Aprovados pela Anvisa, remédios para tratar covid-19 ainda são pouco usados
No Brasil, seis medicamentos já foram aprovados emergencialmente para o tratamento da covid-19 pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Na maioria dos casos, são indicados para pacientes internados em hospitais e em situações bem específicas. Em geral, os custos são mais altos e nenhum deles está disponível na rede pública.
De acordo com os hospitais consultados por VivaBem, o avanço da vacinação no país e, consequentemente, a redução de números de casos e mortes, diminuiu a necessidade de uso desses remédios nas instituições. Com poucos pacientes internados, não há tanta oportunidade para administrá-los.
Veja quais são os medicamentos:
- Rendesivir, do laboratório Gilead: antiviral injetado, indicado apenas para pacientes com pneumonia que precisam de oxigênio extra para ajudá-los a respirar, mas que não estejam sob ventilação artificial.
- Regkirona, anticorpo monoclonal da Celltrion Healthcare: a indicação é somente para pessoas com covid leve ou moderada, sem necessidade de suplementação de oxigênio, com alto risco para progressão da doença.
- Banlanivimabe e etesevimab, anticorpos da farmaêutica Eli Lilly: a orientação é apenas para pacientes com formas leve a moderada da doença, com alto risco de piora do quadro.
- Baricitinibe, também da Eli Lilly: indicado para pacientes adultos hospitalizados que necessitam de oxigênio por máscara ou cateter nasal, ou que necessitam de alto fluxo de oxigênio ou ventilação não invasiva.
- Regen-Covi (casirivimabe e imdevimabe), anticorpos monoclonais das farmacêuticas Regeneron e Roche: para quadros leves e moderados de covid-19, com alto risco de progredir para formas graves da doença.
- Sotrovimabe, da empresa GlaxoSmithKline: orientação é para casos de leve a moderado em pacientes que estão em risco de progressão para o estágio grave da doença.
Como está o uso nos hospitais brasileiros?
VivaBem tentou contato com oito hospitais para saber se teria ocorrido a compra de algum dos fármacos, sobretudo os de grande porte localizados em São Paulo, como Sírio-Libanês e Albert Einstein, além da Rede D'Or. A maioria limitou-se a dizer que não poderia colaborar ou dar mais informações. Outros foram enfáticos em dizer que não usaram os medicamentos.
Apenas dois confirmaram o uso e toparam conversar com a reportagem: o Hospital Alemão Oswaldo Cruz (SP) e o Hospital Moinhos de Vento (RS).
Médicos citam remédios de alto custo
De acordo com Alexandre Zavasck, chefe do serviço de infectologia do Hospital Moinhos de Vento, a instituição ainda não teve a oportunidade de utilizar os medicamentos, embora o local tenha realizado a compra de alguns —sem especificar exatamente quais.
"Alguns, de uso ambulatorial, como os anticorpos monoclonais, não chegamos nem a montar a estrutura necessária para a administração em pacientes. Esses anticorpos mostraram redução na taxa de hospitalização, mas os estudos foram conduzidos em voluntários que ainda não haviam tomado a vacina. Talvez esse benefício não seja o mesmo para quem já recebeu o imunizante. Além disso, com os casos graves da doença diminuindo no país, a demanda pelos remédios também diminuiu", avalia o infectologista.
De acordo com o médico, os convênios de saúde ainda não cobrem o uso dos remédios, que, em geral, têm um custo alto. Mesmo medicamentos que já são utilizados para outras doenças, como o baricitinibe para artrite reumatoide. "Está disponível, mas os planos não cobrem", diz.
No Hospital Alemão Oswaldo Cruz, conta o médico Filipe Piastrelli, há um comitê institucional, do qual fazem parte médicos de diferentes especialidades, que ajudam o hospital a decidir pela compra —ou não— de cada uma das drogas.
"Alguns foram aprovados pela Anvisa com indicação específica contra a covid-19 e outros estão sendo usados de forma off label [remédios indicados para outras doenças, mas que demonstraram bons resultados contra a covid-19 em estudos, ainda fora da bula]. Não são todos de uso universal —requerem indicações muito precisas e precisam de uso individualizado", explica Piastrelli.
Sobre indicação dos remédios, ele disse que há uma conversa entre médico, paciente, ou familiar. "Dependendo do paciente, se é de um grupo que não foi analisado nos estudos, e os medicamentos não são isentos de risco, podem gerar trombose ou infecção, por exemplo", esclarece o infectologista e coordenador do Centro Especializado em Tratamento Pós-Covid-19 do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
Na instituição, há histórico de uso de alguns fármacos, como o rendesivir e baricitinibe, em poucos pacientes. "Mas nem sempre a gente encontra o paciente na janela ideal para aplicação do medicamento", explica o médico.
No entanto, ambos os profissionais avaliam que, nos hospitais onde trabalham, o uso foi feito em grupos muito pequenos para que haja uma avaliação confiável em relação aos efeitos proporcionados pelas drogas.
Grande aposta, molnupiravir está em avaliação
No fim de novembro, a Anvisa recebeu o pedido de uso emergencial da MSD (Merck Sharp & Dohme, conhecida como Merck & Co. nos Estados Unidos e no Canadá).
De acordo com a empresa, o molnupiravir reduziu em aproximadamente 50% o risco de hospitalização ou morte (considerado o objetivo primário do estudo quando os cientistas o planejaram) quando administrado até o quinto dia de sintomas da doença.
O remédio age induzindo mutações na enzima RNA-polimerase do Sars-CoV-2 conforme o material genético do vírus é replicado. Desse modo, ele consegue enfraquecer o vírus e diminuir os danos causados ao corpo. Por ser administrado por via oral, a expectativa é que seja mais acessível do que outros medicamentos.
Nenhum medicamento está em uso na rede pública
A incorporação de qualquer tecnologia nova ou assistência terapêutica no SUS (Sistema Único de Saúde) precisa ser aprovada pela Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias), do Ministério da Saúde.
A comissão auxilia a pasta nas atribuições relativas à incorporação, exclusão ou alteração de tecnologias em saúde pelo SUS, bem como na constituição ou alteração de protocolo clínico ou de diretriz terapêutica.
Até o momento, nenhum dos medicamentos foi incorporado na rede pública —alguns ainda aguardam na fila.
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