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Longevidade

Práticas e atitudes para uma vida longa e saudável


Idoso com animal de estimação; entenda os cuidados necessários

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Imagem: iStock

Marcelo Testoni

Colaboração para VivaBem

11/02/2022 04h00Atualizada em 14/02/2022 16h12

Gato, cachorro, periquito, independentemente do tipo de bichinho de estimação, saiba que eles podem fazer muito bem à saúde, principalmente do idoso. A presença deles por perto, de acordo com diversos estudos científicos, ajuda a combater solidão e prevenir depressão. Igualmente estimula o senso de utilidade, responsabilidade e até aumenta a interação social.

Já percebeu como passear com pets atrai olhares curiosos e favorece o contato entre pessoas?

"Animais domésticos proporcionam alegria, afeto, bem-estar e ajudam muito em terapias, com pessoas internadas, em tratamento de doenças físicas, mas também psicoemocionais. Diminuem ansiedade, estresse e contribuem para a liberação de endorfina e serotonina, que influenciam positivamente vários sistemas do organismo", explica Luiz Scocca, psiquiatra pelo HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).

De acordo com ele, em concordância com demais especialistas ouvidos por VivaBem, por isso também não se pode falar em idade limítrofe para parar de ter companhias de quatro patas, ou, quem sabe, de asas, barbatanas, por perto.

No entanto, não significa que cuidados não devam ser pensados, discutidos e tomados visando a convivência segura e harmoniosa entre idosos e pets. São muitos pontos a se considerar, inclusive para não prejudicar as mascotes.

Como em toda relação, há riscos

gato no veterinário, animal de estimação - Getty Images - Getty Images
Imagem: Getty Images

Quando se trata de alguém mais velho é preciso se guiar pelas transformações e limitações inerentes a essa fase. Segundo Marcelo Cabral, geriatra do Hospital Esperança Recife, da Rede D'Or, com a imunossenescência, ou seja, o envelhecimento associado ao progressivo declínio da função imunológica, há um consequente aumento de suscetibilidade a quadros infecciosos —além de redução da resposta vacinal, doenças autoimunes e câncer.

"Nesse sentido, é necessário se atentar a animais que têm acesso à rua e não frequentam o veterinário. Principalmente se o tutor tem por hábito deixá-los dormir na cama e lamber seu rosto. Mas se for um pet totalmente domiciliar, o risco é menor", aponta Cabral, que também alerta sobre o potencial alérgeno dos pelos de alguns cães e gatos para os idosos.

Dados de 2017, do 44º Congresso Brasileiro de Alergia e Imunologia, apontam que entre 5% e 10% de homens e mulheres com mais de 60 anos têm algum tipo de alergia e que rinite alérgica é um dos principais motivos de consultas em ambulatórios e consultórios. Asma e tosse aparecem logo na sequência.

Como os olhos se modificam com a idade, tornando-se mais secos, também estão propensos a fatores irritativos que podem cursar com inflamações de pálpebras (blefarite), úvea (uveíte) e conjuntiva (conjuntivite).

A pele, da mesma maneira, mais fina, ressecada e sensível no último terço de vida, fica sujeita a coceiras, dermatites e lesões por qualquer esbarrão ou arranhão.

Natan Chehter, geriatra pela SBGG (Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia) e da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo, fala ainda dos perigos para idosos com mobilidade, visão e audição reduzidas: "A exemplo de escorregões (em sujidades e brinquedos do pet, por exemplo), além de tombos e fraturas, quando não se percebe o bicho no caminho, ou por ele querer brincar, pular estando agitado, mais agressivo —motivos dignos de receios."

Dá para garantir segurança

Casal de idosos com pet, bicho de estimação, cachorro - iStock - iStock
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Idoso cujas faculdades mentais estão preservadas, permitindo que tome decisões de forma autônoma, e que se encontre fortalecido e independente para cuidar de si e de outras vidas, não precisa se preocupar tanto.

Mas, de novo, todo e qualquer animal carece de cuidados. Banho, higiene no local em que frequenta, interação, carinho, vacinas, vermífugos, tudo isso não pode ser esquecido. E, para idosos em situação fragilizada, as recomendações excedem.

O geriatra Marcelo Cabral informa que não estando a parte funcional do indivíduo tão boa, o que não necessariamente tem a ver com idade cronológica, é necessário apoio.

"Suporte de terceiros, para levar o animal ao petshop, passear, fazer exames, agachar, pegar no colo, alimentar, ajudar, porventura, a limpar as necessidades que faça ao redor e que aumentam o risco de quedas. Há riscos controláveis. Não precisa deixar de ter, pois a relação criada representa um ganho muito grande. Às vezes, também pode-se escolher um pet que exija demandas mais simples", sugere o geriatra.

O psiquiatra Luiz Scocca complementa que cuidar de um peixe, uma calopsita ou mesmo de um cão ou gato um pouco mais maduros e não tão enérgicos, pode ser menos trabalhoso.

"São detalhes que começam na aquisição ou adoção do pet. É preciso ainda avaliar seu temperamento (se ataca, é possessivo), se vai crescer demais (para permitir ser controlado e não derrubar o dono), exigir atividades físicas intensas e permitir adestramento para evitar problemas futuros."

Não ter animal, só em casos extremos

Idoso, homem, velho com gato, pet, bicho de estimação, animal - iStock - iStock
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Para o idoso não poder ter mais animal de estimação só mesmo se seu estado de saúde estiver muito comprometido, ao extremo, e não houver ninguém disposto em querer assumir por ele o compromisso de cuidar.

Pode ser muito doloroso tanto para o tutor, como para o pet, caso tenham permanecido muitos anos juntos e estejam apegados. Após a separação, há risco de ambos desenvolverem depressão e precisarem de ajuda comportamental e medicamentosa.

Os cuidadores precisam ponderar, ter bom senso e evitar ao máximo que isso aconteça. "Os benefícios em ter os pets ao lado são muito maiores do que não os ter, principalmente em relação aos transtornos de humor. Pacientes oncológicos que recebem visitas hospitalares ou vivem com pets também apresentam melhor resposta à quimioterapia", garante Cabral.

É a mesma opinião do geriatra Natan Chehter: "Pessoas que gostam de animais podem ter melhora de quadros de depressão e demência. A Terapia Assistida por Animais (TAA) ajuda bastante, é positiva. Agora, em casa, vai exigir adaptação e que o idoso esteja satisfeito com a presença desse pet. Para não ter, só se estiver sendo prejudicado, como quando se acidenta, adoece com muita frequência, ou se sente irritado, nervoso, devido a uma doença cognitiva."

Mas varia de caso a caso e mesmo idosos já bastante avançados em anos podem ter seus bichinhos. "Temos aí, como exemplo, Nise da Silveira, psiquiatra alagoana pioneira em saúde mental e que não só introduziu no Brasil o contato com pets como forma de tratamento (seus pacientes podiam cuidar dos que estavam nos espaços abertos do centro em que trabalhava no Rio de Janeiro, estabelecendo vínculos afetivos) como até dedicou um livro a gatos, dos quais cuidou com muito amor até o fim da vida, aos 94 anos", conclui o psiquiatra Luiz Scocca.