Uso inadequado de lentes de contato pode levar a danos graves nos olhos
Quem usa lentes de contato há bastante tempo, muitas vezes acaba negligenciando os cuidados necessários. E o preço pode ser muito alto, já que as lentes ficam em contato direto com a córnea, a membrana transparente localizada na parte da frente do globo ocular que permite a entrada da luz e ajuda no foco.
Em casos mais leves, podem acontecer reações alérgicas provocadas por proteínas da lágrima que se acumulam sobre a lente e em longo prazo sensibilizam o olho.
"Esse quadro costuma ocorrer principalmente em quem abusa do uso e pode levar à intolerância ao objeto, fazendo com que a pessoa nunca mais possa usá-lo", diz Claudia Del Claro, oftalmologista chefe do Setor de Lentes de Contato do Hospital de Olhos de Florianópolis (SC).
Os problemas moderados são ligados à baixa oxigenação da córnea, provocada pelo uso prolongado, sem intercalar com os óculos. Isso acontece porque essa estrutura não tem vasos e sua oxigenação acontece pelo ar. Se isso não ocorrer da forma adequada, pode levar ao surgimento dos chamados neovasos que se desenvolvem sobre essa parte do olho para compensar a falta de oxigênio e podem acabar prejudicando a visão, provocando hemorragias e deslocamento da retina.
Há também o risco de danos em algumas células do olho. Esses problemas podem desencadear diminuição da visão e, em casos extremos, até a necessidade de transplante de córnea.
Atualmente, existem lentes com alta oxigenação, mas mesmo nesse caso é preciso obedecer o período de descarte sugerido pelo fabricante e o tempo de uso diário estipulado pelo médico oftalmologista para não colocar os olhos em risco.
Os quadros mais graves surgem por causa de infecções que podem trazer consequências devastadoras a essa parte do corpo, provocando o surgimento de cicatrizes que limitam a visão e, se forem muito extensas, podem levar ao transplante de córnea ou mesmo à perda do globo ocular.
"Se a infecção for importante, muitas vezes orientamos a não persistir no uso das lentes para evitar o risco de um novo quadro que pode ser muito arriscado", diz Ione Alexim, oftalmologista do Icnesp (Instituto de Ciências Neurológicas de São Paulo) e chefe do setor de oftalmologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, na capital paulista.
Existe um tipo muito grave de infecção que é principalmente ocasionada por um protozoário encontrado na água, a acanthamoeba. "O contágio acontece se o epitélio, a camada mais superficial da córnea, não estiver íntegro, o que pode acontecer se o uso das lentes for inadequado", alerta o oftalmologista João Marcelo Lyra, professor adjunto da Uncisal (Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas).
Perda da visão
Foi o que aconteceu com a dentista Nicole Géo, de Belo Horizonte, Minas Gerais. "O início dos sintomas começou em fevereiro deste ano, mas os primeiros médicos que procurei trataram o caso de maneira inadequada", conta.
Por isso, quando ela finalmente chegou ao diagnóstico correto, o quadro já estava bem grave e ela estava correndo o risco de perder o globo ocular. Então, começou a corrida contra o tempo. "Sentia muita dor e tinha muita fotofobia, por isso não conseguia nem ver televisão ou mexer no celular, minha vida parou por cinco meses", diz.
Ela passou por oito cirurgias e usou muitos medicamentos e tudo isso não dava o resultado esperado. Por essa razão, depois de oito meses a sua médica resolveu congelar sua córnea. Foi necessário um transplante dessa estrutura do olho e até hoje ela não voltou a enxergar e vai precisar de novas cirurgias que podem devolver a sua visão.
Para evitar que o quadro evolua e se complique, como aconteceu com a dentista, é muito importante procurar um oftalmologista diante de qualquer sinal de que algo está errado, como vermelhidão, sensação de areia dentro dos olhos, lacrimejamento, sensibilidade à luz e visão borrada.
Se esses sintomas surgirem durante o uso das lentes, é essencial retirá-las o mais rápido possível. E nada de utilizar medicamentos por conta própria.
Os "10 mandamentos" para evitar problemas com o uso das lentes
- Lave bem as mãos com água e sabão e seque completamente antes de manuseá-las
- Na hora da limpeza e armazenamento, use somente a solução específica para lentes de contato, não soro fisiológico ou água. Faça movimentos de fricção e enxágue diariamente após o uso
- Todos os dias após colocar as lentes nos olhos, despreze completamente a solução multiuso que ficou no estojo e limpe-o com o próprio líquido. Substitua o estojo a cada três meses
- Não use as lentes após seu vencimento (respeite o prazo de validade do fabricante)
- Não durma com as lentes de contato
- Não tome banho de chuveiro ou mergulhe em mar, rio ou piscina com as lentes de contato
- Use colírios lubrificantes próprios para o uso com lentes de contato
- As lentes de contato não substituem completamente os óculos. Alterne diariamente o uso dos dois
- Faça higiene nos cílios diariamente com xampu neutro ou produtos não oleosos próprios para o uso oftalmológico
- As lentes de contato devem ser adaptadas e supervisionadas pelo médico oftalmologista.
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