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Fã de cotonete? Saiba por que você não precisa limpar os ouvidos

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Imagem: iStock

Thaís Lyra

Colaboração para VivaBem

22/11/2021 04h00

Desde criança e, principalmente, quem nasceu em países quentes como o Brasil, somos ensinados que higiene é um dos itens fundamentais para a saúde e boa aparência. Mas existe uma parte do corpo que as pessoas insistem em querer limpar durante o ritual diário e que, na verdade, não deveriam nem mexer: o ouvido. Sim, tem muita gente que possui a péssima mania de ficar limpando e tirando cera do ouvido.

E o pior: o hábito viralizou em algumas redes sociais. Os vídeos mostram desafios com pessoas lavando os ouvidos com produtos, usando objetos pontiagudos e até com técnicas que utilizam fogo para queimar a cera. Uma prática extremamente perigosa.

Conversamos com alguns especialistas que alertam sobre os riscos de entrar nesse tipo de brincadeira e quando, de fato, é preciso recorrer a este tipo de limpeza.

Não é sujeira

Muita gente nem sabe, mas o ouvido é um dos menores órgãos do corpo e esconde sua parte principal (cóclea e labirinto) atrás da orelha, do canal auditivo, do tímpano e dos três ossos pequenos (martelo, bigorna e estribo). Essa parte nobre do ouvido, do tamanho de uma bolinha de gude infantil, trabalha 24 horas por dia, sete dias por semana (e até durante o sono).

A cera de ouvido, também conhecida como cerúmen ou cerume, fica no canal auditivo e tem uma função de proteção bem importante, já que dificulta a entrada de corpos estranhos tanto na orelha quanto no ouvido. A cera é composta por pele, que descama naturalmente do conduto auditivo externo, e secreção glandular (das glândulas ceruminosas e sebáceas) —uma combinação meio nojenta, é verdade, mas eficaz para o que se propõe.

E tem mais: a composição oleosa da cera evita o ressecamento da pele, enquanto o pH ácido dificulta a proliferação de microrganismos potencialmente patogênicos, como alguns tipos de bactérias e fungos. Acredita-se, inclusive, que todo esse complexo que envolve a produção da substância possa participar até mesmo de respostas imunológicas locais.

Cada tipo de cera é diferente

mulher coçando o ouvido com o dedo, cera de ouvido, dor de ouvido - Getty Images - Getty Images
Imagem: Getty Images

Embora tenha uma composição básica, as características da cera —como cor, cheiro, umidade— podem variar de pessoa para pessoa. Inclusive, a mesma pessoa pode ter cera com características diferentes se comparar o ouvido direito como esquerdo.

No geral, a cera de ouvido pode ser do tipo seca ou úmida. No primeiro caso, ela tende a se acumular com maior facilidade, às vezes até ficando endurecida e com aspecto empedrado.

É difícil, mas pode acontecer: quando acumulado, o cerume pode mesmo incomodar. Essa tendência, no entanto, depende de fatores como tipo de pele (indivíduos com pele oleosa produzem mais cera), alimentação, anatomia (por exemplo, conduto auditivo com diâmetro reduzido) e até por realmente serem hiperprodutoras da substância.

Nesses casos, podem surgir dificuldades auditivas, sensação de pressão na orelha, zumbido, coceira (prurido), sensação de corpo estranho ou tosse. Há quem relate até forte odor.

Mas pode limpar?

Sim, mas provavelmente não do jeito que você está acostumado. A maneira correta de limpar o ouvido é esperar o cerume ser expulso naturalmente e remover apenas essa parte com toalha ou lenço umedecido, sem colocar nada dentro do ouvido. Assim você não se machuca, não perfura o tímpano e nem empurra a cera mais para dentro.

E como isso acontece? Bem, depois de cumprir sua função (ou seja, segurar microrganismos e outras sujeirinhas no canal auditivo), a cera é expelida com a ajuda dos pelos existentes na região do canal.

Vale lembrar que a pele do conduto auditivo externo é muita fina e sensível. Por isso, não é recomendado utilizar objetos rígidos e pontiagudos (como pinças e grampos) para fazer a remoção da cera dentro do canal, já que têm maior potencial de lesão e ainda podem estar sujos, aumentando o risco de infecção.

Mesmo as hastes de algodão podem causar lesões na pele, perda da integridade da barreira de proteção e, consequentemente, infecção. Inclusive, o uso de bastonetes flexíveis pode deixar a pessoa com mais cerume, uma vez que este será empurrado para o interior do ouvido.

Quem assume o risco de fazer essa limpeza "profunda" pode ter lesões maiores como lacerações da pele do canal auditivo, dor local intensa, sangramento, perfuração da membrana timpânica, trauma aos ossículos da orelha média, perda de audição (temporária ou definitiva, de graus variados), zumbido e até tonturas.

Em casos extremos, há riscos de lesão do nervo facial, com consequentemente diminuição da movimentação dos músculos da face ou mesmo paralisia facial.

Remover é preciso

Ouvido; cera - iStock - iStock
Imagem: iStock

Além de incomodar, o cerume em excesso pode causar obstrução do canal auditivo. Isso cria uma barreira mecânica que dificulta que o som percorra seu trajeto normal até a membrana timpânica. Nessa situação, uma vez removido o excesso, a audição retorna ao habitual.

Mas só quem pode definir a necessidade desse tipo de limpeza é o médico, que vai avaliar o ouvido e, se necessário, pedir exames como a audiometria (que avalia a audição). Geralmente, a limpeza é recomendada nessas situações:

  • Se estiver interferindo no correto funcionamento dos aparelhos de aplicação sonora (os conhecidos aparelhos de audição);
  • Causar incômodo local, com sensação de corpo estranho ou desconforto ao usar fones de ouvido ou protetores para natação.

O procedimento deve ser feito pelo especialista e no consultório, já que são necessários instrumentos e técnicas próprias para a remoção do cerume de forma segura.

E se entrar algum objeto estranho?

Pais de crianças pequenas sabem que colocar objetos no ouvido —como grãos de feijão ou pedrinhas— é uma das peraltices que os filhos podem cometer.

Nesse caso, assim como quando há excesso de cerume, é preciso passar por uma avaliação médica para que o especialista avalie se existe mesmo algum corpo estranho no ouvido e como deve ser a retirada. Não se deve mexer ou tentar retirar com objetos caseiros pois o objeto pode ser empurrado para dentro do ouvido, piorando o quadro e aumentando a chance de infecções.

Fontes: Eder Barbosa Muranaka, graduado em medicina pela UFPR (Universidade Federal do Paraná) e professor de otorrinolaringologia do curso de medicina da Faculdade São Leopoldo Mandic - Campinas (SP); Gilberto Ulson Pizarro, professor da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e médico do Hospital Paulista de Otorrinolaringologia; Sergio Tadeu Almeida Pereira, chefe do serviço de otorrinolaringologia do Hospital Geral de Fortaleza; Tanit Ganz Sanchez, orientadora de pós-graduação em fonoaudiologia da USP (Universidade de São Paulo), criadora e coordenadora do GANZ (Grupo de Apoio Nacional a Pessoas com Zumbido).