Bons resultados: telepsiquiatria teve boa aceitação durante a pandemia
Médicos são quase unânimes (90%) em apoiar a telepsiquiatria como alternativa viável para a prestação de serviços de saúde mental. A modalidade se mostrou eficaz e trouxe bons resultados terapêuticos. Já os pacientes que estavam do outro lado da tela, embora se sentissem satisfeitos com a qualidade do atendimento como forma de garantir acesso aos cuidados de saúde, sentiram a falta de contato físico entre médico e paciente.
A constatação é de um estudo feito com 530 pacientes psiquiátricos sobre novas abordagens médicas como medida emergencial durante a pandemia do coronavírus. A única ressalva é que as emergências psiquiátricas - surtos psicóticos, risco de suicídio, agressividade contra si ou a outros, e intoxicação por uso de álcool e drogas - precisam ser tratadas de forma presencial.
Os resultados desse estudo foram descritos em um artigo, publicado dia 06 de janeiro de 2022 na International Journal of Social Psychiatry.
A pesquisa foi realizada entre os meses de fevereiro e setembro de 2021 na Universidade Nacional de Assunção, Paraguai, e teve a participação do médico psiquiatra João Maurício Castaldelli-Maia, da FM (Faculdade de Medicina) da USP.
A proposta foi avaliar, do ponto de vista médico, a satisfação dos pacientes que utilizavam o serviço de telepsiquiatria, oferecido pelo departamento de Psiquiatria do Hospital de Clínicas da Universidade de Assunção.
Para Castaldelli-Maia, "a telemedicina é uma alternativa viável para a prestação de serviços presenciais de saúde mental e veio para ficar. A pandemia do coronavírus só acelerou esse processo que já vinha aumentando nas últimas décadas porque há uma lacuna entre a demanda e a disponibilidade de cuidados de saúde mental", explica Castaldelli-Maia ao Jornal da USP.
A segurança no atendimento, a possibilidade de suporte médico às pessoas em áreas rurais e/ou remotas e a exclusão do tempo gasto no deslocamento pelo paciente até o consultório ou hospital são outras vantagens mencionadas pelo pesquisador.
Os pacientes envolvidos na pesquisa, como idade entre 18 anos e 75 anos, de ambos os sexos, foram convidados a responder por telefone vinte questões subdivididas nas seguintes áreas: percepção do atendimento telepsiquiátrico; qualidade do atendimento em telepsiquiatria; relação médico-paciente em telepsiquiatria; e confiança no serviço de telepsiquiatria. Os transtornos dos voluntários eram de depressão, ansiedade, transtorno de personalidade borderline, transtorno bipolar, abusos de substâncias, esquizofrenia, distúrbios do sono e outras desordens psicóticas.
Resultados
Dos médicos psiquiatras que prestaram atendimento aos pacientes, 90% consideraram a modalidade online extremamente adequada e 75% relataram que haviam conseguido realizar um bom diagnóstico de saúde mental.
Desses profissionais, 62% mostraram ter preferência por fazer telepsiquiatria em consultas de seguimento, ou seja, antes de começar com as consultas virtuais, deveria haver uma primeira avaliação presencial do paciente.
Do ponto de vista dos pacientes, eles tiveram altos escores de satisfação e segurança com relação a aceitação da telepsiquiatria como modalidade viável para o cuidado da saúde, e menor escore de satisfação com relação ao estreitamento de vínculos médico-paciente.
Segundo Castaldelli-Maia, na linha de apoio à telepsiquiatria já existem estudos de metanálise (estudos que usam dados de vários estudos prévios) que mostram a qualidade de serviços de saúde mental online e que confirmam equivalência nas intervenções por vídeoconferência quando comparadas às realizadas pessoalmente.
Para emergências psiquiátricas, atendimento presencial
Castaldelli-Maia reconhece que o diálogo direto com o paciente - o olho no olho - proporciona melhor exploração de sinais não verbais, sintomas e manifestações laboratoriais.
"Logo no primeiro encontro, se estabelece uma interação de acolhimento que proporciona ao paciente maior confiança e possibilidade de abertura para conversar e mitigação do sofrimento", porém, essa questão precisa ser contornada, diz.
A telemedicina não irá substituir totalmente a consulta presencial, mas é favorável à incorporação das novas tecnologias na psiquiatria pela facilitação do acesso aos serviços de saúde e a modalidade ser mais viável para pessoas com dificuldades de locomoção e populações isoladas geograficamente.
Castaldelli-Maia também lembra das emergências psiquiátricas - surtos psicóticos, risco de suicídio, agressividade contra si ou a outros, e intoxicação por uso de álcool e drogas - que não podem ser tratadas via telepsiquiatria. Nestes casos, o paciente é solicitado a comparecer presencialmente ao consultório para acolhimento, avaliação e prescrição de medicamento, caso seja necessário.
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