Ômicron, delta: o que classifica uma variante como de preocupação
A nova variante do coronavírus, identificada como ômicron, foi classificada pela OMS (Organização Mundial da Saúde) como de preocupação. A cepa entra na mesma lista que as conhecidas alfa, beta, gama e delta.
As OMS, em colaboração com especialistas, parceiros, instituições e autoridades nacionais, monitora a evolução do Sars-CoV-2 desde janeiro de 2020. O surgimento de novas variantes e o aumento de riscos para a saúde pública global fez com que as cepas identificadas fossem classificadas de acordo com o nível de preocupação.
Foram criadas, então, as definições variantes de preocupação (VOC, na sigla em inglês), variantes de interesse (VOI, na sigla em inglês) e variantes sob monitoramento (VUM, na sigla em inglês).
"Essas classificações são importantes para entender quais dessas variantes podem mudar o curso da pandemia e para o mundo ficar de olho nelas", diz Álvaro Furtado da Costa, infectologista do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).
Segundo ele, isso ajuda a saber quando disparar conduta de controle de fronteira, como anda a evolução clínica da doença, a eficácia da vacina, se afeta PCR (teste laboratorial). "Ao ser classificada uma nova variante que entra nessas definições, dispara-se uma cadeia de estudos para serem feitos rapidamente. Enquanto não temos os dados, temos que nos preocupar, mesmo que depois não tenha tanto problema quanto achávamos", diz.
Variantes de preocupação
De acordo com a OMS, uma variante do coronavírus que atende à definição de preocupação precisa estar associada a uma ou mais das seguintes alterações em um grau de significância para a saúde pública global:
- Aumento da transmissibilidade ou alteração prejudicial na epidemiologia da covid-19;
- Aumento da virulência ou mudança na apresentação clínica da doença;
- Diminuição da eficácia das medidas sociais e de saúde pública ou diagnósticos, vacinas e terapias disponíveis.
"É quando você tem mutação e um comportamento ruim. Além de mutações, que geralmente são na proteína spike, você tem surtos, registro aumentado de casos por conta de circulação. É como a gama foi no Brasil, responsável por centenas de milhares de óbitos", diz Alexandre Naime, infectologista e professor da Unesp (Universidade Estadual Paulista).
No caso da ômicron, ela entrou para essa categoria porque fez a curva do número de casos subir na África do Sul, além de ter uma quantidade desproporcional de mutações —são 50 alterações genéticas— se comparadas às outras.
Entretanto, ômicron provocou apenas sintomas leves até o momento. "Foram poucos casos avaliados até agora, então não dá para fazer uma afirmação dizendo que a variante só causa casos leves e assintomáticos. Se isso se comprovar, foi sorte, não é uma evolução do vírus. O vírus não evolui para ficar menos agressivo. A evolução é acaso. Se for o caso da ômicron, foi sorte. Eu espero que tenhamos tido essa sorte, mas ainda não dá para saber", diz Natalia Pasternak, doutora em microbiologia pela USP e presidente do Instituto Questão de Ciência (IQC).
Um estudo preliminar realizado por cientistas da África do Sul mostrou que essa variante tem um risco de reinfecção 2,4 vezes maior. Mas a OMS alertou que o mundo não deve entrar em pânico com variante ômicron, mas, sim, ter cautela e se preparar para lidar com ela.
Variantes de interesse
Uma variante é considerada de interesse se, em comparação com a variante original:
- Tiver sido identificada como causadora de transmissão comunitária, de múltiplos casos ou de clusters (agrupamentos de casos) de covid-19 ou tiver sido detectada em vários países;
- Tiver alterações genéticas que são previstas ou conhecidas por afetar as características do vírus, como transmissibilidade, gravidade da doença, escape imunológico, escape diagnóstico ou terapêutico.
Atualmente, apenas duas variantes são classificadas como de interesse: lambda (detectada em dezembro de 2020 no Peru) e mu (detectada na Colômbia em janeiro deste ano).
Variantes sob monitoramento
Aqui estão as variantes com alterações genéticas suspeitas de afetar as características do vírus e com alguma indicação de que pode representar um risco futuro. Entretanto, nesses casos, a evidência de impacto fenotípico ou epidemiológico não está clara, exigindo monitoramento aprimorado e avaliação repetida até novas evidências.
Segundo a OMS, espera-se a compreensão dos impactos dessas variantes possa evoluir rapidamente, de forma que elas são prontamente adicionadas/removidas dessa classificação, podendo se tornar de interesse ou não serem significantes.
Entre as nomeadas pela OMS, nesta classificação estão as variantes capa, iota e eta.
Categoria que ainda não apareceu
De acordo com Naime, ainda há uma quarta categoria, que felizmente ainda não apareceu. "Seria o 'demônio', uma categoria de alta preocupação. Além de ser altamente transmissível, é mais letal", diz. Segundo o professor, o Sars-CoV-2 tem mortalidade média de 1%. Para entrar nessa categoria, uma variante precisaria ter algo como 5% de taxa de mortalidade. "Não surgiu ainda e não parece que vai ser a ômicron. No caso dela, o número de casos está subindo, mas não óbito e internação".
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