Clareamento íntimo por luz de LED pode causar danos à saúde da mulher?
A vaidade feminina pode ir muito além de um rosto sem marcas de expressão ou um bumbum sem estrias e celulite, e pode englobar também as partes íntimas. Pensando nisso, algumas clínicas de estética têm adotado procedimentos de clareamento íntimo (vaginal, perianal e virilha) por luz de LED que prometem resolver ou atenuar as manchas escuras nessas regiões.
Basta fazer uma busca rápida no Instagram que você vai se deparar com diversos anúncios sobre o tema: é o ramo da estética íntima.
Para começar, precisamos entender que inúmeros fatores podem colaborar para o escurecimento da região íntima: raios solares, depilação com inflamação recorrente dos pelos encravados, atrito com tecidos, atrito com a própria pele (comum em pessoas acima do peso), uso de hormônios, gestações, avanço da idade (independente da etnia) e outras condições.
As áreas mais afetadas por este escurecimento são os grandes e pequenos lábios, o monte pubiano e a região perianal (ao redor do ânus), assim como virilha e também a parte interna da coxa em alguns casos.
Como funciona o clareamento por luz de LED
A luz de LED promove um aumento da hidratação tecidual da pele, podendo atuar na degradação da melanina nas camadas da epiderme, sendo eficaz no clareamento, além de estimular o metabolismo celular, fazendo com que a pele fique mais receptiva a substâncias clareadoras.
No sentido prático, o método age por cristais semicondutores que irradiam ondas de luz que penetram nos tecidos, conseguindo assim promover uma reação fotoquímica que desencadeia um aumento do metabolismo celular do local. Cada cor possui um determinado comprimento de onda, sendo as cores mais utilizadas a vermelha e a azul.
"Atualmente, existem diversos equipamentos para a aplicação da 'ledterapia', sendo que os mais modernos passaram a reproduzir o desempenho do laser no procedimento de clareamento da região genital. Todavia, geralmente associam-se substâncias clareadoras —como ácidos, por exemplo— à tecnologia, para que o resultado seja mais eficaz", explica Giovana Giglio, ginecologista de Osasco (SP).
Contudo, Giglio ressalta que manchas mais profundas e antigas são resistentes ao tratamento e dificilmente clareiam.
Faz mal?
Antes de se submeter ao tratamento, é necessário passar por uma avaliação prévia para se obter uma anamnese (história clínica) completa: alimentação, tabagismo, etilismo, uso de medicamentos e doenças crônicas, assim como um histórico de doenças familiares.
Também é importante realizar um exame físico para que o profissional responsável possa avaliar a localização das manchas, sua profundidade e o tempo de aparecimento delas.
A ginecologista Tarsila Gasparotto, da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo, faz uma distinção sobre as técnicas existentes: "Estamos falando de comprimento de ondas, existe luz visível e luz infravermelha. Nós usamos o laser e radiofrequência, então o laser é um tipo de luz, mas não é LED".
A médica ressalta que como o LED usa ondas que mudam a temperatura local, pode ocorrer, se usado com dosagem ou programação inadequada do aparelho, queimaduras severas com efeito de cicatrizes e retração da região.
"No canal vaginal, a cicatriz vai fazer com que a parede fique em um diâmetro menor, encurtando, e isso pode ser muito prejudicial até para a saúde sexual e futuro reprodutivo", avisa. Sendo assim, é muito importante saber quem é o profissional e qual a confiabilidade de sua formação na realização desse procedimento.
Cesar Nardy, urologista, também da BP, faz ressalvas em relação ao método. Para ele, o clareamento com uso de cremes, pomadas, laser ou LED não é recomendado, e enumera os principais problemas que o procedimento pode gerar: aderências, cicatrizes, infecções e até dispareunia (dor durante o ato sexual).
"O uso de LED para clareamento íntimo não é indicado, e como a uretra fica nessa região, qualquer tratamento que possa causar feridas ou cicatrizes pode trazer prejuízos para a saúde, como irritação e dificuldade para urinar. A uretra fica junto da vagina, o LED age queimando o tecido, a onda de luz bate e acaba queimando, e isso causa a regeneração do tecido, se a queimadura for muito intensa pode irritar a uretra, e no processo de cicatrização ela pode ficar inflamada e a paciente irá sentir incômodo (podendo ser permanente) ao urinar", explica Nardy.
"Quando o tecido cicatriza, ele fica um pouco menor do que o original e mais rígido, e isso pode causar também estenose (estreitamento do canal da urina), podendo causar dificuldades ao urinar", finaliza.
E clareia mesmo?
Segundo a dermatologista Jonnia Sherlock, do Hospital Universitário da UFS (Universidade Federal de Sergipe), ligado à rede Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares), a eficácia do procedimento não é tão precisa, pois depende de frequência de uso, tipo de aparelho, distância em relação à pele, tempo de exposição em minutos e vários outros fatores. "Em linhas gerais, os resultados dependem muito mais de como será conduzido o tratamento", pondera.
Outro fator importante diz respeito a causa do escurecimento nas áreas íntimas, sendo este um processo que se desenvolve ao longo da vida (crônico) e que sofre interferência de alguns agentes já citados anteriormente (hormonais, genéticos e locais).
"Não é uma alteração de fácil resolução, requer a associação de tratamentos, tempo, colaboração do paciente e investimento financeiro" aponta Sherlock. Para ela, a associação do clareamento íntimo por luz de LED com outros métodos (os ácidos aplicados em casa ou peelings), podem auxiliar positivamente no clareamento, porém podem comprometer a segurança da luz de LED, de acordo com a dermatologista.
Além de ser um processo lento, que exige paciência e associação de técnicas, nem sempre é definitivo, pois depende de vários outros fatores individuais. Sendo assim, é fundamental que a mulher faça uma avaliação médica para o diagnóstico dos fatores associados ao escurecimento (origem), para dessa forma ser traçado com segurança o plano de tratamento.
Em princípio, são recomendados entre 3 e 5 sessões, dependendo de cada caso avaliado individualmente, e o custo médio fica entre R$ 500 e R$ 700 reais por sessão.
USP realiza pesquisa sobre comportamento sexual
Para entender o comportamento sexual em diversas regiões do mundo, o IPq (Instituto de Psiquiatria) do Hospital das Clínicas da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), ao lado de outros 45 países, está realizando um grande estudo sobre o tema.
A ideia é examinar diferentes comportamentos sexuais, incluindo aspectos positivos, como a satisfação e o desejo sexual, e os negativos, como os riscos e problemas do funcionamento sexual.
Um dos questionários já está disponível e pode ser respondido até o final de fevereiro de 2022 —qualquer pessoa a partir de 18 anos pode participar: clique aqui para responder ao questionário.
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