Trombofilia: ela descobriu doença após aborto aos 4 meses; entenda relação
Michele Pereira, 48, economista, descobriu que tem trombofilia após perder seu primeiro filho com quatro meses de gestação. Na época com 41 anos, começou a pesquisar sobre perda gestacional em grupos de mães em uma rede social e se deparou com o termo "trombofilia na gravidez", achou o nome parecido com "trombose venosa profunda", que causou uma amputação de perna em seu irmão.
"Fui ao médico que fez a minha fertilização perguntando se não valia a pena investigar, uma vez que já havia perdido o bebê, mas ele disse que eu não ia querer ter isso, porque outras pacientes tomam injeção todos os dias. Só que não era uma questão de querer, saber, era um direito meu."
Depois de ouvir do médico que precisaria ter mais abortos para analisar, preferiu buscar outro profissional. Nesse momento, ela já havia gasto mais de R$ 30 mil em fertilização, e desejava seguir com o sonho da maternidade.
Foi quando recebeu a orientação de que o histórico familiar era o suficiente para fazer os exames, que confirmaram a condição genética chamada trombofilia e então pôde iniciar o tratamento com anticoagulante, desde o início da gravidez possibilitando o nascimento de seu segundo filho, Matheus.
Durante a gestação, Michele teve complicações, mas afirma que o acesso a medicamentos foi o mais angustiante. Embora tenha conseguido a autorização do recebimento gratuito pelo governo, o medicamento não estava disponível. Com medo de sofrer outro aborto, recebeu doações.
"Três abortos acho um absurdo, a mãe não tem que passar por esse tipo de sofrimento. Além do investimento financeiro, tem a questão emocional. O medicamento era quase R$ 2.000 por mês, mas o governo só liberou quando meu filho já tinha dez meses de vida. Se não tivesse recebido ajuda, talvez não estivesse aqui para contar esta história."
Para que uma gestante possa receber os cuidados essenciais, é importante que tenha acesso a uma investigação antes da gestação ou no início do pré-natal. A seguir, respondemos dúvidas sobre a condição entre gestantes:
Quais são as principais causas de aborto?
Trombofilias e alterações ginecológicas, hormonais, tireoidianas, autoimunes e infecções, o que torna o assunto complexo necessitando do acompanhamento de um ginecologista obstetra especialista em gravidez de risco e pré-natal rigoroso para avaliar possíveis complicações e contorná-las a tempo.
O que é trombofilia?
Trombofilia é uma condição sanguínea que propicia o desenvolvimento de uma trombose, se não tiver cuidados especiais em situações de risco como na gestação, longas viagens, imobilidade, pós-operatório, obesidade, sedentarismo e tabagismo.
Como prevenir a trombofilia?
Quando não é causada por uma mutação genética, existem fatores de vulnerabilidade para o organismo formar determinados anticorpos que podem favorecer o entupimento de vasos e podem ser evitados, como o uso demasiado de antibióticos em infecções de repetição na infância ou vida adulta e o uso de anticoncepcional.
Como diagnosticar a trombofilia?
Através da análise clínica de um hematologista especialista em trombofilia, que avaliará o histórico pessoal e familiar do paciente, juntamente com os resultados dos exames de sangue. Também é importante que mulheres que tiveram perda gestacional solicitem análise genética de parte do material abortado.
Como investigar a trombofilia?
Segundo o Manual Técnico da Gestação de Alto Risco do Ministério da Saúde, é necessário uma série de condições, dentre elas, três abortamentos precoces inexplicados. Entretanto, especialistas dizem que histórico familiar como hipertensão, AVC (acidente vascular cerebral), trombose e abortamento são o suficiente.
Por que três abortos?
Segundo especialistas, porque são exames caros para prescrever para todas as mulheres sem suspeita, o que geraria alto custo para o paciente e para a saúde pública.
Como tratar a trombofilia?
Depende da gravidade trombofílica da paciente, mas em alguns casos faz-se uso do AAS (ácido acetilsalicílico) associado ao anticoagulante injetável do grupo das heparinas de baixo peso molecular, como a enoxaparina sódica. Por se tratar de uma molécula grande, a hipercoagulação não afeta o sangue do bebê, como acontece com outros fármacos.
Como é o acesso aos medicamentos para trombofilia?
O SUS (Sistema Único de Saúde) deve fornecer gratuitamente os medicamentos para gestantes trombofílicas diagnosticadas e com justificativa médica.
Quais são os riscos da trombofilia na gestação?
Aborto, óbito fetal, trombose, pré-eclâmpsia, eclâmpsia, restrição de crescimento fetal grave e descolamento prematuro de placenta.
Quais são os cuidados com a trombofilia na gestação?
Evitar os fatores de risco como obesidade, sobrepeso, sedentarismo, tabagismo, excesso de alimentos gordurosos, automedicação, estresse e esforço físico além do autorizado. Beber muita água, usar meia elástica, fazer drenagem linfática, quando permitido, e manter o uso do anticoagulante prescrito, sem interrupção.
O que é pré-eclâmpsia?
Pré-eclâmpsia são picos de pressão alta na gestação e a eclâmpsia, a sua forma mais grave, pode gerar convulsões, ambas aumentam o risco de óbito materno e fetal. Nas trombofilias adquiridas têm maior tendência a ter o quadro porque os anticorpos entendem o feto como um corpo estranho e fazem de tudo para interromper a gravidez.
Qual o risco de trombose em gestantes trombofílicas?
A gestação aumenta em quatro vezes o risco de uma situação de trombose, sendo o puerpério responsável por 60% dos casos porque, após 28 semanas de gestação, o próprio organismo produz uma hipercoagulação para não ter hemorragia no parto.
Como diagnosticar a trombose?
Inchaço em uma das pernas, com vermelhidão e dor é indicativo de procurar um angiologista, cirurgião vascular para que possa solicitar exames de sangue, como o D-Dímero, que indica inflamação, e de imagem, como a angioplastia com doppler. Ambos não oferecem risco à gestante. O diagnóstico com doppler é essencial. Sem ele, a taxa de erro é de 50%.
"Vasinhos" e roxos indicam trombose?
A gravidez aumenta a quantidade de varizes. Entretanto, pequenos vasos visíveis ou fragilidade capilar, tendência de microexplosões de vasos se expressando na cor roxa isoladamente não são um problema, mas se associados aos fatores de risco são um sinal de alerta para avaliação médica e melhor tratamento.
Cesárea ou parto normal?
A trombofilia não é indicativa de cesárea, ao contrário, em vista do maior tempo de repouso, o parto normal é aconselhável, contanto que programado para a suspensão antecipada dos anticoagulantes. Exceto nos casos de descolamento prematuro da placenta a fim de evitar hemorragia.
Fontes: Venina Barros, ginecologista obstetra especialista em trombofilia e gravidez de risco, médica e pesquisadora do Hospital das Clínicas de São Paulo; Regina Biasoli, hematologista especialista em trombofilia e gravidez de risco, médica no Hospital Israelita Albert Einstein, Hospital Sírio-Libanês e Hospital Samaritano, todos em São Paulo; e Sérgio Ramos, angiologista e cirurgião vascular, diretor vice-secretário-geral da SBACV-BA (Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular da Bahia), médico no Hospital Dia Itaigara Memorial.
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