada um de nós?
Quem pode fazer ginástica para o cérebro?
O treino cognitivo ajuda pessoas de qualquer idade, já que um cérebro com conexões mais fortalecidas é capaz de responder melhor a qualquer situação. Vejamos algumas diferenças ditas pelos especialistas para cada faixa etária:
- Crianças
A estimulação já se inicia na primeira infância, afinal, um recém-nascido começa a ter estímulos sensoriais e a desenvolver sua inteligência emocional desde a aproximação com os pais.
À medida que vão crescendo e estimulando o cérebro, as crianças conseguem performar melhor na escola, aumentando sua capacidade de concentração, memória e raciocínio.
- Adolescentes e jovens
O mesmo vale para jovens em fase de vestibular, que buscam o treino cognitivo para ampliar sua capacidade de assimilação do conteúdo e memorização.
"Um destro que nunca usa a mão esquerda, se sofrer um acidente vascular que imobilize a mão direita, não vai conseguir fazer nada. Mas se esse indivíduo, desde jovem, chutasse a bola com o pé esquerdo e direito, isso daria a ele uma possibilidade maior de adaptação ao novo, o que será útil na fase mais avançada da vida, em que as adaptações serão realmente necessárias", afirma Jacob.
- Adultos
Ciacci afirma que os adultos obtêm os mesmos ganhos e trabalham, sobretudo, habilidades socioemocionais —justamente as competências mais importantes para os dias de hoje, apontadas pelo Fórum Econômico Mundial, e que impactam diretamente na contratação e promoção profissional.
Jacob complementa: "Ainda não sabemos se esse tipo de estratégia é capaz de evitar ou postergar o aparecimento de uma doença, por exemplo, o Alzheimer. Mas temos muito clara a evidência de que, quanto maior a escolaridade de uma pessoa, menor a chance dela ter demência. É uma forma de mostrar que não fazer a mesma coisa todos os dias traz menor prevalência de demência."
Idosos: por que achamos que só eles precisam exercitar o cérebro?
Você já deve ter ouvido de sua avó ou vizinha que sua memória ou raciocínio já foram melhores no passado. Mas, para o diretor de geriatria da USP, dá-se ao envelhecimento uma falsa sensação de perda de raciocínio, que não é característica do envelhecimento e, sim, de algumas doenças que acometem mais o indivíduo idoso e afetam a capacidade do uso do cérebro —sejam elas afetivas, de coordenação do movimento ou de execução de tarefas comandadas pelo cérebro e que sofrem da relação uso-desuso.
Paralelamente ao envelhecimento, é comum haver a diminuição do uso de estruturas que dependem do estímulo para se manter rígidas: aquela atividade física e mental que deixamos sempre para depois.
O desuso da musculatura das articulações, pelo lado da movimentação, e desuso do cérebro, tanto pelo lado do raciocínio quanto dos sentimentos e emoções, levam a uma perda funcional, mas que podem ser trabalhadas.
Com ela, os idosos obtêm ganhos em sua reserva cognitiva, aumentando também sua confiança. Um filho pode acompanhar seu pai à consulta médica, mas é bom não falar e pensar sempre e tudo por ele. Isso tiraria seu poder de decisão —que é a autonomia— e o da realização —que é a independência—, uma perda geralmente vinculada ao desuso ou à falta de estímulos.
Não basta fazer palavras-cruzadas!
O estímulo das atividades mentais leva ao aumento de sensibilidade e eficiência, mas não basta apenas fazer palavras-cruzadas. Ou um tricô de maneira repetitiva diariamente. Que tal diversificar o ponto ou mudar para um crochê ou tapeçaria? Fazer um jogo de 7 erros ou outro de atenção?
De início, será difícil, mas logo o seu cérebro vai absorver aquele novo conhecimento e transitar de maneira mais segura por ele. Assim que se acostumar, você entrará no mesmo processo anterior e não usará o cérebro mais do que o mínimo necessário para aquela função. O que fazer, então?
Mude sempre! Dê novos estímulos ao seu cérebro. Atividades rotineiras podem deixar a nossa mente preguiçosa e, para criar conexões e se fortalecer, o cérebro precisa de estímulos que envolvam novidade, variedade e grau de desafio crescente.
Não quer dizer que os diversos estímulos que os algoritmos nos dão diariamente através das redes sociais são positivos. A maioria deles não nos faz pensar: apenas absorvemos e pulamos para o próximo conteúdo. Mas se você vir um post e questioná-lo, procurar saber quem produziu, confrontar com outras informações a respeito, escrever um texto dando sua opinião, parabéns, você acabou de dar vários estímulos ao seu cérebro. Tudo isso ajuda na construção de reserva cognitiva e um cérebro mais fortalecido.
Não pense que exercitar o cérebro está distante de exercitar o corpo. "Há várias evidências de indivíduos que, estimulados a fazer atividades físicas que não faziam antes, seja uma caminhada ou musculação, apresentam uma melhora cognitiva e da atividade cerebral", finaliza o professor Jacob, alertando também a importância de que esses exercícios sejam progressivos, especialmente para os idosos.
Da próxima vez que for a um restaurante, já sabe: experimente pedir algo novo e ainda identificar os ingredientes pelo gosto. Além de ganhos significativos ao começar as atividades de ginástica para o cérebro, quem sabe você não se surpreende através de novos sabores?
Ginástica para o cérebro
Essa reportagem faz parte da campanha de VivaBem Ginástica Para O Cérebro, que quer ressaltar a importância de estimular a mente para garantir uma velhice lúcida e saudável.
Os conteúdos abordam os benefícios de malhar o cérebro em todas as idades, dá ideias e dicas do que pode ser feito, tira dúvidas e explica todo o funcionamento desse importante órgão do corpo ao longo dos anos. Mas tem muito mais. Confira todo o conteúdo da campanha aqui.
Essa é a quarta campanha de uma série de VivaBem que tem trazido conteúdos temáticos para auxiliar no combate a problemas que muitas pessoas enfrentam no dia a dia e contribuir para que você tenha mais saúde e bem-estar.
A primeira foi Supere a Depressão Pós-Parto, realizada em março; a segunda foi Tenha Uma Boca Saudável, em junho; e a terceira, Exercício É Remédio, em setembro.
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