Rede complexa no organismo, veias transportam sangue ao coração; saiba mais

As veias formam uma rede muito complexa dentro do organismo humano, parecida com malhas ferroviárias de países como Estados Unidos, China ou Rússia. Se cruzam e se ramificam dos pés à cabeça e, somadas às artérias e vasos capilares, no sistema circulatório, rendem quase 100 mil quilômetros, o suficiente, em linha reta, para dar duas voltas e meia na Terra.

Muitos fatores tornam as veias únicas, tanto que integram um sistema próprio, o sistema venoso. Nelas, o sangue é transportado dos tecidos/órgãos em direção ao coração, e de volta a ele. Já nas artérias é o contrário, o sangue é bombeado do coração para as diferentes partes do corpo, o que garante o fornecimento de oxigênio e nutrientes para todas as células.

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A principal diferença é essa, mas há outras, de pressão, fluxo e válvulas, as veias também são mais difíceis de identificar que as artérias e, quando numerosas e pequenas, costumam não ter nomes.

As mais importantes, sim, foram "batizadas": jugular (pescoço), safena magna, femoral (ambas nos membros inferiores), ilíaca, esplênica, porta (no abdome), cavas (do abdome, cabeça, pescoço e membros inferiores e superiores para o coração) e mesentérica (intestino).

Grandes, medianas e pequenas

Veias grandes são paralelas e correspondentes às grandes artérias (isso para um retorno eficaz do fluxo sanguíneo para o coração) e geralmente compartilham com elas o mesmo nome.

Por exemplo, na cabeça temos a veia temporal superficial, que segue o trajeto da artéria temporal superficial. Enquanto as diminutas e "anônimas" formam redes irregulares e conectam-se às veias maiores. Todas são ainda classificadas, como as artérias, de acordo com o calibre em:

Vênulas: de paredes muito finas, com 0,2 mm a 50 µm —micrômetros— de diâmetro, rendendo uma importante extensão funcional da rede capilar;

Veias de médio calibre: constituem a maioria das veias e têm de 1 a 9 mm de diâmetro. As veias cerebrais e as veias superficiais da cabeça e do pescoço são exemplos de veias de médio calibre;

Veias de grande calibre: apresentam diâmetro de 10 mm ou mais e estão localizadas internamente, a exemplo das hepáticas, renais e pulmonares.

Sandro Cilindro de Souza, doutor em processos interativos entre órgãos e sistemas pela UFBA (Universidade Federal da Bahia) e autor do livro "Lições de Anatomia", afirma que: "85% do volume sanguíneo total fica na circulação sistêmica [que garante oxigenação e nutrição para todas as células], e 15% no coração e nos pulmões. Dos 85%, 64% estão nas veias, 13% nas artérias e 8% nas arteríolas [vasos pequenos resultantes de ramificações arteriais] e capilares."

Algumas superficiais, outras profundas

Dentro do sistema venoso existe ainda mais uma divisão, entre veias superficiais e profundas. As primeiras, na camada subcutânea, muitas vezes, mas nem sempre, são visíveis. "Uma delas, a veia safena magna, mais longa veia do corpo humano, responsável por levar o sangue dos pés, pernas e coxas de volta ao coração, está no sistema superficial, porém, não é visível aos olhos", explica Leonardo Maklouf, médico vascular do HCSG (Hospital Casa de Saúde Guarujá).

Mas depende muito da anatomia, que pode variar de pessoa para pessoa. Em algumas, a própria safena magna, quando fora de seu compartimento habitual, é mais perceptível que em outras. As veias superficiais têm o papel de levar o sangue de volta das camadas exteriores e contam com as chamadas veias comunicantes para desviar grande parte do seu fluxo para as veias profundas. Se estivessem muito dentro não dariam conta de fazer a drenagem adequada.

Agora, as veias profundas se responsabilizam por impulsionar o sangue interior para o coração, com a ação de músculos vizinhos. Eles exercem pressão sobre elas, como os das panturrilhas, ao caminhar e correr.

A maioria das veias, muitas de médio calibre, comuns nos membros inferiores, por exemplo, contam ainda com válvulas de sentido único (ausentes nas veias muito pequenas e nas muito grandes) e que servem para impedir que o fluxo de sangue retroceda.

Problemas não menos graves

É muito mais comum ouvir sobre complicações —muitas vezes sérias— em artérias, mas tanto as veias do sistema venoso superficial como as do sistema venoso profundo estão sujeitas a malformações e doenças que podem piorar se não tratadas. Entre as quais: comunicações anormais (fístulas) entre artérias e veias que podem ou não ser de nascença; veias varicosas (varizes); e inflamação de veias superficiais por coágulos de sangue (tromboflebites).

Maklouf aponta também o risco de coagulação dentro de uma veia profunda (trombose), potencializado pela pandemia do novo coronavírus. O sistema venoso profundo carrega o principal segmento de veias tronculares, dos pés, passando por panturrilhas, joelhos, coxas, região inguinal e abdome até à veia cava inferior, que alcança a região do coração. Se um trombo se desenvolver nesse trajeto e desprender, pode então provocar embolia pulmonar.

Outro especialista, o neurocirurgião Júlio Barbosa Pereira, médico pela UFBA (Universidade Federal da Bahia), afirma que da mesma forma que existe infarto, por artéria obstruída no coração, é possível ter isquemia em veias de pele e tecidos subcutâneos.

"Geralmente os membros inferiores e superiores se destacam, mas em outros locais também é possível. A gente observa que ficar muito tempo acamado pode resultar em escaras, feridas e lesionar veias da parte de trás do corpo, resultando em obstruções e até infecções ósseas, de medula, coluna, crânio."

Proteja-se ou busque tratamento

As veias, quando comparadas às artérias, possuem paredes mais finas e frágeis. Resistência e espessura são para transportar sangue em alta pressão, o que não é com elas, que trabalham sob ritmo menor. Sabendo disso, cuide-se: evite o sedentarismo, banhos muito quentes, longos períodos em pé ou sentado (tudo isso prejudica a circulação), capriche numa dieta saudável e hidratação (o que inclui da pele), faça check-ups médicos regulares e proteja as veias expostas.

Depilação com cera quente pode causar danos, principalmente se já inchadas. Pereira também faz um alerta com relação a idosos com comorbidades e crianças, que têm rede vascularizada muito rica na cabeça, ou mesmo no rosto.

"Precisam ter bastante cuidado com traumas. Uma lesão no couro cabeludo, se não estancada, pode levar a óbito por perda de sangue." É necessário fazer compressa imediata e correr para o hospital.

Nos membros, é importante elevá-los para esvaziar, diminuir a pressão na veia e consequentemente o sangramento.

Também é motivo de preocupação veias saltadas acompanhadas de sintomas como dores, formigamento, calor, coceira e escurecimento. Diferente de veias que se evidenciam em decorrência de muito treino físico, ou emagrecimento, e que são normais, essas podem ser varizes, principalmente se também forem tortuosas e aparecerem em pés e pernas.

Nessa situação, para evitar quadros mais sérios (trombose, flebites, úlceras) devem ser tratadas no cirurgião vascular, que pode indicar medicação, compressão, laser, aplicação venosa e cirurgia.