Pandemia aumentou a pressão arterial dos norte-americanos, aponta estudo
Beber demais, dormir de menos, estresse aumentado, falta de atividade física e de cuidados médicos regulares durante a pandemia da covid-19 levaram ao aumento da pressão arterial dos norte-americanos. A constatação foi observada por pesquisadores da Cleveland Clinic e da Quest Diagnostics, e divulgada em uma carta científica publicada no periódico Circulation.
Para chegar a essa conclusão, os autores examinaram os dados cadastrados em programas de bem-estar que monitoram a pressão arterial e outros indicadores de saúde de cerca de 465 mil moradores de 50 estados americanos, além do distrito federal. Os indivíduos avaliados apresentavam tanto uma pressão arterial normal quanto elevada no início da pesquisa.
Embora os dados tenham mudado pouco entre 2019 e os três primeiros meses de 2020, a partir de abril houve um aumento significativo, que seguiu até dezembro, em comparação com o ano anterior. Em valores, a variação média mensal da pressão arterial sistólica (contração do coração e envio do sangue para o corpo) passou de 1,10 mmHg (em 2019) a 2,50 mmHg (em 2020). No caso da pressão arterial diastólica (repouso do coração, com a passagem do sangue), foi de 0,14 para 0,53.
Alerta para o Brasil
Assim como nos Estados Unidos, no Brasil também houve mudanças no comportamento da população durante o isolamento pela pandemia, com o aumento do consumo de bebidas alcoólicas e a falta de atividade física. Essas alterações na rotina podem ter contribuído com um aumento da pressão arterial dos brasileiros também, segundo Carlos Alberto Machado, cardiologista.
"Não temos dados, mas certamente por aqui também houve um aumento da pressão arterial", afirma o especialista, que também é assessor científico da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp).
O abandono dos cuidados médicos no período é outro fator que chama atenção para a saúde cardíaca. "Apesar de ter uma atenção básica muito melhor que nos Estados Unidos, com quase 40 mil Unidades Básicas de Saúde (UBS) no país inteiro, durante a pandemia foi priorizado o atendimento dos pacientes respiratórios. Muitos doentes com hipertensão e diabetes ficaram em casa e não procuraram o médico com medo de se contaminar", explica.
Machado explica que pequenas alterações na média da pressão arterial, como as apontadas no estudo, são suficientes para aumentar - ou diminuir - os riscos de eventos cardiovasculares.
Uma meta-análise que examinou 61 estudos no mundo, com mais de um milhão de adultos, cita o especialista, identificou que uma redução de 2 mmHg na pressão arterial sistólica média reduz a mortalidade por doença do coração em 7% e por AVC em 10%. "Outra meta-análise que avaliou quase 600 mil pacientes mostrou que uma redução de 3 mmHg na pressão arterial diastólica reduz o risco de AVC de 22% a 29%, e de doença arterial coronariana de 13% a 17%", afirma o cardiologista.
"Essa pequena variação apresentada no estudo, em termos de aumentar a mortalidade por infarto e AVC, é extremamente importante, sem contar internação e comprometimento da função renal. O grande problema é que a hipertensão é assintomática", alerta Machado.
Riscos e recomendações
A hipertensão, se não tratada, pode danificar diversos órgãos, como coração, cérebro, rins e olhos, além de prejudicar a função sexual. Também pode agravar a saúde de pessoas infectadas com o novo coronavírus. "O paciente hipertenso, geralmente, é obeso, diabético e dislipidêmico (colesterol elevado). Ele tem um pacote metabólico. Por isso, é um fator de risco", diz o cardiologista.
Diminuir o consumo de sal, praticar atividade física regularmente, manter o peso dentro do normal, abandonar o tabagismo e evitar a ingestão de bebidas alcóolicas são algumas das recomendações para conter o aumento da pressão arterial. "Além de tomar remédio, se necessário. São medidas não somente para viver mais, mas para ter qualidade de vida", enfatiza.
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