Ciclo menstrual e exercícios: será que sincronia otimiza a performance?
Em 2016, a nadadora Fui Yanhui, estrela da natação da China, viralizou ao, depois de uma competição em que ficou em quarto lugar, falar em uma entrevista ao vivo sobre como sua menstruação pode ter influenciado o resultado.
"Minha menstruação veio ontem e estava muito cansada —mas isso não é desculpa, ainda assim não nadei bem", falou a esportista que, poucos minutos antes, estava sentada encolhida de dor na beira da piscina.
Assim como Fui Yanhui, algumas pessoas percebem que o ciclo menstrual altera sua disposição física ao longo do mês. Mas essa não é uma regra.
Eimear Dolan, pesquisadora da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), uma das autoras do estudo "Os Efeitos das Fases do Ciclo Menstrual em Performance Esportiva em Mulheres Eumonorréicas: Uma revisão sistemática e metanalítica", diz que essa influência depende muito de indivíduo para indivíduo. "As evidências ainda são muito variáveis", diz.
Dizer, categoricamente, que menstruar diminui a performance pode contribuir com um tabu que leva mulheres esportistas a tomar anticoncepcionais ininterruptamente para não sangrar e, assim, teoricamente, conseguir o melhor desempenho físico.
No entanto, os sintomas e a forma que as fases do ciclo menstrual influenciam na performance são muito individualizados. "Há esportistas que não gostam de competir menstruadas, mas há quem prefira marcar as competições exatamente nessa fase do ciclo", afirma Tathiana Parmigiano, ginecologista e parte da equipe técnica da equipe olímpica do Brasil.
Cada pessoa pode ter um sintoma ou sensação em relação às fases do ciclo menstrual. Por isso, antes de declarar uma guerra à TPM ou ao sangramento em prol do seu desempenho, é preciso, inicialmente, compreender como seu ciclo e exercícios se relacionam.
"O ideal é entender e manter um registro mensal dos sintomas autopercebidos em resposta a essas alterações hormonais em um calendário ou aplicativo para que seu treinador possa te ajudar a criar um plano", fala Karine Garcia, profissional de educação física do Hospital Universitário Lauro Wanderley, da UFPB (Universidade Federal da Paraíba), em João Pessoa.
Porém, de maneira mais geral, a influência da menstruação, da TPM e da ovulação no desempenho físico tem muito a ver com os hormônios que predominam em cada um desses momentos do mês. O ciclo menstrual pode ser dividido, de maneira mais simplificada, em três fases:
1) Período menstrual ou folicular
Uma pessoa costuma ter um ciclo de 28 dias —mas pode acontecer de ser um pouco menor ou maior— que começa no dia em que ela menstrua. Após cerca de seis dias de sangramento há uma queda dos hormônios progesterona e estrogênio. Esse índice pode causar cansaço, baixa energia e cólicas. Atividades moderadas, sejam aeróbicas ou de força, podem ser suas aliadas nessa fase, assim como natação (que ajuda a lidar com as dores) e alongamentos.
2) Ovulação
Após a menstruação, os níveis de estrogênio começam a aumentar e chegam ao pico na ovulação. Esse hormônio costuma ser relacionado ao vigor físico, por isso é comum que a pessoa comece a se sentir mais disposta fisicamente no período pós-menstrual até a liberação do óvulo. Nessa fase, pode ser uma boa opção investir em exercícios que têm maior impacto aeróbico e em treinos de força com maior intensidade.
3) Período lúteo (ou TPM)
Caso aquele óvulo liberado durante a ovulação não seja fertilizado, o nível de estrogênio começa a cair e o de progesterona aumenta. É chegada a fase lútea ou TPM (tensão pré-menstrual). Esse período pode ter sintomas muito diferenciados: há quem sinta muita dor nos seios e no corpo, enquanto outros podem sentir alterações no humor.
O autoconhecimento, aqui, se torna ainda mais importante: "Na TPM, podemos ter ímpetos que são muito interessantes para esportes de contato, por exemplo. Uma agressividade que faz com que impacte positivamente na performance", fala a ginecologista Tathiana Parmigiano. Porém, caso você sinta desconforto, talvez seja o caso de optar por modalidades mais leves, como caminhada e hidroginástica.
Fontes: Eimear Dolan, doutora em fisiologia aplicada e pesquisadora da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo); Karine Garcia, profissional de educação física do HULW-UFPB (Hospital Universitário Lauro Wanderley, da Universidade Federal da Paraíba); e Tathiana Parmigiano, ginecologista e parte da equipe técnica da equipe olímpica do Brasil.
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