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Equilíbrio

Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


'Já acabou?' Como as nossas expectativas influenciam a percepção de tempo

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Imagem: iStock

Isabella Abreu

Colaboração para VivaBem

29/11/2021 04h00

Já reparou que viagens de férias parecem demorar uma eternidade para começar e, assim que começam, acabam em instantes? Essa percepção do tempo em relação a momentos de lazer é comum a tanta gente que foi até estudada pela ciência.

Uma série de estudos conduzidos por uma equipe da Universidade Estadual de Ohio (EUA), por exemplo, tentou entender como a noção de tempo funcionava para 510 pessoas. Às vésperas do feriado de Ação de Graças, os participantes foram entrevistados sobre quão ansiosos estavam pelo feriado, quão longe ele parecia, e quanto tempo ele parecia durar.

A data foi escolhida porque quase todo mundo a celebra nos EUA, mas nem todos anseiam por ela. Algumas pessoas adoram a reunião de família anual, outras —seja pelo estresse de cozinhar, o tédio de limpar ou a ansiedade de lidar com o drama familiar—, temem.

Os resultados indicaram que, quanto mais os participantes aguardavam ansiosamente por aquele momento, mais distante e mais curto ele parecia. "Ironicamente, o desejo por algo parece encolher sua duração no olho da mente", afirma a professora Sellin Malkoc, líder do estudo.

Como o cérebro entende o tempo

De acordo com Raymundo Machado de Azevedo Neto, neurocientista e assistente de pesquisa do Instituto do Cérebro do Hospital Israelita Albert Einstein, essa é uma questão ainda em aberto e que move pesquisadores há séculos. O próprio conceito de tempo é complicado e é provável que não exista um mecanismo único que explique todo tipo de processamento temporal que nós fazemos.

Chinelo na praia, férias, verão - Getty Images - Getty Images
Quando o tempo parece passar rapidamente, as pessoas presumem que a tarefa deve ter sido envolvente e agradável
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"Por exemplo, dançar em ritmo com uma música e ficar ansioso que um ônibus está atrasado, apesar de envolverem tempo, são habilidades muito diferentes e que parecem depender de mecanismos diferentes. Além disso, parece que avaliar o tempo que passou, o tempo que está passando e quanto tempo falta para um evento acontecer são processos distintos e que são influenciados por diversos fatores", diz o neurocientista.

A maioria das pessoas acredita na máxima "o tempo voa quando estamos nos divertindo" e, de fato, pesquisas já mostraram que quando o tempo parece passar rapidamente, as pessoas presumem que a tarefa deve ter sido envolvente e agradável.

Segundo Mario Miguel, coordenador do Laboratório de Neurobiologia e Ritmicidade Biológica do Departamento de Fisiologia da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), são as emoções que modulam a nossa atenção e, consequentemente, a noção da passagem do tempo. Além disso, elas também atuam sobre a nossa memória.

É por isso que, quanto maior for o conteúdo emocional do evento, mais atenção será direcionada e, assim, maior será o reforço nos circuitos de memória de longo prazo. "Dessa forma, podemos explicar como eventos felizes, como momentos de lazer, tendem a formar memórias mais duradouras", explica.

Como aproveitar melhor os momentos de lazer

"Um aspecto fundamental de nossa percepção de tempo é que ela é flexível", destaca André Cravo, professor de neurociência e coordenador do Laboratório de Cognição e Percepção do Tempo da Universidade Federal do ABC. Ele afirma que mesmo sem nos dar conta, nós usamos estratégias rotineiramente para modular essa percepção. Porém, é mais comum usarmos estratégias para fazer o tempo passar mais rapidamente do que mais devagar. Por exemplo, quando estamos entediados ou esperando algo, é comum nos distrairmos olhando no celular ou pensando em alguma outra coisa.

Há estratégias também para fazer um evento prazeroso durar mais tempo. "Ao fazer algo divertido e que nos traga prazer, naturalmente prestamos mais atenção nesta atividade e, por isso, o tempo vai passar mais rapidamente. Por outro lado, podemos, por alguns instantes, tentar apreciar a atividade em si e o quanto estamos nos divertindo. Isso pode aumentar a sensação de que o evento está durando mais tempo", sugere.

Outra dica é, ao final de um dia cheio de atividades divertidas ou ao final de uma viagem, tentar relembrar todos os eventos divertidos que ocorreram. "Esse tipo de estratégia pode ajudar a nos fazer perceber o quanto tempo passamos nos divertindo naquele período", afirma.