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Atleta russa diz que comida ruim a deixou doente e deprimida; faz sentido?

Atleta revela comida horrível na Olimpíada de Inverno: "Choro todo dia" - Reprodução/Instagram
Atleta revela comida horrível na Olimpíada de Inverno: "Choro todo dia" Imagem: Reprodução/Instagram

Bruna Alves

Do VivaBem, em São Paulo

08/02/2022 18h18

A biatleta russa Valeria Vasnetsova, que está em Pequim para os Jogos Olímpicos de Inverno, mostrou nas redes sociais a marmita "impossível de comer" que tem recebido nos últimos cinco dias no café da manhã, almoço e jantar.

Vasnetsova revelou que tem passado muito mal com a refeição. "Meu estômago dói, estou muito pálida e tenho olheiras enormes nos olhos. Choro todos os dias. Estou muito cansada", escreveu.

O sofrimento da atleta por causa da "marmita feia" tem explicação. Segundo Frederico Porto, médico psiquiatra pelo Hospital das Clínicas da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), nutrólogo e professor convidado da Fundação Dom Cabral (MG), para se ter uma boa digestão é preciso comer tranquilo e ingerir uma comida agradável preencha os nossos sentidos.

Por outro lado, uma refeição não atraente pode fazer com que a pessoa perca peso, já que há dificuldade de ingestão e, em alguns casos, até deixá-la deprimida.

Outro ponto importante refere-se à falta da variedade alimentar. Esse hábito pode fazer com que não haja o devido aporte de todos os nutrientes necessários.

Comida ruim dá fome?

O sistema digestório está diretamente ligado ao cérebro, tanto de ponto de vista comportamental (emocional e psicológico) quanto do neurológico, químico e fisiológico. Inclusive, nós temos papilas gustativas e neuroreceptores na boca e ao longo do trato gastrointestinal que levam mensagens ao cérebro.

"Se visualmente não é algo satisfatório ou agradável, as áreas do cérebro recebem a mensagem de que aquilo ainda não respondeu às expectativas e, muitas vezes, a vontade de comer ainda persiste", diz Mariana Melendez Araújo, nutricionista, especialista em nutrição clínica e esportiva, mestre e doutoranda em nutrição humana pela UnB (Universidade de Brasília), pós-graduada em pesquisa clínica pela Harvard Medical School e conselheira do CRN-01 (Conselho Regional de Nutrição).

Essa situação é comum quando se faz substituições: a pessoa quer comer um chocolate, mas come uma gelatina, por exemplo. "Ela come e após cinco minutos a vontade não passa, provavelmente, porque não comeu o que queria no momento, no caso, o chocolate", diz. Por isso a recomendação é que as pessoas comam aquilo que é saboroso e que se têm vontade, mas sem exagerar na quantidade.

É importante dizer que um alimento não atraente não impacta a absorção de nutrientes. "É mais um problema comportamental mesmo, de comer algo que você não goste e isso é ruim", diz.

Alimentação saudável também inclui atração pelo prato

A especialista avalia que uma boa alimentação deve ser saudável não só do ponto de vista nutricional. No caso de atletas, a pressão por uma alimentação saudável que melhore o seu rendimento é ainda maior. "A pressão para se alimentar bem já é tão grande que seria interessante que isso fosse aliviado por uma alimentação agradável, também do ponto de vista visual", ressalta a nutricionista.

Ela aponta os principais fatores que devem ser levados em conta na hora da comer:

  • Sabor: a comida deve ser gostosa, atraente, isso ajuda a "avisar"ao próprio corpo que você está satisfeito com o que comeu;
  • Harmonia: um alimento deve combinar com o outro. Nesse quesito entra também a forma como o prato é apresentado. ""Quando você não gosta do aspecto da comida, ela sai do esperado e do conceito de alimentação saudável", diz ela;
  • Equilíbrio nutricional: ela deve contemplar ao máximo os nutrientes essenciais, como carboidratos, proteínas, fibras, gorduras, vitaminas e minerais;
  • Variedade: não devemos comer todos os dias exatamente a mesma coisa justamente para receber o máximo de nutrientes possível;
  • Segurança sanitária: não deve haver toxinas e bactérias que possam causas doenças.