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Velho pra isso? Jamais! Idosos se beneficiam muito de brincadeiras; entenda

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Marcelo Testoni

Colaboração para VivaBem

20/11/2021 04h00

Engana-se quem pensa que apenas crianças devem participar de atividades lúdicas, que envolvem diversão, desenvolvimento psíquico e emocional e laços interpessoais. Os idosos também. Com o avançar da idade, algumas capacidades cognitivas podem reduzir (atenção complexa e dividida, memória, velocidade de processamento, aprendizagem) e habilidades motoras idem, então é preciso driblar esses processos, que podem evoluir para demências.

Segundo Júlio Pereira, médico pela UFBA (Universidade Federal da Bahia) e neurocirurgião, a literatura científica lista vários benefícios de brincadeiras e jogos adaptados à velhice. Além de contribuírem com bem-estar, criatividade, comunicação e interação social, autonomia sobre atos e pensamentos, essas atividades relembram experiências, estimulam o raciocínio lógico e ajudam o lado dos cuidadores. "Até o aparecimento e a progressão do Alzheimer retardam."

Tem mais. É notado que a autoestima melhora, assim como a expressão de sentimentos, a funcionalidade, a afetividade, a convivência (incluindo entre gerações diferentes) e os níveis de serotonina e dopamina, reduzindo o cortisol.

Alguns jogos e brincadeiras levam a experienciar e a lidar ainda com emoções nem sempre agradáveis, de perda e derrota. E isso, de certa forma, é positivo, pois inclui a possibilidade de o idoso aprender a superar seus conflitos e limitações.

Como estratégia de educação

Grupo de idosos, idosas, velhos e velhas - iStock - iStock
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Em 2013, pesquisadores de enfermagem da UFG (Universidade Federal de Goiás) realizaram um trabalho intitulado "Atividades lúdicas como estratégia de educação em saúde com idosos" e observaram que elas promovem mudanças efetivas no estilo de vida, sobretudo quando estão institucionalizados, e ajudam com a diminuição do uso de serviços de saúde e medicamentos.

Após levantarem as principais dúvidas e necessidades de um grupo sob investigação, os autores identificaram três, relacionadas com hipertensão arterial, diabetes mellitus e alimentação. Com base nisso, confeccionaram brincadeiras e jogos didáticos. Entre eles, cartelas de bingo (então as bolas sorteadas rendiam explicações e discussões sobre temas de interesse coletivo e um "prêmio" a quem conseguisse marcar todos os itens), elaboração de cardápios saudáveis e uma gincana de revisão do que aprenderam, tipo "Passa ou Repassa".

O projeto evidenciou que os idosos possuem muitas dúvidas ou muitas concepções equivocadas sobre as temáticas discutidas, além de adotarem alguns comportamentos de riscos para a saúde. "Nesse contexto, o lúdico estimula, mas pode conscientizar, nos desafiar a sair da zona de conforto, diminuir resistências e favorecer planejamentos e novos padrões de comportamento", explica Yuri Busin, psicólogo, doutor em neurociência do comportamento e diretor do Casme (Centro de Atenção à Saúde Mental - Equilíbrio), em São Paulo.

Pontos a considerar

Como visto, o lúdico pode ser muito bem adaptado à rotina dos idosos, que nem por isso devem ser infantilizados. Para um melhor proveito, é fundamental que sejam ouvidos pelos promotores das atividades, a fim de terem suas preferências, sugestões e limitações respeitadas. Para o ajuste do tempo e da qualidade do jogo ou da brincadeira, é fundamental atenção aos seus mínimos desconfortos, expressões de cansaço e déficits de coordenação.

Com suporte médico, as abordagens devem se basear por sua função (diferentes, elas podem ser integradas, obedecendo regras ou sendo totalmente livres) ou necessidade do participante (trabalhar integração, cinco sentidos, encorajamento, cooperação e percepção).

"Interagir com animais domésticos e crianças é muito positivo. Há trabalhos que recomendam a combinação de casas de repouso com orfanatos, por exemplo", informa Paulo Camiz, geriatra e professor do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).

Em alguns casos, jogos teatrais e brincadeiras ao ar livre são colocados depois que os idosos já estão entrosados entre si, pois exigem maiores receptividade, atitude e desinibição. Para a convivência ser enriquecedora, deve-se ainda levar em conta as particularidades, como idade, capacidade de enxergar, falar, escutar, se o idoso consegue ler, calcular, fazer interpretações, e evitar atividades que segreguem ou priorizem mais os ganhos materiais do que as relações.

Ideias de atividades recreativas

Idosos tocando instrumentos, idosos em grupo de música, instrumentos musicais - iStock - iStock
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Jogos, brincadeiras, mas também musicoterapia, dança, leitura, histórias contadas, mímica... são diversas possibilidades para o idoso exercitar o cérebro e o corpo enquanto se diverte, distrai, recorda momentos, bate palmas, improvisa e imita.

Marisa Lima, especialista em práticas integrativas e gerontologia e CEO da empresa Doutor Cuidados, explica que até mesmo acompanhá-los no preparo de alguma receita e revisitar álbuns de família serve de estímulo.

"Quando o idoso sente um cheiro, estimulamos sua memória, buscando saber o que aquele cheiro o faz recordar, de qual ano é a lembrança, e assim sucessivamente. Então, através disso fortalecemos sua memória afetiva'', diz ela, acrescentando que essa tática pode ser aplicada com as fotos antigas.

"Você pode fazer perguntas. Eles precisam de alguém para os ouvir, reviver seus anos de ouro. Assim, pode se libertar o idoso de mágoas, lutos e até depressão."

Outras atividades benéficas para se colocar na lista incluem: batata-quente, completando a música, troca e destroca de objetos no lugar, caça ao tesouro no jardim, telefone-sem-fio, quebra-cabeça, artesanato (pintura, desenho, escultura), cantiga de roda, dominó, jogos de cartas, ou de listar nomes (de pessoas, animais, alimentos, objetos) com determinadas letras.

"O cérebro é como um músculo que precisa ser fortalecido e quanto mais variados os treinos, melhor. E isso sem descuidar do sono, alimentação e exercícios físicos", finaliza Pereira.

Ginástica para o cérebro

Essa reportagem faz parte da campanha de VivaBem Ginástica Para O Cérebro, que quer ressaltar a importância de estimular a mente para garantir uma velhice lúcida e saudável.

Os conteúdos abordam os benefícios de malhar o cérebro em todas as idades, dá ideias e dicas do que pode ser feito, tira dúvidas e explica todo o funcionamento desse importante órgão do corpo ao longo dos anos. Mas tem muito mais. Confira todo o conteúdo da campanha aqui.

Essa é a quarta campanha de uma série de VivaBem que tem trazido conteúdos temáticos para auxiliar no combate a problemas que muitas pessoas enfrentam no dia a dia e contribuir para que você tenha mais saúde e bem-estar.

A primeira foi Supere a Depressão Pós-Parto, realizada em março; a segunda foi Tenha Uma Boca Saudável, em junho; e a terceira, Exercício É Remédio, em setembro.