É para se preocupar com estudo que relaciona ácido hialurônico e câncer?
Um estudo publicado em dezembro de 2021, na revista científica eLife, apontou uma relação entre o câncer de pâncreas e o ácido hialurônico. A publicação acendeu um alerta na comunidade médica, já que o ácido é comumente utilizado para diversos tratamentos estéticos e é propagandeado pela indústria de beleza em produtos tópicos, como hidrantes e cremes antissinais.
Diante da polêmica e preocupação, a SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia) emitiu uma nota técnica (direcionada a profissionais de saúde) explicando que, a princípio, não há motivo para pânico.
O estudo não fala que se você tomar, passar ou injetar ácido hialurônico você vai ter câncer de pâncreas. De forma nenhuma o estudo diz isso. Marcelle Nogueira, médica dermatologista pela USP (Universidade de São Paulo) e atual assistente do Departamento de Dermatologia Geriátrica da SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia).
O estudo em questão foi realizado em animais (camundongos) e células cultivadas em laboratório, na fase pré-clínica, ou seja, possui o mais baixo grau de evidência científica. Depois disso, ainda existem mais 4 fases de estudos clínicos.
O que foi descoberto?
O estudo mostrou que as células de câncer no pâncreas podem se alimentar do ácido hialurônico, que, vale ressaltar, já é produzido normalmente pelo organismo. Essas células doentes não conseguem se alimentar de proteínas, gorduras e açúcares como as células saudáveis, por não possuírem acesso direto a esses nutrientes.
Em 2017, outro estudo já havia demonstrado que as células do tumor de pâncreas poderiam se alimentar de colágeno. "Porque ela está ali, precisa sobreviver, e pega o que tiver disponível", explica Nogueira, ressaltando que colágeno é proteína, portanto, um "bom alimento" para as células doentes.
Segundo a especialista, que inclusive assinou a nota divulgada pela SBD, a única novidade é que essas células cancerígenas, que se alimentam de colágeno, também podem se alimentar do ácido hialurônico encontrado naturalmente no organismo.
"E mais, todo processo de cicatrização do corpo usa ácido hialurônico, é uma coisa natural", afirma Nogueira.
Vale cuidado com ácido oral
Há três formas de se utilizar ácido hialurônico: tópico (cremes), injetável (preenchedores) e oral, que seria como um suplemento.
No caso dos injetáveis, eles entram no país como medicamento e precisam de aprovação de órgãos reguladores, como a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), aqui no Brasil. O mesmo acontece com os tópicos.
No entanto, para suplementos e vitaminas, de acordo com os especialistas, não é necessário fazer testes de segurança e eficácia. Funciona dessa forma em países da União Europeia, Estados Unidos e em boa parte do mundo.
"Porque eles entram como alimentos e não como medicamentos. Essa é a nossa preocupação com suplementos de ácido hialurônico oral", explica Nogueira. Não há testes de segurança e eficácia. É o mesmo que aconteceu com a melatonina recentemente, foi aprovada no Brasil para formulação de suplementos alimentares.
Nesse sentido, em 2015, um artigo assinado pelo cientista italiano Procopio Simone sugeriu que os especialistas tivessem cautela ao prescrever ácido hialurônico oral em pacientes com histórico de câncer, pois existem receptores para ácido hialurônico nas células neoplásicas.
"Por isso a gente prefere não prescrever ácido hialurônico oral, só se realmente houver necessidade de suplementação", relata a dermatologista. Nunca tome por conta própria, sempre consulte um médico especialista.
Por que esse estudo é importante?
Segundo os especialistas, o câncer de pâncreas é um dos mais difíceis de tratar, e o objetivo do estudo é conseguir novas estratégias de tratamento.
A terapia-alvo, por exemplo, é uma técnica que seria beneficiada com a conclusão de estudos semelhantes. "Se eu sei que uma célula de câncer tem afinidade por uma substância, eu posso "grudar" nessa molécula o meu quimioterápico [que poderia conter ácido hialurônico, por exemplo, no caso do câncer de pâncreas]" explica a dermatologista.
De qualquer forma, ainda é cedo para tirar conclusões desse estudo inicial. "Por isso sugerimos precauções aos colegas dermatologistas, enquanto aguardamos estudos mais esclarecedores", finaliza a médica.
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