Corcunda, cabelos brancos, verrugas: todo mundo envelhece igual?
Como é envelhecer? Essa é uma curiosidade —e preocupação— de muita gente. Por ação do tempo, sobretudo quando mais avançados, será que todos nós ficaremos com visão e audição ruins, pele enrugada, postura envergada?
Médicos de diferentes áreas esclarecem a seguir o que é, ou não, inevitável, mas antes adiantam uma boa notícia para se querer ter longevidade: com os avanços da medicina e da tecnologia, podemos retardar o envelhecimento, ou deixá-lo menos evidente, da mesma forma se adotarmos desde já hábitos de rotina saudáveis.
Isso se traduz em exercitar regularmente corpo e mente, se alimentar direito, socializar, reduzir o álcool e cigarro, ter propósitos, dormir bem, fazer sexo, check-ups e controlar comorbidades.
De acordo com um estudo da Universidade de Duke (EUA), publicado em 2015 no periódico PNAS, é possível ter a mesma idade, mas, por conta da saúde, envelhecer mais cedo (até três anos biológicos por ano cronológico e parecer 20 anos mais velho) e apresentar piores índices de quociente intelectual, equilíbrio e maior risco de demência. Daí o aviso médico dado acima.
Envelhecer varia muito
Com o envelhecimento, um declínio geral é esperado, faz parte da natureza, mas não ocorrerá igual para cada pessoa, que passará pelas transformações de um jeito e no seu ritmo. E, além disso, não é todo idoso que tem acesso a tratamentos.
"No caso dos implantes para perdas auditivas, eles chegam para menos de 5% do total de pacientes que poderiam ser beneficiados por essa tecnologia", informa Andy Vicente, otorrinolaringologista do Hospital Cema (SP).
Thais Helena Bello Di Giacomo, dermatologista do Hospital Sírio-Libanês (SP) comenta sobre a pele: "Nevos (pintas) tendem a diminuir em número e clarear, ao passo que manchas solares, axiomas rubis (pintas vermelhas) e verrugas seborreicas aumentam de tamanho e quantidade. Ainda assim, variam, e só o médico pode dizer se são próprios da idade ou merecem atenção".
Isso vale para alterações oculares, de comportamento, redução de audição e de mobilidade. "Todos vão sofrer alguma perda na qualidade da visão. Porém, parte dos problemas podem ser tratados, desde que diagnosticados corretamente e no momento certo. É o caso de catarata e glaucoma. Entre as doenças que podem causar cegueira, podemos citar retinopatia diabética, degeneração macular e deslocamento de retina", aponta Minoru Fuji, oftalmologista do Cema.
Efeitos podem ser menores
Já que nosso último terço de vida depende muito de nós, Paulo Camiz, geriatra do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), informa que esse é o segredo para não ficar corcunda: "A falta de exercícios abdominais e para costas compromete a sustentação do tronco".
Ou quando ainda não se dá atenção à osteoporose, que pode levar a deformação na coluna e afundamento de vértebras por fragilidade e peso.
Quanto a deformações e tortuosidades em mãos e pés, idem. "Podem ter um componente genético, como uma artrose, mas também aumentar por sobrecarga (entra aí a obesidade) e esforços repetitivos, como no caso de quem tem predisposição para joanete e usa sapato com bico fino e salto alto por muitos anos", lembra Alexandre Stivanin, ortopedista membro da SBOT (Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia) e do Hospital Samaritano (SP).
Já sobre os dentes, Guilherme Lopes, cirurgião-dentista da Clínica Ita, em Salvador, explica que envelhecem, mas a principal causa para perdê-los é a falta de cuidados. Do contrário, dá para manter até o fim vida os originais, que também são essenciais.
"Com o envelhecer, a produção estomacal de ácido clorídrico e de algumas enzimas reduz, o que dificulta o processo digestivo. Logo, ter todos os dentes ajuda bastante, na trituração e na boa absorção dos nutrientes."
O inevitável é generalizado
Quanto ao que todos, ou boa parte de nós, apresentará ao envelhecer, despontam as rugas (mas, de novo, depende de nós. Quanto maior a exposição à radiação solar, poluição, falta de sono, pouca hidratação, maior o número e a profundidade delas), além de despigmentação e rarefação de pelos e cabelos, e perda de firmeza da pele, explica Wendell Uguetto, cirurgião plástico da SBCP (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica) e do Hospital Albert Einstein (SP).
"Orelha e nariz aumentam, pois somam-se a perda de colágeno, flacidez da pele e o efeito da gravidade, então essas estruturas cedem, ficam frouxas. Não tem a ver com crescimento, pois a orelha se desenvolve completamente até os 7 anos de idade e o nariz até por volta dos 15 anos", acrescenta Uguetto, complementado pelo geriatra Camiz: "É um processo diferente dos ossos, que não aumentam com o passar dos anos. Antes, se estabilizam próximo dos 20 anos".
Por falar em esqueleto, ele também tende a ficar mais frágil, mas isso não significa que todos terão osteoporose. De maneira sutil, os idosos perdem massa e densidade mineral e com a desidratação dos discos intervertebrais da coluna, também um pouco da altura.
"A partir dos 40, 50 anos é normal perder 1 cm por década. Sobre visão, é quase 100% a chance de se ter catarata após os 90 anos e, por volta disso, quase 70% terão algum comprometimento auditivo", finaliza o geriatra.
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