Coronavírus: dose de reforço com intervalo menor pode fazer mal à saúde?
O Ministério da Saúde anunciou, em novembro, a redução do intervalo na aplicação das doses de reforço contra o novo coronavírus (Sars-CoV-2). Antes, a aplicação era feita após seis meses de completar o esquema vacinal; o órgão, então, antecipou para cinco meses e liberou a imunização para todos os adultos acima dos 18 anos.
Até então, a estratégia de imunização previa o reforço apenas para indivíduos acima de 60 anos, profissionais da saúde e os imunossuprimidos após seis meses da aplicação da segunda dose do esquema vacinal original.
Diante disso, o governo do estado de São Paulo resolveu reduzir ainda mais o intervalo e liberou a aplicação do reforço após quatro meses. A decisão, no entanto, não teve base científica, de acordo com o imunologista Gustavo Cabral, colunista de VivaBem.
"É uma decisão política, nada científica. Não tem necessidade. Ideia era que fosse em 6 meses. Aí vem o Ministério da Saúde falar que precisamos levar em consideração 5 meses pelo possível decréscimo da imunidade. A gente até compreende, embora não seja preciso", afirmou. "Não vai fazer diferença. Agora tem resposta do governo do estado. Vamos para 4 meses. Fica bem claro que é briga política. Não está levando em consideração análises científicas."
Ele também alertou que essa decisão afeta a equidade do PNI (Programa Nacional de Imunização): "A gente está destruindo o PNI, que busca equidade, por isso ele é tão maravilhoso. São Paulo está com 75% da população vacinada, enquanto vemos Amapá, por exemplo, que está na casa dos 30%. Isso é um apartheid vacinal, é uma briga para ver qual estado vacina primeiro", acredita.
Efeitos na saúde
Uma dúvida que tem surgido é se essa redução no intervalo da dose de reforço pode provocar algum prejuízo para a saúde. Mas esse não é o caso. "Não há risco nenhum para a saúde, mas também não temos evidências de ser mais benéfico", avalia o médico Renato Kfouri, diretor da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações).
Para Alexandre Naime, infectologista e professor da Unesp (Universidade Estadual Paulista), a antecipação para quatro meses não faz mal à saúde e não é inédita, já que o Reino Unidos, por exemplo, diminuiu o intervalo da dose de reforço para três meses para tentar frear o avanço da variante delta.
"É preciso levar em conta ainda a proximidade das festas de fim de ano, quando sabemos que as famílias se encontram e vão aglomerar", avalia o especialista. "Pensando assim, o reforço antecipado é uma tentativa de aumentar a proteção no período", afirma. Esta, aliás, foi a justificativa do governo paulista para manter a redução do intervalo.
No entanto, ele reforça que os estudos científicos feitos com os imunizantes de fato foram feitos com intervalos maiores. "Nesse caso, é preciso pesar os dados científicos disponíveis e avaliar ainda as necessidades pensando em estratégias de saúde pública", afirma.
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